terça-feira, 9 de novembro de 2010

Vitória X Democracia

Na quinta-série me candidatei a líder de sala. A função de um líder de sala é, sobretudo, a de ser um exemplo para o resto da classe. Se possível, um CDF. Só com o tempo, no meio do ano, a professora do SOE se deu conta no erro que foi minha eleição. Eu era do fundão. O ano é 1990 e antes dos caras-pintadas de 1992, eu sofri o primeiro impecheament da década. As CDFs da frente foram reclamar que eu não podia seguir como líder de nada. Filava aula, pescava nas provas, perdia as matérias, conversava o tempo todo...
– Quem concorda que ele deve ser deposto do cargo? – perguntou a professora do SOE.
Noventa por cento da sala levantou a mão.
– Vamos ter outra eleição pra líder – finalizou ela. – Quem se candidata?
Eu fui o primeiro a levantar a mão.
A professora riu. As CDFs protestaram. A professora disse:
– Vivemos em uma democracia. Ele pode se candidatar, sim, cabe a sala votar com consciência. A eleição é na próxima terça.

Passei a semana em campanha. Consegui alguns eleitores de volta e o resultado foi empate com uma CDF. Em terceiro lugar um outro estudioso. Pra desempatar, a professora perguntou a turma toda:
– Quem vocês preferem?
A CDF ganhou. Os eleitores do estudioso aderiram a ela.
Perdi o cargo, mas na quinta série, aos 10 anos de idade, aprendi o que é democracia. E que com ela tudo flui muito melhor.

Hoje, com mais de um século de vida, tá na hora do Vitória aprender isso também.
Daqui a um mês, no dia 09/12/10 teremos eleição no clube e o Vitória será o primeiro clube do Nordeste onde o sócio-torcedor poderá votar. Porém, a diretoria não tá muito a fim de divulgar esse direito, mas Franciel, um torcedor do fundão, fuçou as coisas e criou o movimento Somos Mais Vitória, onde os associados se cadastram para juntos reivindicar, como torcedores, o poder de decisão nas escolhas que o clube fará na gestão que vem aí. Acesse www.somosmaisvitoria.com.br e faça sua parte. É seu direito e também seu dever.

P.S: Muitos blogs de torcedores do Vitória aderiram a essa causa hoje. Segundo Franciel, é um blogaço. Alguns deles:

Se liga torcida! - Fábio Monteiro
Por Um Vitória Forte - Larisssa Dantas
É hora do torcedor fazer história - Franciel Cruz
Eleições no Vitória terá a participação da torcida - Dalmo Carrera
Por um Leão mais forte! - Rogério Silveira

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Vitória X Vasco (uma vez freguês, sempre freguês)

Minha mulher tá jogando pesado contra minhas idas ao Barradão nesse ano de 2010. Usa nosso filho de 10 meses como centro-avante.
– Se você for pro jogo, vai perder de ver ele dando risada no pula-pula... – diz ela.
– Mas nesse o jogo eu tenho de ir...
– Por quê?
– O time precisa de mim.
O time precisava que os torcedores fossem ao estádio no jogo contra o Vasco. O momento é delicado, a torcida tinha de ir. E, como sempre, fez sua parte e foi, mas os responsáveis pelo circo, como sempre, também fizeram a parte dele. VA TOMAR NO CU DO CARALHO DA DISGRAMA DA PUTA QUE PARIU DA CARNIÇA... POR QUE, MEU DEUS, QUE TODO JOGO PRA ENTRAR NO BARRADÃO É PRECISO SE FUDER?
A diretoria do clube está humilhando o seu torcedor com esse tratamento completamente amador e, sobretudo, irresponsável. Idosos e crianças, no sol de 15h, de um feriadão, presos, esmagados numa fila cercados por concreto, só pra poder torcer pelo time que ele gosta. Era pra ter um tapete vermelho pra recepcionar cada torcedor ao invés de poucos funcionários despreparados. Deviam dizer “entrem, meus queridos, sem vocês não somos nada, sejam bem vindos” e não espremê-los e barra-los porque eles erraram de portão graças a desorganização da diretoria.
Um amigo meu disse “o problema é que eles sabem que somos um povo pacífico, sabem que aqui a massa tem medo de se descontrolar...”. Ainda assim, filmo essas cenas sempre atento a uma possível explosão violenta. Do jeito sucessivo que o torcedor do Vitória tá sendo tratado no Barradão, infelizmente a qualquer momento algo grava vai acontecer.

Gil, um amigo meu vascaíno, foi comigo. Quando o Vasco ganha do Vitória, o que é muito raro, Gil fica todo serelepe, mandando e-mails irônicos, apenas menos humilhantes que a entrada do Barradão.
– Se seu Vitorinha perder ou até mesmo empatar esse jogo, pode desistir, já era... – dizia ele, irritante e ainda confiante.

Pegamos o engarrafamento habitual e já fora do carro, indo em direção ao estádio, um a zero Vitória. Adailton.
Gil, nervoso, se pôs a colocar o seu fone de ouvido. Parecia que precisava de uma comprovação da rádio para saber de fato que a humilhação já estava começando.
– Você vai entrar mesmo? – perguntou Marcelo, outro amigo meu (esse rubro-negro).
– Vou, Vasco é Vasco – disse Gil, confiante numa virada.
Entramos no estádio depois de 15 minutos. Gil foi pra sua torcida, eu e Marcelo fomos pra nossa e o Vitória, mesmo vencendo, foi pra cima do Vasco. Num corte simples e eficaz, Elkerson deixou um vascaíno no chão, ficou de frente pro gol, chutou, o goleiro do Vasco achou que dava pra deixar a mão mole, mas estava enganado. Dois a zero.
“Vasco é Vasco”, lembrei da frase de Gil.

A torcida do Vitória cantava. Trinta e quatro mil vozes colocando seu time pra frente. Queria mais, pois só ganhar o jogo não bastava. Era preciso ganhar a auto estima. A fase final no campeonato vai ser das mais difíceis.

Filmando a torcida vibrando, não vi nem pude registrar o terceiro gol do Vitória. Neto Coruja. Três a zero no primeiro tempo.
– Hoje vai ser cinco a um – dizia um torcedor do meu lado, com cinco bolas de soprar na mão.
De longe, com a câmera, procurei Gil na torcida do Vasco, mas não o encontrei.
Segundo tempo começou e o Vasco, sem mais nada a perder, foi pra cima. Perdeu duas chances de gols seguidas, com Viáfara fazendo seu milagre diário, mas na terceira tentativa, em menos de cinco minutos, o Vasco fez um golzinho. Cobrança de falta, jogada ensaiada, meio xumbrega, o cara veio de trás, cabeceou e gol. Procurei Gil de novo pra ver se o flagrava em um momento de felicidade, mas de novo não o encontrei. Após o gol, o Vasco ganhou fôlego e continuo indo pra cima.
– Se tomar o segundo, fudeu – dizia uma torcedora gordinha atrás de mim.
Mas goleada boa é assim. O time faz três a zero, o outro faz um, pensa que vai dar, mais aí toma o quarto. Junior. Passe peculiar de Elkerson e chute certeiro de Junior. Quatro a um.
No final, o Vasquinho fez um gol de falta, mas nem os jogadores, nem o técnico e nem o resto dos vascaínos arrombados que ainda estavam no estádio comemoraram. Gil também não comemorou, disse-me ele depois do jogo.

Para ver o vídeo de quase tudo que foi dito acima, clique aqui*.


Fim de semana que vem o jogo é contra o Cruzeiro. Após vencer o jogo contra minha esposa, estarei lá. Que a organização pra entrar no estádio também esteja.
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*Vídeo em processo de upload.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Vitória X Avaí (que aqui virou Jaguaribe)

Desde antes do jogo contra o Santos, na final da Copa do Brasil, que não posto nem vídeo nem texto. Nem fiz crônica pra aquela final...
Tenho ido pouco ao Barradão. Fui nos empates xumbregas contra Guarani e Inter e na derrota bizarra contra o Fluminense. Nada disso merecia um vídeo ou um texto.

Sobre a final contra o Santos, um amigo meu disse que no prédio dele, quando o Santos fez o gol, que parecia que ia desabar, tamanho a comemoração e gritos por parte da torcida do Bahia. No fim do jogo e no dia seguinte, comemoravam como um título. Achei até que iriam colocar uma estrela no escudo por causa dessa conquista.
O Esporte Clube Bahia, que outrora já fora um time com uma torcida alegre e leve, hoje tem nela pessoas desesperadas, amarguradas e sem esperança. Vendo meus amigos tricolores, percebo uma desilusão em seus olhos. Leio os textos dos blogs deles e vejo apenas nostalgia. “Ah, como era bom naquele tempo, quando eu tinha cinco anos...”, dizem os textos. Ninguém os vence em melancolia.
Enquanto uns ficam na segunda colocação, outros ficam na segunda divisão.

Não iria ao jogo pois meu filho passou o dia anterior todo gripado. Às 21 horas, minha mulher disse:
- Ele ta melhor. Você ta aí todo ansioso... Vá logo pra esse jogo.
Sai de casa às 21:10 e cheguei ao Barradão às 21:35. Nenhum engarrafamento. Todo mundo já estava dentro do estádio. Chuva da porra! Por causa dele não pude filmar o Vitória indo pra cima do Santos com fome de leão. Devorou e ganhou o jogo. Não ganhou o título, mas não perdeu a honra.

Quanto ao jornal Correio, senhores, a grande verdade é que o único vice da Bahia é o próprio, pois, em toda a sua história, nunca chegou a superar o jornal A TARDE, ficando sempre em segundo lugar. O Vitória, pelo menos, nos últimos 20 anos, vem esmagando o seu rival sucessivamente.

Fui na última vitória do Vitória contra o Avaí. A entrada do Sou Mais Vitória continua a mesma merda de sempre. Inacreditável e lamentável como uma diretoria pode errar nesses pormenores.
Para ver o vídeo do jogo contra o Avaí e a bagunça do Sou Mais Otário, clique aqui.


Em tempo: Nesse meio tempo, Franciel - victoriaquaeseratamen.wordpress.com - criou o movimento Somos Mais Vitória. Acesse, se cadastre e participe. AGORA.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Vitória x Botafogo (grandes merdas)

Eu nem iria pra esse jogo. Além de ser um domingo chuvoso, eu estava querendo guardar minhas forças e minha concentração para o jogo contra o Santos, na final da Copa do Brasil. Porém, fui convidado pela equipe que está fazendo uns mini documentários sobre as torcidas da Série A – www.brasileiraopetrobras.com.br - para dar depoimentos sobre o Vitória. Gravamos na sexta, no sábado e, pra fechar a coisa, pediram para que eu também fosse ao Barradão no domingo. Minha mulher ficou pirada...

O Vitória tomou um gol quando estava jogando bem, mas pelo menos empatou um minuto depois. O problema é que no minuto seguinte tomou outro gol... E no fim, mais um.
Fiquei mais pirado que minha mulher. Nem eu nem o time estávamos ali. Nem filmar muitos lances eu pude por causa da chuva intensa.

Para ver o vídeo da partida, sem direito aos gols, clique aqui.

sábado, 24 de julho de 2010

Vitória X Goiás (Leão x leoa)

Jogo quarta-feira, às 19:30, é de lascar. A Federação Baiana de Futebol deveria intervir. Chegar pra CBF e dizer que isso é inadmissível. Que jogos como esse prejudicam o torcedor, principal elemento do futebol e, consequentemente, o time. Dizer pra CBF que Salvador está crescendo, porém, para dentro. Aliás, não tá crescendo, ta inchando. Em breve ela irá implodir. Aumentou a quantidade de prédios e carros, mas as ruas continuam do mesmo tamanho. Saí do meu trabalho, na Barra, às 18:30 em ponto, achando, ingenuamente, que chegaria ao Barradão no início do primeiro tempo, por volta dos dez minutos de jogo. Mas peguei engarrafamento na Centenário, no Dique, na Bonocô, na Paralela... Sempre no modo Vitória-Bahia-Vitória-Bahia (primeira-segunda-primeira-segunda) Que porra! Sem falar nos buracos por todo o trajeto. Um amigo meu, Zeca, rubro-negro, uma vez indo ao jogo comentou:
– A NASA antes de mandar o próximo robô pra Marte vai mandar ele pra Salvador, para poder treinar obstáculos nas ruas daqui.

Sempre que estou na arquibancada do Barradão, ouço um “fuéééééééééénnnnn” vindo lá de cima durante os jogos. Ao entrar no estádio para o jogo contra o Goiás, pela primeira vez vi de onde o “fuéééén” vinha e quem era o responsável pela vuvuzela: duas buzinas duplas acionadas por dois cilindros de oxigênio. Mesmo atrasado, parei pra registrar. O barulho de perto é ensurdecedor, mas o dono da coisa (que age por conta própria) disse que não usa protetor de ouvido. Recomendei a ele que passasse em qualquer casa de material de construção e que comprasse um. Custa apenas dois reais e pode salvar a audição dele. Ele disse que ia pensar no caso.

O tempo já marcava 30 minutos do primeiro tempo e desci para as arquibancadas para ver o jogo. No meio da escada, gol do Goiás. Um a zero. Que porra! Terminei de descer, fui no banheiro, mijei e quando saí, encontrei meu pai, que me esperava. Gol do Goiás. Dois a zero. Que porra!

A torcida ficou impaciente. Qualquer toque errado era motivo pra xingar todas as gerações dos jogadores. Discordo dessa reação por parte da torcida do Vitória. Apesar de eu estar apreensivo com os dois gols, sabia que estávamos em casa, que ainda estava no primeiro tempo e que uma reação rubro-negra seria muito provável e até normal. A torcida nervosa e reclamando horrores por causa de um lateral mal cobrado não ajuda em nada.

Junior, coitado, era o mais cobrado. Fora de ritmo, errava passes e não acompanhava as jogadas. A torcida, que esquece facilmente de seus heróis, não queria saber. Pau nele. Mas Junior quase fez o gol de empate, num chutaço de fora da área que explodiu no travessão. Passaria de bandido a vilão em minutos e cairia nas graças da arquibancada. Mas ele não fez. Acredito que o erro foi ele ter começado jogando. Schwenck tá em ótima fase, era pra ser o titular, e Junior, pra pegar ritmo, era pra ter entrado no segundo tempo.

Mas Elkeson estava em campo e, aos 44, depois de receber a bola de Junior, fez um cruzamento caprichado, coisa de quem tem visão diferenciada, colocando a bola na cabeça de Ricardo Conceição. Primeiro gol do Vitória no jogo e primeiro gol dele no Vitória. Dois a um. Fim de primeiro tempo. Aplausos para o time. Uns otários ainda vaiaram.

O segundo tempo começou com o Vitória em cima. Queria o gol de empate. Quase veio com Fernando, numa cobrança de falta sensacional que o goleiro do Goiás defendeu.

Aos 15 minutos de jogo, mais vaias. Ricardo Silva tirou Elkeson do jogo, colocando Schwenck. Fernando também saiu entrando Soares em seu lugar. Agora eram três atacantes.

Aos 25, mais vaias. Dessa vez pro FDP do juiz. Nino sofreu uma falta violenta que o tirou de campo e, possivelmente, da primeira final da Copa do Brasil, mas o deficiente visual do Péricles Bassols Pegado Cortez mandou o jogo seguir.

Schwenck entrou bem no jogo, mas esbarrava no goleiro do Goiás e nos passes errados de Junior. O jogo estava chegando ao fim.
– O Goiás beliscar três pontos aqui é de lascar, viu? – comentei com meu pai.
Justamente nessa hora, Ramon marcou um golaço. Os dois meninos que estavam na minha frente pulavam de alegria. Não viram que o gol tinha sido anulado. Eu que dei a notícia.
– Não valeu, foi anulado – disse pra eles, que se viraram pro campo pra comprovar.
Enquanto os jogadores do Vitória protestavam, rebobinei a fita pra ver o lance. Soares estava impedido e atrapalhou o goleiro do Goiás. Que porra, Soares.

O Goiás continuou tentando nos contra ataques que não deram em nada, fazendo Viáfara recolocar a bola em jogo com extrema rapidez.
– Bora, Vitória, que ainda dá tempo – gritou um torcedor do meu lado.
– Falta quanto? – perguntei pra meu pai.
– Já está nos acrécimos.
E Viáfara pegou a bola e deu um chutão pra frente. O jogador do Goiás foi cabecear de volta, mas sem querer deu um belo passe pra Soares. Se redimiu legal do impedimento de três minutos atrás. Avançou com a bola, chegou na entrada da área e chutou. Dois a dois. Empate com gosto de vitória. Os dois meninos da frente comemoraram mais do que no gol anulado. Só fiquei filmando, pensando “podem comemorar, esse valeu”. Enquanto isso, lá do alto do estádio: FUÉÉÉÉÉÉÉNNNN...


E no final, como todos já viram, o Leão genérico, com raivinha por causa do show de garra do Leão original, quis também dar o seu show. Um paspalho que deve ser execrado do futebol. O Goiás, com certeza, tem crianças na sua torcida, e o técnico, naquela idade, fazer um papelão daqueles, chega a ser mais ridículo que o time do Bahia. Lamentável.

Para ver o vídeo da partida, assim como o show da leoa de Goiás, clique aqui.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Vitória X São Paulo (bye, bye, tabu)

Freqüento regularmente o Vale do Capão, na Chapada Diamantina e, desde que fui lá pela primeira vez, nos idos dos anos 90, fico hospedado no Sempre Viva, um camping-pousada de propriedade de Lili. Lili é nativo do Vale e, além da pousada, também é dono de um mercadinho, de um restaurante, de terrenos e diversos outros negócios. E, como a maioria dos moradores da região, assim como do interior de todo o estado da Bahia, ele não torce nem pro finado Bahia nem pro Vitória.
– Como a imagem que chega aqui vem da parabólica, só captamos o sinal do Rio e de São Paulo, daí nunca vemos os jogos da dupla baiana – justifica ele, que é são-paulino.

Em 2008, ano da volta do Vitória para a primeira divisão do Brasileirão, eu estava indo pra todos os jogos e o time não havia perdido nenhuma partida no Barradão. Até que chegou o jogo contra o São Paulo e eu não pude ir por motivo de força maior. Um cantor do Rio de Janeiro chamado Baia iria se apresentar em Salvador e, pra economizar os custos, viria sem banda, usando músicos locais. Fui escalado pra ser o baterista e um dos ensaios foi justamente no horário do jogo. O Vitória perdeu o jogo e a invencibilidade em casa.

Em 2009 eu estava indo pra todos os jogos e o time não havia perdido nenhuma partida no Barradão. Até que chegou o jogo contra o São Paulo e eu não pude ir por motivo de força maior. Trabalhava numa agencia de propaganda e a equipe de criação teve de trabalhar o fim de semana todo para finalizar uma campanha. Passei o domingo na agencia, ouvindo o jogo pela rádio, ao lado de diversos infelizes torcedores do Bahia. O Vitória perdeu o jogo e a invencibilidade em casa.

Em 2010 eu estava indo pra todos os jogos e o time não havia perdido nenhuma partida no Barradão. Até que chegaria o jogo contra o São Paulo e, mais uma vez, eu não poderia ir por motivo de força maior, pois no mesmo final de semana teria a travessia de Juazeiro, pelo circuito baiano de maratonas aquáticas, nadando pelo rio São Francisco. Há anos que essa travessia não entrava no calendário, mas também há nove anos que o Vitória não ganhava do São Paulo. O último triunfo, por ironia do destino, foi quando Ricardo Gomes, atual técnico do São Paulo, era o técnico do Vitória. O placar foi o acachapante cinco a um. Quando vi que a data da travessia se chocaria com a do jogo contra o São Paulo, optei pelo futebol.

Fui com alguns amigos e fora do estádio, outra ironia. O candidato a deputado federal Juliano Matos distribuía panfletos para os torcedores, fazendo a rua ficar imunda com sua cara sorridente pelo chão. Aí vem a chuva, esses panfletos vão entupir os bueiros, vai alagar tudo e vai ser aquela imundice e aquele caos... A ironia é que esse candidato é do PV (Partido Verde).

Entrei no estádio e percebi uma pequena confusão formada, graças à novidade do Barradão. O setor para a torcida adversária agora tem uma entrada separada e isolada, isso para evitar o confronto direto entre torcedores desordeiros e, principalmente, para que o Vitória possa cobrar preços diferenciados, o que acho coerente. O cara vem torcer contra e paga a mesma coisa? Nada. Não gostou? Não venha. Mas aconteceu que alguns são-paulinos compraram ingressos “normais”, entrando pelas catracas “normais” e, quando viram que não poderiam ir para a sua torcida, tiveram de ser fortemente protegidos pela policia.
– Rá, rá, rá, se descer vai apanhar – gritavam os rubro-negros para os são-paulinos, que olhavam assustados para baixo.

Levar mulher pra estádio é sempre complicado. Ali é um lugar que naturalmente os ânimos já estão exaltados. E levar mulher pra estádio que vai vestida de periguete é pedir pra ser escaldado. Um cara, sem camisa de time, levou a namorada que chegou com duas jabulanis querendo saltar pra fora do pequeno decote e com uma calça colada também com duas jabulanis traseiras querendo pular pra fora. Os rubro-negros esqueceram um pouco os de cima e passaram a gritar “gostosa, gostosa, gostosa”. O cara ficou naquela de “peraí, galera, tá comigo, que é isso?”. A jabulosa e o desavisado saíram de cena e o “rá, rá, rá, se descer vai apanhar”, voltou.
A polícia, evitando que algo violento acontecesse, finalmente deixou que eles entrassem no curral – apelido dado pela torcida do Vitória para a passarela por onde os torcedores adversários passam – mesmo pagando menos, o que irritou muitos rubro-negros.
– Se fosse lá em São Paulo ou a gente voltava pra casa sem ver o jogo ou ia ter de tirar a camisa e ver o jogo com a torcida local, ficando quieto, sem torcer – disse um torcedor puto da vida.

Enquanto os visitantes desfilavam pela passarela, ouviam o coro “au, au, au, vai passar pelo curral”.

Nos posicionamos colado com a torcida adversária. O jogo começou e o Vitória já começou dizendo quem é que mandava ali.
– Bora, Vitória, que dessa vez eu to aqui – moleculava eu, da arquibancada.
E o Vitória tentou com chute de fora da área, de dentro da área, até que num cruzamento primoroso de Egídio, Elkeson pensou mais rápido que o zagueiro paulista e fez um a zero pro Vitória, de cabeça. Rogério Ceni nem se mexeu.

O rubro-negro continuo com fome de gol, mas não marcou. Já o São Paulo, no único vacilo do Vitória, empatou o jogo. Hernanes tabelou com Jean que chutou no canto de Viáfara. Um a um. Os tricolores paulistas e baianos deliraram com o empate.
Mas mesmo com o gol sofrido, o Vitória continuou mandando no jogo e teve chances de ampliar o placar, mas o primeiro tempo terminou um a um.

Depois do intervalo, os dois times voltaram pro campo e Rogério Ceni dessa vez ficaria perto de sua torcida.
“Puta que pariu, é o melhor goleiro do Brasil”, gritavam eles, se esquecendo que o melhor goleiro do Brasil estava do outro lado do gramado.

O segundo tempo começou e o Vitória, de novo, começou mostrando quem é que mandava naquele santuário ali. Logo aos dois minutos de jogo, em outro cruzamento rpimoro de Egídio, Schwenck cabeceou e o goleiro mais chato do Brasil ficou retadinho com o gol sofrido. Dois a um Vitória.
Filmando a cabisbaixa torcida do São Paulo avistei um pobre torcedor do defunto, colado no alambrado. Não ter time pra torcer deve ser uma merda mesmo. Apontei minha filmadora pra ele e fui em sua direção. Ele não percebeu que eu me aproximava. Enquanto eu chegava perto, um torcedor do São Paulo mandou ele vestir uma camisa do São Paulo por cima.
“Com essa urucubaca de time de segunda divisão você vai dar azar”, deve ter pensado o são-paulino, com razão. Cheguei perto dele e quando ele me viu filmando, eu disse:
– O Bahia tá acabado.
A torcida do finado tá muito nervosinha. O cara enlouqueceu.
– Va se fuder, tomar no cu, sou bi...
Ui, ui, ele é bi. E como eu já disse aqui, não tenho preconceito, mas sou hétero.

Logo depois, aos 12 minutos, após uma triangulação mortal entre Schwenck, Elkeson e Ramon, a bola sobrou redondinha pra este último. Rogério Ceni pensou que ele ia mandar a bola pra cá, mas Ramon mandou pra lá... Três a um.
– Esse jogo vai ser cinco a um de novo, esse jogo vai ser cinco a um de novo – gritava um torcedor do meu lado.
O São Paulo veio pra cima e até conseguiu um golzinho muxoxo, mas nada que preocupasse.
Já no fim do jogo, com os tricolores em silencio e sem força, dentro e fora do campo, ouvi alguém gritando:
– Ô, rapaz.
Olhei pra torcida do São Paulo e percebi que era pra mim. Era Lili. Nunca o tinha visto fora do Vale. Queria ter dado um abraço nele, mas o alambrado e a policial colada nele não deixariam. Tinha uma parte rasgada e nos demos a mão.
– Cadê, você, nunca mais foi no Capão – disse ele.
– Porra, Lili, é verdade, é que meu filho nasceu e vou ter de esperar ele crescer um pouquinho pra ir...
Ficamos conversando amenidades e nos despedimos. Mas antes, eu perguntei:
– E você saiu de lá do Capão pra ver o São Paulo perder, hein?
– Porra, com esse juiz aí... – se desculpou ele, sem perceber que o Vitória ganhou porque, talvez, de repente, dessa vez eu fui, e porque, com certeza, Nino Paraíba (esse cara é foda), Elkeson (esse também), Ramon (esse também), Viáfara (o melhor goleiro do Brasil), Ricardo Conceição, Anderson Martins, Wallace, Egídio, Vanderson, Fernando, Schwenck, Neto Coruja, Renato e Renan Oliveira jogaram pra caralho.

Veja o vídeo da partida, com direito a faniquito do torcedor do Bahia, aqui.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Vitória X Atlético PR (filme novo de Xurec)

Saí tarde do trabalho, porém, já sabia que seria assim e por isso meu pai não quis ir comigo ao Barradão.
– Eu que não vou pra chegar lá no meio do primeiro tempo – disse ele.
Quem dera eu chegar no meio do primeiro tempo... Quando eu cheguei, os dois times já estavam dentro dos vestiários.
– Sorte sua, foi um dos piores “primeiro tempo” que eu já vi. O Vitória tá péssimo – me disse um torcedor.
O burburinho era sobre o meia Ramon, que estava mal, sem criar e sem marcar...
– Tá sem ritmo, parado há muito tempo – dizia um.
– Tá velho – dizia outro.
– Se tá sem ritmo ou se tá velho não importa, o que importa é que o Vitória tem de contratar jogador... E urgente – disse um terceiro.

Fui procurar um lugar pra ficar e filmar os lances quando me lembrei da senhora do jogo passado, contra o outro Atlético, o mineiro. A encontrei, porém, onde ela estava tinha muita gente e não conseguiria boas imagens. Desci mais e me posicionei na frente de um pai que estava com sua filha. Ele na faixa dos 45, ela na faixa dos 10.

– O Vitória tá horrível – disse ela, me dando as boas vindas.
Começou o segundo tempo. O Vitória horrível veio pra cima com vontade e quase marcou, mas num contra-ataque quase tomou um gol.
– Devia ter tomado, pra tomar vergonha e acordar – disse a torcedora mirim.
– Fale isso, não... Se fazer um gol tá difícil, imagine dois – disse eu pra ela.
Como estávamos perto do alambrado, ela descia, colava nele e voltava com informações, como se tivesse visto o jogo de um ângulo exclusivo.
– Ramon tá podre, tem que colocar Renan Oliveira e Schwenck. Será que ele não percebe que o ataque é Júnior e Schwenck?
Boa pergunta.
O tempo passava, o Vitória tentava, mas o jogo continuava empatado. Elkerson era o cara. Armava as jogadas, chutava, marcava, mas a bola não entrava. O empate seria um péssimo resultado em casa.
Do lado de lá, Viáfara fazia seus milagres de cada jogo, nos deixando pensar ás vezes que tinha coisas pior que um empate.
– Se fosse Vinícius era gol – disse o pai da menina.

Ricardo Silva resolveu mudar. Tirou Ramon e colocou Renan Oliveira. Na saída de campo, Ramon foi aplaudido, o que achei uma atitude inteligente da torcida, apesar de alguns (poucos) aloprados o vaiarem. O cara já salvou o time infinitas vezes, pode decidir qualquer jogo, mas ainda assim não é suficiente. Ele tá mal, sem ritmo, mas vaiar Ramon é, pra mim, lastimável.

Ricardo Silve resolveu mudar de novo e, finalmente, colocou Schwenck, autor de três dos quatro gols contra a galinha de Minas Gerais.
Resolvi também mudar e fui ficar atrás do gol do Atlético Paranaense, onde o goleiro Neto era xingado por todos pelas excessivas ceras que fazia. Pra bater um tiro de meta era uma lentidão da porra. E o sacana do juiz não fazia nada.
– Bate logo essa porra, seu filho de uma prostitua com um padre pedófilo – disse um.

Mas o Vitória teve uma falta a seu favor. A bola seria jogada na área. Elkerson bateu e no meio do empurra-empurra Schwenck subiu mais que o zagueiro baixinho que o marcava. Antes da bola entrar, um cara do meu lado disse “gol de Schwenck”. Profecia realizada. Vitória um a zero.
O goleiro atleticano chiou, brigou com a zaga, chutou a grama, a trave, ouviu foi coisa dos torcedores e passou a cobrar tiro de meta com uma velocidade inacreditável.

No final, o Atlético quase fez o gol de empate, o que seria um resultado deprimente, mas o melhor goleiro do Brasil estava em campo. É incrível o que esse cara consegue fazer. Antes de entrar em campo ainda deu uma entrevista de arrepiar:
– Viáfara, você que ficou de fora desses últimos jogos, quando você assiste as partidas você se envolve? – perguntou o repórter.
– Você tem que entender uma coisa: eu não sou só um atleta do Vitória; eu sou, sobretudo, um torcedor do Vitória – disse ele, com seu clássico sotaque.
Realmente é uma pena eu não filmar os feitos desse cara nos gramados.

Para ver o vídeo dessa partida clique aqui.

sábado, 29 de maio de 2010

Vitória X Atlético MG (na cocó)

Fui renovar o Sou Mais Vitória no dia do jogo contra o Atlético MG. Cheguei na loja do Capemi dentro do horário comercial normal, exatamente às 15h.
– Já encerramos – disse a atendente.
– Hein?
– Já encerramos – repetiu ela.
– Como assim? São três horas da tarde... – perguntei.
– Dia de jogo a gente encerra mais cedo, olha ali o aviso na porta.
Realmente tinha um aviso na porta, mas eu disse a ela que eu não tinha o hábito de ficar passando pela porta da loja do Vitória regularmente para ver os avisos deixados nela; pelo contrario, nunca vou ao Capemi.
– Por que não coloca essa informação no site, então? – questionei, já nervoso.
– O site tá fora do ar.
– Não, senhora, o site tá no ar. No endereço do E.C. Vitória tem um link pro Sou Mais Vitória que abre uma página com os pacotes e seus preços, e nessa página não tem nada sobre os horários.
Ela aceitou:
– É, realmente é uma falha nossa... Mas já encerramos por hoje.
Questionei o porquê desse absurdo e recebi a resposta que em dia do jogo os funcionários da loja têm de ir mais cedo ao Barradão, pois o efetivo de trabalhadores no estádio é pequeno.

Que tá difícil contratar jogadores, é até entendível, mas será que tá difícil contratar pessoal? E por que pedem nosso e-mail no cadastro se nunca mandam uma informação, uma notícia explicando alguma coisa ao associado? Eu ainda liguei no dia anterior pra perguntar que horas abria a loja e a atendente respondeu que era às nove horas. Ela não podia ter completado a informação? Dizendo “e fechamos às 14h, pois é dia de jogo e não temos pessoal suficiente pra blá, blá, blá...”.
Saí de lá pirado. Não iria ver a partida contra o Galo, pois não iria comprar o ingresso de um jogo que já estaria incluso no valor da renovação do Sou Mais Vitória.
O problema é que indo embora veio o velho pensamento de que se eu não fosse o Vitória perderia. Ainda mais com quatro desfalques, inclusive do goleiro Viáfara e do artilheiro Júnior. Apesar de achar o Itaú, assim como o Unibanco, um banco de ladrões FDP, fiquei aliviado por ter o Itaucard e pagar meia entrada.

Cheguei atrasado ao estádio. O jogo já tinha começado e no caminho para o meu local de praxe, avistei uma torcedora bastante interessante. Baixinha, cheinha, faixa dos 70, vestida com o manto rubro-negro e que não parava de gritar um segundo sequer.
O Vitória na zaga ou no ataque ela berrava “nêêêêêêêêgooooooooo”. Vez ou outra ela pedia uma ajuda a todos os santos e a todos os orixás que conhecia.
– Vou ficar um tempo por aqui – disse eu, para meu amigo que me acompanhava.
Sentei ao lado dela e comecei a filmar o jogo. No primeiro lance, ataque rubro-negro, cruzamento rasteiro, XUREC e GOL.
Não acreditei. Assim que sentei e liguei a câmera o Vitória fez um gol. Consegui filmar o gol nitidamente, sem ninguém na minha frente, registrei toda a jogada. Filmei a torcida e tudo o que tinha direito. A tal torcedora, emocionada, disse que o gol tinha sido de “Smith”. Mais um apelido pra Schwenck.
Mas então vejo algo de errado. A luz da filmadora estava verde, quando deveria estar vermelha. Eu apenas tinha ligado a dita cuja e não apertei o REC. Não registrei o gol. Fiquei mais puto comigo do que com o marketing do Vitória.
Minutos depois, fiquei mais puto ainda com o Vitória, que deixou a zaga aberta, e mais ainda com o goleiro reserva, Vinicius, que estava adiantado quando Muriqui entrou na área já chutando. Um golaço, vale ressaltar. Um a um.
– Porra, que goleiro é esse? Adiantado desse jeito? – gritava um torcedor.
– Se fosse Viáfara não tomava esse gol nem com a porra... – esbravejava outro.
E a torcedora do meu lado não se abateu:
– Vamo nêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêgooooooooooooooo.
E o nêgo foi. Foi pro ataque com sangue no olho. Apertei o REC. “Agora vai”, pensei.
Cruzamento na medida e UM FILHO DA P... DE UM VENDEDOR AMBULANTE DO HABIB’S FICOU NA FRENTE DA CÂMERA NO EXATO MOMENTO QUE A BOLA TOCOU NA CABEÇA DE SMITH. Além do kibe ser ruim e perigoso, pois você pode se engasgar com um pedaço de cebola gigante dentro dele, o Habib’s ainda me apronta essa. Pelo menos foi gol. Dois a um Vitória. Segundo gol de Xurec (ou de Smith).

Fim do primeiro tempo. Me despedi da torcedora e fui de encontro com meus amigos.

Segundo tempo começou e Nino Paraíba foi expulso deixando o Vitória com menos um. Até ai tudo bem, mas numa falta perigosa contra o Vitória, o goleiro Vinicius colocou três na barreira pra depois pedir pra um sair e ir pra área mercar, deixando a barreira também com menos um. Ele achou que Ricardinho faria um cruzamento. Quando a bola passou pelos dois coitados da barreira, foi tarde pra ele pegar. Dois a dois.
– Que goleiro é esse? PUTAQUEPARIU – lamentava um.
– Se fosse Viáfara... – lamentava outro.

Quatro desfalques, um a menos e uma ducha de água fria por ter tomado outro gol de empate não foi suficiente pra esmorecer o time, que no Barradão parece que toma a porção mágica de Asterix. De onde eu tava deu pra ouvir a torcedora do primeiro tempo gritar “vamo nêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêgooooooooooooooo”.

E, por incrível que pareça, o nêgo, de novo, foi.

Como não filmo o jogo quando a bola está com o time adversário (além de superstição, faço isso pra economizar a bateria) não registrei a recuada de bola na cocó que o zagueiro atleticano deu pro goleiro Marcelo. O mesmo Marcelo que foi ídolo do finado Bahia ano passado. O mesmo paspalho que no Barradão, na final de 2009, iniciou uma briga no fim do jogo por não suportar mais um vice. E o paspalho matou a bola no peito e, quando se deu conta, Xurec já tava no seu cangote. Só restou a Marcelo fazer o que ele faz de melhor: tomar mais um gol do Vitória.
Xurec, pela terceira vez. Três a dois. Bora, Smith!

Era o segundo goleiro ex-Bahia que fazia lambança. O primeiro foi Márcio, do outro Atlético, o de Goiás, pela semi-final da Copa do Brasil, também no terceiro gol. Acho que quando eles entram no Barradão, se cagam todo.

Mais uma vez na frente do placar, mais uma vez atrás nas quatro linhas. O Vitória que já costuma recuar quando tá ganhando, com um a menos recuou mais ainda e, de novo, o Atlético veio pra cima e, de novo, empatou. Aí já estava demais. Três empatadas já era brincadeira de mau gosto. Três a três e eu não filmei nenhum gol do Vitória...
Porém, uma voz me acalentou. Lá de longe o grito de “vamo nêêêêêêêêêêgoooooooooo” da torcedora me animou de novo e não tive dúvida: o Vitória iria fazer mais um gol, vencer a partida e transformar o Galo em uma galinha saltitante. Deixei a câmera ligada e dessa vez não perdi nenhum lance.
Veja vídeo exclusivo aqui.

Quatro a três. Gol de Evandro, jogador que acabara de sair do Galo e acabara de entrar no jogo, aos 42 do segundo tempo.
O Leão rugiu e Luxemburgo, Milton Neves, a torcida do finado Bahia e os pintinhos que foram ao Barradão cacarejaram a noite toda.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Vitória X Atlético Go (go,Vitória, go)

Mesmo saindo cedo de casa, às 19h, ainda assim peguei o engarrafamento e mais uma vez no modo Vitória-Bahia-Vitória-Bahia (primeira-segunda-primeira-segunda) cheguei ao Barradão. Estádio lotado. A torcida fazia uma festa que estava de arrepiar e emocionar. O jogo era contra o atual campeão goiano e o atual eliminador do finado time do Bahia da Copa do Brasil. Era o dia do Vitória ensinar ao rebaixado baiano como é que se faz. E ensinou bonito. Cinco a zero na moleira. Sem dó nem piedade.

O Atlético de Goiás começou tentando algo, mas nada consistente. O Vitória quando resolveu jogar, em cinco minutos fez dois a zero. Placar que dava a classificação ao Vitória e placar que terminou o primeiro tempo.

O segundo tempo começou e o Atlético veio pra cima, pois se fizesse um gol e não tomasse mais nenhum, estaria classificado. O problema é que eles esqueceram que no gol do Vitória estava o melhor goleiro do Brasil. Nada passava. Durante trinta e cinco minutos tentaram, tentaram, tentaram e nada. E já cansados de tanto tentar, deram espaço pra um contra-ataque fulminante de Neto Berola, que se lembrou que no gol deles estava Márcio, goleiro da divisão de base do Bahia e vice-baiano em alguma edição passada desta década. Márcio veio todo desengonçado, parecendo um jogador do Bahia, tentar tirar a bola de Berola, mas levou o velho e bom drible, ficou pra trás e deixou o gol aberto. Berola só fez tocar pra Júnior empurrar e fazer o segundo dele no jogo. Três a zero.

No final, já desesperados, fizeram um pênalti no Diabo Lôro. O melhor goleiro do Brasil, ouvindo o chamado de 35 mil pessoas, foi pra área adversária bater o penal. Correu, parou, chutou e marcou; quatro a zero, mas o desinformado do árbitro careca Héber Roberto Lopes anulou o gol e ainda deu amarelo pro melhor do Brasil. Incrível, todo mundo tá careca de saber que a paradinha vale até junho, menos esse juiz. O cúmulo da incompetência.

Viáfara, sem se abater, foi de novo, correu, bateu e marcou seu segundo gol no jogo. Cinco a zero.

Veja vídeo exclusivo do jogo aqui.

Esse resultado e, consequentemente, a classificação rubro-negra pra final da Copa do Brasil deixou a torcida do Bahia mordidinha. Os caras estão putos. Nos bares, escolas, faculdades, shoppings, livrarias, bancas de revistas, locadoras, cafés, puteiros, listas de discussões na internet, blogs, twitters e afins, eles só falam nisso. “Quero ver ganhar na final contra o Santos”, dizem eles, todos com o cu na mão. Não ter time pra torcer deve ser uma merda mesmo.


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domingo, 2 de maio de 2010

Ba x Vi (ou melhor: Já vi... isso várias vezes)

– É tetra – disse eu, no MSN, para um amigo meu tricolor.
Ele respondeu:
– É, mas pelo menos no Barradão vocês tão levando é taca.
– Concordo, mas pelo menos vocês não estão levando nada. Aliás, estão: fumo.

A diferença entre o Bahia e o Vitória é essa: o Bahia ganha um jogo, mas o Vitória ganha o campeonato. O quarto seguido. O quarto em cima do Bahia. O oitavo em dez anos. E o Bahia, pelo nono ano consecutivo, não leva nada. Aliás, leva: fumo.

E da forma que foi, com um gol do Bahia no finalzinho, foi até bom. Os 220 tricolores que foram ao Barradão ficaram cheios de esperança, achando que o gol do título sairia. Isso apenas temperou ainda mais a conquista rubro-negra.

No dia do jogo, acordei às 5h e 30m e fui competir pela II Etapa do Campeonato Baiano de Maratonas Aquáticas. A travessia foi Soho-Porto da Barra. Chegando no local da prova, um outro amigo tricolor disse que ia ganhar de mim na natação e que o Ba-Vi seria 4 x 0 pro rebaixado. Porém, assim que pisei na areia, na chegada, procurei por ele e constatei que ele ainda não tinha chegado. Deixei um recado:
– Diga a ele que mandei um abraço e que tive de sair, pois vou no Barradao comprar meu ingresso.
A travessia Soho-Porto a nado foi bem mais rápida do que a travessia Porto-Barradão. Engarrafamento da porra por causa da merda da Parada Disney. Essa Parada deixou a cidade toda... Parada. Nome melhor não há. Mas, chegando ao Barradas, pra compensar, tive duas gratas surpresas: não tinha fila e quem tem o Itaucard paga meia.

Paguei R$20 no ingresso, voltei pra casa e às 15 horas peguei de novo a Paralela para ir ao estádio. Chegando perto, mais um engarrafamento. Todo mundo dirigindo no modo Vitória-Bahia, Vitória-Bahia, Vitória-Bahia, Vitória-Bahia (primeira, segunda, primeira, segunda, primeira, segunda...). A terceira macha ficou inutilizada. Parei o carro longe e fui andando. Passei por um bar e como não uso camisa do Vitória, uma mulher de camisa do Bahia olhou pra mim e arriscou:
– Bora Baêa.
Um menino com a camisa do Vitória de 93 que estava ao lado dela olhou pra mim e ficou esperando minha resposta. Prontamente eu disse:
– Seu Bahia tá acabado, minha senhora.
Ela me xingou de alguma coisa qualquer, mas o menino abriu o sorriso e continuou meu mantra:
– Ahahaha, o Bahia tá acabado, o Bahia tá acabado – gritou ele pra infeliz.
– Sai daqui seu filho do estopô – gritou de volta a infeliz pro sorridente.

Continuei em frente e às 17 em ponto entrei no estádio. “Não custa nada ser feliz”, dizia o slogan do Habib’s que piscava no placar eletrônico. Ser feliz não custa nada, mas a água mineral cobrada pelos ambulantes da lanchonete custa R$1,50 o copinho com 200ml. Antes do monopólio Habibesco, a água de 300ml custava R1,00.

E água é o que não faltava no Barradão. Chuva da porra. Um torcedor vendo minha aflição por causa da minha filmadora me convidou pra dividir o guarda-chuva com ele.
– Vim de Ipirá só pra ver o Vitória ser tetra – disse o dono do artefato.
E por causa da chuva incessante, não pude filmar muitos lances. Filmei o golaço de Elkeson e no fim do jogo, já sem chuva, filmei a Parada Disney que aconteceu no Barradão: o desfile de Patetas indo embora, chorando a perda de mais um título...

Veja aqui na câmera exclusiva.

E como diz Galvão Bueno:
– É tetraaaaa, é tetraaaaa...

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Vitória X Goiás (da lama aos gols)

No Vitória X Avaí pelo Brasileirão do ano passado (2009), eu comi um acarajé delicioso antes do jogo, e assim que peguei o tal acarajé da mão da baiana perguntei a ela:
– Você é Bahia ou Vitória, minha linda?
– Bahia – respondeu a infeliz.
O Vitória perdeu aquele jogo.

Consegui a liberação da minha digníssima e fui ao Barradão assistir Vitória X Goiás pelas oitavas-de-final da Copa do Brasil 2010. Fui com dois amigos. Estávamos com fome e assim que entramos no Barradão fomos procurar um acarajé.
– Vamos naquele lá, comi uma vez ali e é muito bom – disse eu.
Chegando perto da baiana me lembrei que ela torcia pro finado e comentei pra ver a reação dos meus amigos:
– Essa baiana torce pro rebaixado – disse eu.
– Sério?! – disse um.
– Aí você tá sacaneando – disse outro.
– Sério – disse eu –, inclusive quando comi o acarajé dela o Vitória perdeu.
Os três concordaram que era melhor procurar outra baiana e fomos pra uma que fica em frente à entrada das cadeiras.
– Baiana, você é Bahia ou Vitória? – perguntei antes de pedir o acarajé.
A baiana não disse nada, apenas levantou seu vestido branco, mostrando que por baixo vestia o manto rubro-negro.
– Eu sou rubro-negra de coração – disse ela.
– Então me dê um acarajé com vatapá, salada e muita pimenta – disse eu.
Ela não botou fé no meu nível de pimenta e apenas deu uma pingadinha na colher.
– Bote mais.
Outra pingadinha.
– Assim, minha linda, vou achar que você é Bahia.
Só aí ela deu uma carregada e ensopou meu quitute.
– Agora, sim – respondi.
Comi o acarajé com pimenta acompanhado por uma cerveja sem acóol. A fome estava tanto que fui pedir um abará. Mandei caprichar de novo no ardido.
– Êta que o Viória vai tá apimentado hoje – profetizou ela.

O Vitória, como não costuma fazer, começou o primeiro tempo atacando pra lado esquerdo das arquibancadas. Me lembrei que meu primeiro vídeo pra esse blog foi justamente num jogo contra o Goiás (Brasileirao 2008) e, como naquele jogo, fui pra detrás do gol de Harlei. Veja aqui.

Ao chegar no alambrado, encontrei um torcedor que todo jogo tá ali.
– Cadê meu DVD? – perguntou ele ao me ver.
Só então me lembrei que prometi a ele fazer um DVD com as minhas filmagens.
– No próximo jogo eu trago – prometi de novo.

O jogo começou e ao mesmo tempo que Harlei sofria com as provocações dos torcedores do Vitória próximos ao alambrado, ele fazia defesas milagrosas.
– Se ele não fosse baixinho seria um dos melhores goleiros do Brasil – disse um jovem ao meu lado, que ao me ver filmando pediu para que quando o Vitória fizesse um gol que eu o filmasse comemorando.
– Vou passar no Globo Esporte – disse ele, sem saber que, seu eu o filmasse, que ele passaria num local, modéstia a parte, muito mais nobre.
– Que nada, esse goleiro é uma merda, se a bola for na gaveta, no angulo, ele não pega nem com a porra. Viáfara é bem melhor que ele – disse outro, mais velho, que não parava de xingar o coitado do Harlei.

E o Vitória atacou, atacou, atacou e não fez nenhum gol. Harlei buscou bola embaixo, em cima, em chute de Fernando de falta e o primeiro tempo acabou em zero a zero. Resultado ruim. De fato, até um a zero seria ruim, pois era preciso ir para o segundo jogo com larga vantagem.

Voltei para a arquibancada para filmar o segundo tempo de cima e meus amigos quiseram ir pro outro lado do estádio. Me lembrei que naquele tal jogo do primeiro vídeo contra o Goiás eu fiz a mesma coisa. Aquele jogo foi três a zero pro Vitória.
– Vamos nessa – disse eu, supersticioso.

No caminho, os comentários entre os torcedores eram diversos:
– Tem que tirar Bida, essa carniça não faz nada – diziam alguns.
– Tem que tirar Ramon, ele não agüenta mais – diziam outros.

Perto da TUI, todo mundo fica em pé e logo no início do segundo tempo percebi que pra filmar dali seria difícil. Era melhor descer e, como no primeiro tempo, ficar atrás do gol de Harlei. Na descida encontrei com um outro amigo meu. Fiquei um pouco ao lado dele vendo o jogo. Ele não parava de reclamar. Ramon tentou pegar uma bola e não conseguiu.
– Porra, Ramon – disse um torcedor do nosso lado.
– RAPAZ, ENTENDA: RAMON TÁ VELHOOOOO, TÁ VELHOOOOOOO – gritava meu amigo, enfurecido com o meio-campo rubro-negro.
Não gosto de torcedor reclamão e me despedi dele, finalmente me posicionando atrás do gol. O jovem que pediu pra eu filmar ele no primeiro tempo também estava lá assim como o torcedor que não parava de xingar Harlei. Ambos também deram a volta. E assim que eu cheguei, aos 23 do segundo tempo, Egídio cruzou, Walace cabeçeou, Harlei defendeu, mas deixou a sobra pra Ramon apenas cutucar pra dentro. Gostaria de ter visto a cara de meu amigo reclamão. Ramon começa com RA de Raça. Raça rubro-negra, minha porra. Um a zero Vitória.

Logo depois, aos 29, uma bela jogada entre Egídio, Ramon e Júnior fez o Vitória ampliar o placar. Depois eu vi o gol pelas câmeras da TV, mas nenhuma filmou de um angulo melhor que o meu. Nela dá pra ver claramente a calma e frieza do atacante rubro-negro ao escolher o canto e acerta-lo, impossibilitando a defesa de Harlei, que esperava uma bomba no meio. Golaço de Júnior. Gol de craque. Dois a zero Vitória.

Ainda comemorando, a PM chegou pra atrapalhar meu baba e dos torcedores do alambrado, nos obrigando a sair de lá bem na hora de uma falta pro Vitória bater. Enquanto a barreira era montada fui indo pro lado, subindo alguns degraus, procurando um angulo bom. Ainda na procura, parei pra filmar a cobrança de falta. Golaço de Bida. Meu angulo não foi dos melhores, mas o angulo onde Bida colocou a bola foi. Lembrei da frase do torcedor do alambrado sobre Harlei que se a bola fosse na gaveta que ele não pegava nem com a porra.

Logo após o gol, a bateria da filmadora acabou e Bida foi substituído sendo ovacionado pela torcida que o ama e o odeia ao mesmo tempo.

Aos 40 minutos do segundo tempo subi para me reencontrar com meus amigos. Me arrependi.
– Vamos nessa – disseram eles, com medo do engarrafamento.
Viadagem da porra isso de sair antes do fim.

Chegando perto do carro, atravessando o lamaçal por causa da chuva que castigou Salvador no dia anterior, resolvi ligar a câmera de novo, tentando conseguir um resquício de bateria que sempre rola depois que ela descansa. Foi bem na hora do quarto gol do Vitória. Um angulo bem diferente. Assista aqui, no vídeo exclusivo. Quatro a zero Vitória.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Vitória X Corinthians AL (Ah, lagoas)

Com um recém-nascido em casa, tá cada vez mais difícil conseguir ir aos jogos do Vitória. Um desses jogos que não pude ver foi Arilson X Vitória, quando o Bahia conseguiu vencer o rubro-negro por 2 x 1. Agora a partida era mais importante, pois era pela Copa do Brasil, contra o Corinthians de Alagoas, time desconhecido, mas que nos venceu no jogo de ida pelo placar de 3 x 1. Esse jogo foi na mesma semana do jogo contra Arilson, nos fazendo perder consecutivamente pra dois times pequenos. Agora era o jogo de volta, era a reabertura do Barradão e o Vitória tinha de vencer com dois gols de diferença e não tomar nenhum.

Arrisquei um esquema tático pra poder ser liberado e ir ao Barradão:
– Meu amor, eu tenho dois compromissos sociais essa semana – disse eu, pra minha esposa, preparando o terreno.
– Quais compromissos? – perguntou ela, impaciente, com Mateus no colo.
– Um você pode ir, o outro, não.
– Quais compromissos? Diga logo... – disse ela, mais impaciente ainda.
– Sexta-feira vai ter o lançamento do disco de Messias no MAM.
– Esse é o que eu não posso ir?
– Aí é que tá: esse é o que você pode ir – disse eu, com ênfase no “pode”.
– E qual é o que eu não posso ir?
– Amanhã tem jogo do Vitória no Barradão...
Com menosprezo, ela disse:
– Oxe, pode ir...

Sem renovar o Sou Mais Otário, deixei pra comprar o ingresso na hora. Muita fila e muito cambista. Dois reais a mais até que era um preço justo pra não pegar a fila da incompetência da diretoria do clube no que diz respeito ao tratamento dispensado ao seu torcedor.

Dentro do estádio, a TUI, indo em direção à arquibancada, passou por mim gritando “ei, Recó, vá tomar no c...”. Num primeiro momento, muito ingênuo de minha parte, achei que “Recó” era o apelido do time alagoano e me surpreendi com o fato da torcida do Vitória gastar sua saliva pra um time que nem torcida presente tinha ali. Porém, logo em seguida, fui informado que “Recó” era na verdade “Record”, o canal de televisão que cobre o futebol baiano com apresentadores e comentaristas de nível mas baixo que o time do Bahia. Da mesma forma, continuei achando desnecessário gastar saliva com tão insignificante emissora.

O jogo começou. Com o estádio lotado, a torcida do Vitória estava mais nervosa que os jogadores. Queria o gol logo. Com um minuto de jogo, ela já exigia pressa numa simples cobrança de lateral. Um torcedor mirim ao meu lado, faixa dos 12 anos, ganhou o troféu Charles Muller de ansiedade.
– Vai, Wallace, bate logo o lateral.
– Vai ,Viafara, porra, bate logo o tiro de meta.
– Vai, Nino Paraíba, cruza logo essa bola.
Ele era o reflexo de toda a torcida. Fiquei um pouco irritado com essa cobrança com menos de 10 minutos de jogo que gritei pro estádio, mas nitidamente para ele:
– Calma, caralho, assim o time fica nervoso... Tem tempo ainda...
Ele percebeu a indireta e se calou. Mas esse silencio só durou uns cinco minutos, pois logo voltou a exigir, nervosamente, rapidez nas execuções, principalmente após alguns contra-ataques do time alagoano, que graças a Viáfara não resultaram em gol.
Como ali não tinha uma alma sequer torcedora do Corinthians, imaginei o silencio ensurdecedor que seria um gol deles ali.

Ramon, que estava (está) mal, mas que não merece ser crucificado pela torcida, sentiu dores e foi substituído pelo recém-contratado-cara-de-maconheiro Renato, que deu outro ritmo ao jogo e já chegou cabeceando rente a trave, após um cruzamento de Nino Paraíba.

E o zero a zero permaneceu até os 40 minutos do primeiro tempo, quando a bola sobrou pra Junior, centro-avante que, mesmo caindo, conseguiu chutar cruzado, no canto do gol. Um a zero, Vitória. Faltava fazer mais um. Fim do primeiro tempo.

Fui com um amigo buscar um acarajé, mas descobrimos mais uma pegadinha da diretoria do Vitória: agora quem manda no rango ali é a merda do Habib’s, que tirou todos os ambulantes e fez uma fila maior que a da compra de ingressos. Sugiro que a torcida do Vitória incorpore o grito “ei, Habib’s, vá tomar no c...” ao seu repertório.

O segundo tempo começou e o recém-contratado-cara-de-maconheiro Renato, de novo, colocou a bola rente a trave, mas dessa vez num chute, e, de novo, após cruzamento de Nino.

Logo depois, na jogada seguinte, de novo após cruzamento do paraibano (que estava impecável), o recém-contratado-cara-de-maconheiro Renato cabeceou, mas, dessa vez, pra dentro do gol. Dois a zero, Vitória. Faltava segurar o placar.

O time alagoano sentiu a pressão e ficou entregue no jogo. Logo em seguida, Uélington, meio sem jeito, chutou do meio da área, numa bola que parece ter sido levantada a esmo e marcou o terceiro gol rubro-negro. Mas o melhor ainda estava por vir: falta na entrada da área em cima de Junior e lá vem Viáfara pra bater.
– Que porra, ainda falta muito tempo, isso não é hora pra brincadeira. Se esse time de Alagoas faz um gol, pode complicar tudo, porque aí vai ser disputa de pênalti... –reclamava um torcedor do meu lado, não concordando com o fato do goleiro rubro-negro ir bater a falta.

Enquanto esperava a confusão por causa da expulsão do jogador que cometeu a tal falta terminar, Viáfara ficou na entrada da área, batendo pontinho, fazendo embaixadinhas... Se o fato de eu não filmar o ataque adversário é injusto com nosso goleiro, já que assim não registro suas defesas milagrosas, finalmente pude me redimir, pelo menos parcialmente, com ele. Golaço.
O torcedor que não queria Viáfara pra bater a falta, gritava:
– Viáfara, minha porra... É o novo Ramon...

Quatro a zero.
Veja aqui esse gol e o vídeo dessa partida.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Ba X Vi II (rebolation in Pituacivis)

Meu filho nasceu no Natal e recebeu do avô o uniforme completo do Vitória.
– Vou dar uma camisa do Bahia pra ele – disseram alguns amigos tricolores ao visitá-lo na maternidade, inclusive o padrinho.
– Pode dar, vai servir pra limpar o cocô – respondia a eles.

Era o primeiro Ba x Vi do ano. O último confronto tinha sido há muito tempo, já que o Bahia não disputa o Brasileirão e foi na final do CampeoNeto Baiano de 2009, no Barradão. Um empate (2 X 2) com sabor de triunfo, pois consagrou o Vitória tri-campeão baiano.

Agora era a terceira rodada do (de novo) Campeonato Baiano. Nos dois primeiros jogos desse campeonato, o Bahia fez oito gols, vencendo as duas partidas. O Vitória fez dois e tomou dois, ganhando um jogo e perdendo o outro. Eles diziam que iam brocar o Vitória.

Eu não ia para o jogo. Era véspera do aniversário de um mês do meu filho e, além disso, eu não estava interessado em pegar fila pra comprar ingresso.
– Bora, man, é um Ba x Vi, o jogo mais emocionante do mundo – disse um amigo meu, tentando me convencer.
– Eu sei, mas não renovei o Sou Mais Vitória e não comprei ingresso – respondi.

No sábado, um dia antes do confronto, parei na farmácia pra comprar fralda e ao puxar o cartão de crédito, a carteira do Sou Mais Vitória caiu no chão. Ao pega-la, bati o olho na validade. Fevereiro de 2010. Era o primeiro Ba X Vi com meu filho nesse mundo. Tinha de ir.

Fui com dois amigos. Chegamos na proximidade do estádio uma hora antes e mesmo assim paramos o carro lá na casa da porra. No Barradão é muito mais fácil. Dez reais o preço do estacionamento. No Barradão é muito mais barato. Diversos motoristas chiavam. Resignados, pagamos o dinheiro e fomos em direção ao estádio. Um torcedor do Bahia colou na gente e começou a tagarelar:
– Rapaz, essas porra é melhor pagar logo. Num já sabe que se não pagar eles arranham o carro?
– É foda – dissemos juntos, quase ao mesmo tempo.
Ele continuou:
– Eu sei que ele não vai tomar conta do carro, mas se não pagar é pior...
– É foda – repetimos.
– Eu mesmo não gosto de dizer que sou policial, mas um dia eu perguntei ao guardador se ele ia olhar meu carro e ele disse que sim e eu então algemei ele na porta e falei “agora eu sei que você vai tomar conta” – disse o policial tricolor, que gosta de de dizer que é policial, dando risada da sua façanha.
– Hehehe... – rimos forçado, ao mesmo tempo.
Depois ele fez um discurso enaltecendo a tranqüilidade do futebol baiano, onde rubro-negros e tricolores chegam juntos ao estádio. Não sabia ele que a madeira ainda ia gemer (ou já tava gemendo), entre retardados tricolores e imbecis rubro-negros... Continuamos andando e após um tempo sem conversa, ele disse:
– E meu Bahia hoje vai brocar.

Nessa hora ficamos em silencio, respeitando o sonho do Bruce Willis nagô.
Passamos a andar um pouco afastado e meu amigo comentou:
– Será que vou conseguir ingresso?
O torcedor policial ouviu e respondeu:
– Vendi o de meu filho por oitenta conto.
¬– Oitenta? – perguntamos, espantados.
– Ô... O cara perguntou quanto era, eu disse oitenta pra ver se colava, ele comeu a pilha e vendi...
Continuamos em silencio e apos alguns passos, eu perguntei:
– Seu filho tem quantos anos?
– Catorze – respondeu ele.

PUTAQUEPARIU. Que marca de torcedor é essa? O cara vendeu a emoção do filho por oitenta reais! Realmente a torcida do Bahia está se acabando. De frente pro estádio, isso se comprovou. O número de rubro-negros era esmagador. Paramos para atravessar a rua. Era hora de nos separar.
– Qualquer coisa, é só falar, meu nome é Hélio, mas sou conhecido na corporação por Andrade.
Apertei sua mão e fui embora. Enquanto atravessava a larga avenida, lembrei mais uma vez da venda do ingresso do filho. Olhei pra trás e lá estava Andrade andando sozinho. Gritei pra ele:
– Andrade?
Ele gritou de volta:
– Oi.
– Quem vai brocar é o Vitória.

O primeiro tempo só não foi mais chato que torcedor do Bahia bêbado por causa de Viáfara. Foi a sua única participação no jogo. Numa bola recuada pra ele, o atacante (ou algo semelhante) do Bahia foi correndo para fazer pressão em cima e o goleiro rubro-negro deu o velho drible de baba de fim de semana: fingiu que ia dar um chutão, o tricolor acreditou e uepaaaaa, levou um olé, passando batido pela linha de fundo. Depois disso, Viáfara assistiu ao clássico de camarote. Era seu direito.

Com o gramado parecendo o solo lunar, ficava difícil a bola rolar. Aliás, o estádio de Pituaçu todo é ruim, o que talvez explique o fato dos tricolores gostarem dele, já que há muito tempo eles estão acostumados com merda. As cadeiras são coladas umas nas outras, nos quatro lados. É todo mundo espremido. Pra andar tem de pisar nos acentos. No Barradão é bem melhor, pois o cara da frente fica quase a um metro de distancia de você. Lá, talvez por essa dificuldade de locomoção, raramente passa um ambulante. Fiquei o primeiro tempo com sede. Quando achei um que vendia água, o cara se fudeu todo pra chegar onde eu estava.
– Esse estádio é uma merda, né não? – disse pra ele, quando se aproximou.
– Porra, o Barradao é bem melhor – respondeu ele.

Acabou em zero a zero, com o Vitória, apesar de ruim, superior.

Antes do segundo tempo começar, Pituaçu mostrou mais de sua força. Caixas de som espalhadas por diversos postes do estádio foram ligadas. O som estridente e mal equalizado ecoava pelos quatro cantos a música “Rebolation” do grupo de pagode Parangolé. No Barradão é bem melhor. Não tem caixas de som.

O segundo tempo começou e com ele a velha e boa superioridade rubro-negra. Logo aos cinco minutos, o atacante Scwhenck, carinhosamente apelidado de Shrek pela torcida, só fez empurrar a bola pra dentro depois de um bate rebate na pequena área. Ramon bateu o escanteio, Wallace cabeceou magistralmente, a bola entrou, o juiz não marcou, o goleiro do Bahia se embananou todo, a bola sobrou pra Shrek que explodiu as redes de Pituaçu. Um a zero. A-ha, u-hu, Pituaçu (também) é nosso.
Depois do jogo o arbitro registrou o gol pra Wallace, porém, duvido que se Shrek não tivesse bicado pra dentro ele teria dado o gol. Pra mim, gol dele.

Os tricolores, que já estavam murchos antes do gol, se encolheram e ficaram caladinhos. O time deles, que estava murcho antes do gol, tentou crescer, mas batia de frente com a inoperância do seu elenco.

E o Vitória administrou o jogo com Nino Paraíba correndo pela lateral feito um doido o que me fez gritar “vai, Apodi”. Apesar do paraibano estar se saindo bem, sinto saudades do maluco beleza.

Índio, o cara que fez quatro gols num Ba X Vi, o que confirma o que Renato Gaúcho disse, que aqui a terra é dele, tentou fazer o seu, mas não conseguiu. Porém, deu o passe para o cara que a imprensa chamava (pelo terceiro ano consecutivo) de velho e acabado. Prestes a fazer 38 anos, depois de jogar os 90 minutos, aos 46 do segundo tempo, Ramon mandou a bola pra dentro, fazendo a torcida do Bahia sumir de vez. Dois a zero.

Fora do estádio, a torcida do Vitória só comemorava enquanto a do Bahia assistia. Até que enfim alguma coisa parecida com o Barradão.

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