Com um recém-nascido em casa, tá cada vez mais difícil conseguir ir aos jogos do Vitória. Um desses jogos que não pude ver foi Arilson X Vitória, quando o Bahia conseguiu vencer o rubro-negro por 2 x 1. Agora a partida era mais importante, pois era pela Copa do Brasil, contra o Corinthians de Alagoas, time desconhecido, mas que nos venceu no jogo de ida pelo placar de 3 x 1. Esse jogo foi na mesma semana do jogo contra Arilson, nos fazendo perder consecutivamente pra dois times pequenos. Agora era o jogo de volta, era a reabertura do Barradão e o Vitória tinha de vencer com dois gols de diferença e não tomar nenhum.
Arrisquei um esquema tático pra poder ser liberado e ir ao Barradão:
– Meu amor, eu tenho dois compromissos sociais essa semana – disse eu, pra minha esposa, preparando o terreno.
– Quais compromissos? – perguntou ela, impaciente, com Mateus no colo.
– Um você pode ir, o outro, não.
– Quais compromissos? Diga logo... – disse ela, mais impaciente ainda.
– Sexta-feira vai ter o lançamento do disco de Messias no MAM.
– Esse é o que eu não posso ir?
– Aí é que tá: esse é o que você pode ir – disse eu, com ênfase no “pode”.
– E qual é o que eu não posso ir?
– Amanhã tem jogo do Vitória no Barradão...
Com menosprezo, ela disse:
– Oxe, pode ir...
Sem renovar o Sou Mais Otário, deixei pra comprar o ingresso na hora. Muita fila e muito cambista. Dois reais a mais até que era um preço justo pra não pegar a fila da incompetência da diretoria do clube no que diz respeito ao tratamento dispensado ao seu torcedor.
Dentro do estádio, a TUI, indo em direção à arquibancada, passou por mim gritando “ei, Recó, vá tomar no c...”. Num primeiro momento, muito ingênuo de minha parte, achei que “Recó” era o apelido do time alagoano e me surpreendi com o fato da torcida do Vitória gastar sua saliva pra um time que nem torcida presente tinha ali. Porém, logo em seguida, fui informado que “Recó” era na verdade “Record”, o canal de televisão que cobre o futebol baiano com apresentadores e comentaristas de nível mas baixo que o time do Bahia. Da mesma forma, continuei achando desnecessário gastar saliva com tão insignificante emissora.
O jogo começou. Com o estádio lotado, a torcida do Vitória estava mais nervosa que os jogadores. Queria o gol logo. Com um minuto de jogo, ela já exigia pressa numa simples cobrança de lateral. Um torcedor mirim ao meu lado, faixa dos 12 anos, ganhou o troféu Charles Muller de ansiedade.
– Vai, Wallace, bate logo o lateral.
– Vai ,Viafara, porra, bate logo o tiro de meta.
– Vai, Nino Paraíba, cruza logo essa bola.
Ele era o reflexo de toda a torcida. Fiquei um pouco irritado com essa cobrança com menos de 10 minutos de jogo que gritei pro estádio, mas nitidamente para ele:
– Calma, caralho, assim o time fica nervoso... Tem tempo ainda...
Ele percebeu a indireta e se calou. Mas esse silencio só durou uns cinco minutos, pois logo voltou a exigir, nervosamente, rapidez nas execuções, principalmente após alguns contra-ataques do time alagoano, que graças a Viáfara não resultaram em gol.
Como ali não tinha uma alma sequer torcedora do Corinthians, imaginei o silencio ensurdecedor que seria um gol deles ali.
Ramon, que estava (está) mal, mas que não merece ser crucificado pela torcida, sentiu dores e foi substituído pelo recém-contratado-cara-de-maconheiro Renato, que deu outro ritmo ao jogo e já chegou cabeceando rente a trave, após um cruzamento de Nino Paraíba.
E o zero a zero permaneceu até os 40 minutos do primeiro tempo, quando a bola sobrou pra Junior, centro-avante que, mesmo caindo, conseguiu chutar cruzado, no canto do gol. Um a zero, Vitória. Faltava fazer mais um. Fim do primeiro tempo.
Fui com um amigo buscar um acarajé, mas descobrimos mais uma pegadinha da diretoria do Vitória: agora quem manda no rango ali é a merda do Habib’s, que tirou todos os ambulantes e fez uma fila maior que a da compra de ingressos. Sugiro que a torcida do Vitória incorpore o grito “ei, Habib’s, vá tomar no c...” ao seu repertório.
O segundo tempo começou e o recém-contratado-cara-de-maconheiro Renato, de novo, colocou a bola rente a trave, mas dessa vez num chute, e, de novo, após cruzamento de Nino.
Logo depois, na jogada seguinte, de novo após cruzamento do paraibano (que estava impecável), o recém-contratado-cara-de-maconheiro Renato cabeceou, mas, dessa vez, pra dentro do gol. Dois a zero, Vitória. Faltava segurar o placar.
O time alagoano sentiu a pressão e ficou entregue no jogo. Logo em seguida, Uélington, meio sem jeito, chutou do meio da área, numa bola que parece ter sido levantada a esmo e marcou o terceiro gol rubro-negro. Mas o melhor ainda estava por vir: falta na entrada da área em cima de Junior e lá vem Viáfara pra bater.
– Que porra, ainda falta muito tempo, isso não é hora pra brincadeira. Se esse time de Alagoas faz um gol, pode complicar tudo, porque aí vai ser disputa de pênalti... –reclamava um torcedor do meu lado, não concordando com o fato do goleiro rubro-negro ir bater a falta.
Enquanto esperava a confusão por causa da expulsão do jogador que cometeu a tal falta terminar, Viáfara ficou na entrada da área, batendo pontinho, fazendo embaixadinhas... Se o fato de eu não filmar o ataque adversário é injusto com nosso goleiro, já que assim não registro suas defesas milagrosas, finalmente pude me redimir, pelo menos parcialmente, com ele. Golaço.
O torcedor que não queria Viáfara pra bater a falta, gritava:
– Viáfara, minha porra... É o novo Ramon...
Quatro a zero.
Veja aqui esse gol e o vídeo dessa partida.
segunda-feira, 15 de março de 2010
Assinar:
Postagens (Atom)