Jogo às 19:15 de uma quinta-feira é sacanagem, mas era também a estréia do Vitória em uma competição internacional. Consegui sair às 18:50 do trabalho e só entrei no Barradão aos 25 do primeiro tempo.
Aproveitando que já estava atrasado, aproveitei o fraco movimento no stand do “Sou mais Vitória” e finalmente peguei minha carteira. A camisa oficial, garantiu a funcionária, chegaria, sem falta, em setembro. Fiz a carteira em fevereiro.
Procurando lugar, percebi que o Vitória começou mal o jogo. Em uma tentativa frustrada de contra-ataque, os torcedores perderam a paciência:
– Que é que tá acontecendo com esse Vitória hoje? – gritou um bigodudo.
– Que porra é essa, Vitória? – gritou um careca, amigo do bigodudo.
Sentei atrás de um grupo que não parava de falar. Sentei de propósito para ouvir a conversa. Estádio vazio é bom pra isso.
¬– Vitória tá mal, é? – perguntei.
– Mal? Se tivesse mal tava bom. O Vitória tá um cu...
Outro fator bom do estádio vazio foi que, em uma bola no meio campo, Willian dominou sem perceber que tinha um marcador do Coritiba atrás dele. A torcida junta gritou “LADRÃO”. Willian na hora tocou a bola.
Em outro lance, Apodi estava marcando perto da arquibancada e conseguiu desarmar a jogada, botando a bola pra fora. O careca gritou:
– Boa, Apodi, seu lugar é aí, porra...
Apodi, na hora, olhou na direção da gente.
“Porra, ele ouviu, ele ouviu...”, disseram vários ao mesmo tempo.
O Vitória criou algumas jogadas no final do primeiro tempo. Roger perdeu um gol debaixo da trave e os torcedores, como em todos os temas sobre futebol, não se entendem:
– Ele é muito lento – disse o bigodudo.
Um gordinho defendeu:
– Rapaz, o cara é bom, não é à toa que ele fez nove gols. Isso aqui é primeira divisão, fazer nove gols na primeira divisão não é pra qualquer um...
– Fez nove mas perdeu noventa...
Apodi também tentou chutando de fora, mas o goleiro espalmou e o primeiro tempo terminou zero a zero.
Pro segundo tempo, fui filmar perto do gol do ataque do Vitória. Colado no alambrado estavam dezenas de crianças. Aquelas criaturas inocentes e engraçadas infernizavam Eduardo, o goleiro do Coritiba, que se aquecia pro segundo tempo. “Vai tomar frango”, “Viado” e “Cabeça de rola” era o que o pobre rapaz mais ouvia.
E no primeiro minuto, ele tomou um. Não foi um frango, mas foi gol. Um a zero Vitória. Veja vídeo aqui.
Um cara me viu filmado, se aproximou e começou a falar:
– Rapaz, eu acho que tem que colocar Bida no lugar de Willian e Neto Berola no lugar de Jackson. Tô falando isso porque o torcedor não é burro. Eu jogo bola, você joga bola... A gente entende, né não?
Willian entrou pela esquerda e chutou forte. O goleiro defendeu. Em outro contra-ataque, Jackson chegou atrasado.
O cara ficou pirado:
– Que burrice da porra, viu Ricardo? – disse, gritando para Ricardo Silva, o técnico do Vitória nessa partida. Ele continuou: – Deixar de botar um cara de 20 anos pra colocar um de 40 é foda. Não tá vendo que o ataque tá sem velocidade?
Em outro momento, Gléguer falhou e, mesmo tendo sido o herói do último jogo, o torcedor me faz crer que se Cristo voltasse, que ele seria novamente crucificado:
– Esse Gléguer nunca me passou confiança – vociferava ele, virando pra mim, dizendo: – Esse time vai ter que melhorar. Dando 160 mil reais por mês pra Mancini, esse time vai ter que melhorar...
A torcida toda estava impaciente com Jackson. Ele perdia uma bola e a torcida pedia sua saída. E isso de pegar no pé de Jackson não foi a primeira vez que aconteceu no Barradão, assim como não foi a primeira vez que aconteceu de, justamente nesse momento, Jackson fazer um gol: uma arrancada digna de um garoto que terminou com a bola no canto esquerdo do gol, mostrando pra torcida que o que importa no futebol é a raça. Dois a zero, um bom placar para o jogo de volta.
Depois Jackson ainda quase fez outro, chutando de longe no canto direito, fazendo Eduardo se esticar todo.
Na subida das escadas, ido embora, muitos diziam:
– O velhinho é foda... Eu te falei, o velhinho tem que ser titular...
domingo, 16 de agosto de 2009
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Vitória X Fluminense (tudo de novo)
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Antes de falar do jogo, uma curiosidade: descobri que no álbum de figurinhas do campeonato brasileiro deste ano, que o Bahia, diferente de outros times, só teve direito a uma página.
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O caminho ao estádio estava vazio. O Dia dos Pais (e as últimas derrotas do time) fez muitos torcedores não saírem de casa. Eu já não pude ir ao jogo contra o São Paulo, pois, mesmo sendo sábado, eu estava trabalhando. Desconfio que deu azar já que foi a primeira derrota no Barradão nesse campeonato. Tinha que ir nesse.
Fui ler o texto que fiz para o jogo Vitória X Fluminense do ano passado e achei que podia copiar e colar aqui. Muitas semelhanças entre os jogos: foi num dia de sol forte, o Vitória jogou com o uniforme número dois, o Fluminense estava na zona de rebaixamento, o Vitória saiu na frente, o Fluminense virou...
No jogo desse fim de semana, Roger deu o passe pra um gol, fez o outro, furou feio em um chute, foi fominha em outro lance, chegou lento em outra jogada... E Apodi tentou, Leandro Domingues tentou, Ramon entrou... Mas o jogo, também como no ano passado, acabou 2 x 2. Veja o vídeo aqui.
– Começou a crise – disseram os tricolores que trabalham comigo, na segunda-feira, um dia depois desse empate com o Fluminense.
Renato Gaúcho, hoje técnico do Fluminense, em 1989 disse que aqui na Bahia só tinha índio. Em compensação levou um ovo de mira laser na moleira. Veja vídeo aqui. E o torcedor do Bahia, como sempre mulher de malandro, ainda vai ao Barradão torcer pra ele. Vi muitos por lá, infiltrados, com crise de abstinência por um jogo da primeira divisão.
No dia do jogo contra o São Paulo, ficamos trabalhando ouvindo o jogo pela internet. Quando o São Paulo fez o gol, houve uma efusiva comemoração por parte da parte tricolor da sala. Eu e André, os únicos rubro-negros, fomos compreensivos com eles e deixamos que festejassem.
No sábado seguinte, trabalhando de novo, foi a vez de ouvir na internet Vila Nova X Bahia. Gol do Vila Nova e a parte rubro-negra humilhou os tricolores da sala ficando em completo silêncio. Eles também ficaram em silêncio, cabisbaixos... Aí eu olhei pra André e dei uma risadinha discreta que foi percebida pelos tricolores. Os caras então perderam o controle:
– Que é que esse torcedor do Vitória quer, meu Deus? – dizia um, menosprezando.
– Perderam de um a zero do São Paulo em casa, não podem falar nada – disse outro, sem senso de proporção.
– Sou bi, sou bi e você é o quê? – perguntou um, em completo desespero.
Respondi a ele que eu era hetero, mas que tudo bem, não tenho preconceitos...
E tudo isso porque eu dei uma risadinha.
Como já falei uma vez aqui nesse blog, inclusive no texto do ano passado do jogo contra o Fluminense, não filmo o ataque adversário. Faço isso por superstição (e pra economizar a fita e a bateria da filmadora), o que é muitas vezes injusto com o goleiro Viáfara, pois nunca registro os seus feitos. Um filho de um amigo meu tem dois colegas na escola que eram Bahia, mas que viraram Vitória por causa de Viáfara e Apodi.
Mas dessa vez a injustiça será com o goleiro que o substitui, Gléguer. Vale a lembrança das fantásticas defesas que fez durante o jogo todo, sobretudo, aos 48 do segundo tempo. Essas, além de espetaculares, valeram tanto quanto os dois gols do Vitória no jogo. O jogo acabou logo em seguida e Gléguer foi injustiçado por toda a torcida, que vaiava o time. Era pra ter aplaudido.
O campeonato é longo. É o campeonato brasileiro da primeira divisão, todo jogo é difícil, portanto, para mim, um empate em casa, faltando metade do campeonato, passa longe de ser algo desesperador. Mas mesmo assim Capergiani foi demitido. Para muitos ali no Barradão, para a imprensa que fatura com isso e para o pobre torcedor do Bahia, o empate em casa era motivo de crise no Vitória.
Quando acabei de escrever esse texto, descobri que o jogo Bahia X Ponte Preta acabou 2 x 2. Empatou em casa e está a um ponto da zona do rebaixamento para a 3º Divisão.
Cheguei ao trabalho e pra respeitar a dor dos meu colegas, não fiquei em silêncio e perguntei com uma certa dose de misericórdia:
– E esse Bahia, hein?
São meus amigos, gosto deles e achei que o silêncio seria muita humilhação.
Antes de falar do jogo, uma curiosidade: descobri que no álbum de figurinhas do campeonato brasileiro deste ano, que o Bahia, diferente de outros times, só teve direito a uma página.
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O caminho ao estádio estava vazio. O Dia dos Pais (e as últimas derrotas do time) fez muitos torcedores não saírem de casa. Eu já não pude ir ao jogo contra o São Paulo, pois, mesmo sendo sábado, eu estava trabalhando. Desconfio que deu azar já que foi a primeira derrota no Barradão nesse campeonato. Tinha que ir nesse.
Fui ler o texto que fiz para o jogo Vitória X Fluminense do ano passado e achei que podia copiar e colar aqui. Muitas semelhanças entre os jogos: foi num dia de sol forte, o Vitória jogou com o uniforme número dois, o Fluminense estava na zona de rebaixamento, o Vitória saiu na frente, o Fluminense virou...
No jogo desse fim de semana, Roger deu o passe pra um gol, fez o outro, furou feio em um chute, foi fominha em outro lance, chegou lento em outra jogada... E Apodi tentou, Leandro Domingues tentou, Ramon entrou... Mas o jogo, também como no ano passado, acabou 2 x 2. Veja o vídeo aqui.
– Começou a crise – disseram os tricolores que trabalham comigo, na segunda-feira, um dia depois desse empate com o Fluminense.
Renato Gaúcho, hoje técnico do Fluminense, em 1989 disse que aqui na Bahia só tinha índio. Em compensação levou um ovo de mira laser na moleira. Veja vídeo aqui. E o torcedor do Bahia, como sempre mulher de malandro, ainda vai ao Barradão torcer pra ele. Vi muitos por lá, infiltrados, com crise de abstinência por um jogo da primeira divisão.
No dia do jogo contra o São Paulo, ficamos trabalhando ouvindo o jogo pela internet. Quando o São Paulo fez o gol, houve uma efusiva comemoração por parte da parte tricolor da sala. Eu e André, os únicos rubro-negros, fomos compreensivos com eles e deixamos que festejassem.
No sábado seguinte, trabalhando de novo, foi a vez de ouvir na internet Vila Nova X Bahia. Gol do Vila Nova e a parte rubro-negra humilhou os tricolores da sala ficando em completo silêncio. Eles também ficaram em silêncio, cabisbaixos... Aí eu olhei pra André e dei uma risadinha discreta que foi percebida pelos tricolores. Os caras então perderam o controle:
– Que é que esse torcedor do Vitória quer, meu Deus? – dizia um, menosprezando.
– Perderam de um a zero do São Paulo em casa, não podem falar nada – disse outro, sem senso de proporção.
– Sou bi, sou bi e você é o quê? – perguntou um, em completo desespero.
Respondi a ele que eu era hetero, mas que tudo bem, não tenho preconceitos...
E tudo isso porque eu dei uma risadinha.
Como já falei uma vez aqui nesse blog, inclusive no texto do ano passado do jogo contra o Fluminense, não filmo o ataque adversário. Faço isso por superstição (e pra economizar a fita e a bateria da filmadora), o que é muitas vezes injusto com o goleiro Viáfara, pois nunca registro os seus feitos. Um filho de um amigo meu tem dois colegas na escola que eram Bahia, mas que viraram Vitória por causa de Viáfara e Apodi.
Mas dessa vez a injustiça será com o goleiro que o substitui, Gléguer. Vale a lembrança das fantásticas defesas que fez durante o jogo todo, sobretudo, aos 48 do segundo tempo. Essas, além de espetaculares, valeram tanto quanto os dois gols do Vitória no jogo. O jogo acabou logo em seguida e Gléguer foi injustiçado por toda a torcida, que vaiava o time. Era pra ter aplaudido.
O campeonato é longo. É o campeonato brasileiro da primeira divisão, todo jogo é difícil, portanto, para mim, um empate em casa, faltando metade do campeonato, passa longe de ser algo desesperador. Mas mesmo assim Capergiani foi demitido. Para muitos ali no Barradão, para a imprensa que fatura com isso e para o pobre torcedor do Bahia, o empate em casa era motivo de crise no Vitória.
Quando acabei de escrever esse texto, descobri que o jogo Bahia X Ponte Preta acabou 2 x 2. Empatou em casa e está a um ponto da zona do rebaixamento para a 3º Divisão.
Cheguei ao trabalho e pra respeitar a dor dos meu colegas, não fiquei em silêncio e perguntei com uma certa dose de misericórdia:
– E esse Bahia, hein?
São meus amigos, gosto deles e achei que o silêncio seria muita humilhação.
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