Saí tarde do trabalho, porém, já sabia que seria assim e por isso meu pai não quis ir comigo ao Barradão.
– Eu que não vou pra chegar lá no meio do primeiro tempo – disse ele.
Quem dera eu chegar no meio do primeiro tempo... Quando eu cheguei, os dois times já estavam dentro dos vestiários.
– Sorte sua, foi um dos piores “primeiro tempo” que eu já vi. O Vitória tá péssimo – me disse um torcedor.
O burburinho era sobre o meia Ramon, que estava mal, sem criar e sem marcar...
– Tá sem ritmo, parado há muito tempo – dizia um.
– Tá velho – dizia outro.
– Se tá sem ritmo ou se tá velho não importa, o que importa é que o Vitória tem de contratar jogador... E urgente – disse um terceiro.
Fui procurar um lugar pra ficar e filmar os lances quando me lembrei da senhora do jogo passado, contra o outro Atlético, o mineiro. A encontrei, porém, onde ela estava tinha muita gente e não conseguiria boas imagens. Desci mais e me posicionei na frente de um pai que estava com sua filha. Ele na faixa dos 45, ela na faixa dos 10.
– O Vitória tá horrível – disse ela, me dando as boas vindas.
Começou o segundo tempo. O Vitória horrível veio pra cima com vontade e quase marcou, mas num contra-ataque quase tomou um gol.
– Devia ter tomado, pra tomar vergonha e acordar – disse a torcedora mirim.
– Fale isso, não... Se fazer um gol tá difícil, imagine dois – disse eu pra ela.
Como estávamos perto do alambrado, ela descia, colava nele e voltava com informações, como se tivesse visto o jogo de um ângulo exclusivo.
– Ramon tá podre, tem que colocar Renan Oliveira e Schwenck. Será que ele não percebe que o ataque é Júnior e Schwenck?
Boa pergunta.
O tempo passava, o Vitória tentava, mas o jogo continuava empatado. Elkerson era o cara. Armava as jogadas, chutava, marcava, mas a bola não entrava. O empate seria um péssimo resultado em casa.
Do lado de lá, Viáfara fazia seus milagres de cada jogo, nos deixando pensar ás vezes que tinha coisas pior que um empate.
– Se fosse Vinícius era gol – disse o pai da menina.
Ricardo Silva resolveu mudar. Tirou Ramon e colocou Renan Oliveira. Na saída de campo, Ramon foi aplaudido, o que achei uma atitude inteligente da torcida, apesar de alguns (poucos) aloprados o vaiarem. O cara já salvou o time infinitas vezes, pode decidir qualquer jogo, mas ainda assim não é suficiente. Ele tá mal, sem ritmo, mas vaiar Ramon é, pra mim, lastimável.
Ricardo Silve resolveu mudar de novo e, finalmente, colocou Schwenck, autor de três dos quatro gols contra a galinha de Minas Gerais.
Resolvi também mudar e fui ficar atrás do gol do Atlético Paranaense, onde o goleiro Neto era xingado por todos pelas excessivas ceras que fazia. Pra bater um tiro de meta era uma lentidão da porra. E o sacana do juiz não fazia nada.
– Bate logo essa porra, seu filho de uma prostitua com um padre pedófilo – disse um.
Mas o Vitória teve uma falta a seu favor. A bola seria jogada na área. Elkerson bateu e no meio do empurra-empurra Schwenck subiu mais que o zagueiro baixinho que o marcava. Antes da bola entrar, um cara do meu lado disse “gol de Schwenck”. Profecia realizada. Vitória um a zero.
O goleiro atleticano chiou, brigou com a zaga, chutou a grama, a trave, ouviu foi coisa dos torcedores e passou a cobrar tiro de meta com uma velocidade inacreditável.
No final, o Atlético quase fez o gol de empate, o que seria um resultado deprimente, mas o melhor goleiro do Brasil estava em campo. É incrível o que esse cara consegue fazer. Antes de entrar em campo ainda deu uma entrevista de arrepiar:
– Viáfara, você que ficou de fora desses últimos jogos, quando você assiste as partidas você se envolve? – perguntou o repórter.
– Você tem que entender uma coisa: eu não sou só um atleta do Vitória; eu sou, sobretudo, um torcedor do Vitória – disse ele, com seu clássico sotaque.
Realmente é uma pena eu não filmar os feitos desse cara nos gramados.
Para ver o vídeo dessa partida clique aqui.
terça-feira, 8 de junho de 2010
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