quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Vitória X Portuguesa (sem vira-vira)

Sem tráfego no caminho, já fui percebendo que o Barradão estaria vazio. Na porta do estádio, um carro de som tocando ininterruptamente o jingle de Imbassahy, crianças catando latinhas, um cara com um megafone fazendo propaganda da TIM e até alguns torcedores. O número era lastimável, diante da campanha que o Vitória vem fazendo.

Entrei no estádio e fui procurar algo pra comer. Encontrei um amigo meu, torcedor do Bahia, com um carrinho de espetinhos.
– Fica ai torcendo contra, né?
– Que nada, só quero ganhar dinheiro, vai querer um?
Não como carne e recusei. Não tive coragem de ir no acarajé, nem no óleo do pastel feito na hora. Já estava desanimado, achando que teria de matar a fome com pipoca e amendoim semi cru, quando avistei uma barraquinha de açaí em pleno Barradão.
“Açaí Bombadão do Rei Jesus”, dizia a faixa. O “Rei Jesus” estava no corpo de um jovem. Um jovem muito gordo, por sinal.
– É você que faz o açaí? – perguntei a ele.
– Sim, eu mesmo.
– E faz como? – eu estava tentando saber a procedência do produto.
– Açaí, xarope e banana.
– E gelo?
– Sem gelo.
– Posso provar?
Ele abriu o isopor, deu uma colherada profunda e me entregou a colher.
– Quanto é? – perguntei.
– Tem de 2, de 3, de 4 e de 5.
Peguei o de 3.
– Quer com o quê?
– Granola – respondi.
Ele disponibilizava também caldas de chocolate, baunilha, morango, granulados coloridos e paçoca.
– Porra, ninguém gosta de colocar essas coisas no açaí, só eu – disse o gordo.

O jogo começou. Não foi como no primeiro turno, contra a mesma Portuguesa, em que Dinei fez o gol mais rápido do campeonato, porém, com 10 minutos de jogo, o Vitória já ganhava por 2 X 0.
Dois gols muitos parecidos. Leandro Domingues avançando pelo meio, sendo derrubado, falta marcada e gol. O primeiro, inclusive, foi parecido também com o gol contra o Coritiba. Falta cobrada, goleiro espalmou e Marcelo Cordeiro aproveitou o rebote. O segundo gol, o goleiro nem segurou a bola chutada por Robert, autor também do chute que resultou no primeiro gol. Veja aqui, na nossa câmera exclusiva.
Depois do 2 X 0, como acontece com qualquer time, o Vitória desacelerou; como acontece com qualquer time, a Portuguesa veio pra cima e como acontece sempre com a torcida do Vitória, a impaciência e intolerância tomou conta do estádio. O time dando 2 a 0 e um retardado do meu lado vaiando, reclamando do time... como muitos pelo estádio.
– Esse Mancini é pirracento... Não colocou Ramon de pirraça.
Passava um tempo, e ele:
– Esse Marquinhos já era, é um merda. Foi vendido, já era...
Reclamou de Alexi Portela, de Jorge Sampaio, de Marco Antonio... e o time dando 2 a 0, indo pra sexta colocação do campeonato brasileiro da série A, no ano em que subiu, depois de três anos... Vá torcer pro defunto do Bahia, então, porra.

Segundo tempo começou. Mesmo reme-reme. A coisa só mudou aos 43, quando a Portuguesa temperou o jogo e o palavreado do meu torcedor-vizinho. Ele já tava puto com a entrada de Jackson no lugar de Robert, dizendo que Jackson devia tá comendo Mancini.
– Por que não colocou Ramon? É pirraça. Ainda tirou Robert e deixou Marquinhos, é pirraça.
E quando o Vitória tomou o gol, depois de estar sofrendo pressão, ele ficou repetindo sem parar, durante uns três minutos “é brincadeira um negócio desse, só pode... é brincadeira isso... é brincadeira isso...”. Qualquer bola, ele gritava “é brincadeira, isso”.
O medo de um empate estava presente em todos na torcida. A portuguesa estava pressionando: bola na trave, defesa milagrosa de Viáfara... o empate parecia próximo, até que Jackson lutou por uma bola que já tava quase perdida e tocou para Marquinhos na entrada da grande área, que chutou no canto aos 47, fazendo 3 X 1 e definindo o placar. Muitos não viram o gol, já tinham ido embora do estádio, pirados com o time.
Indo embora, dei uma de Mancini-pirracento. Passei pelo torcedor-chatão e falei alto:
– Jackson brocou...
Ele fingiu que não ouviu.
Um guri que estava na minha frente, que conhecia mais de futebol do que muitos ali, concordou comigol. Veja aqui, na nossa câmera exclusiva.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bolão esse texto.
Melhor parte é a edição da câmera exclusiva, pena que aqui no trampo o youtube é palavra proibida.