Domingo de manhã fui pra praia. No caminho, avistei inúmeros transeuntes com camisa do Bahia. Ganharam um jogo no dia anterior, foram pra décima primeira colocação do campeonato da segunda divisão e fizeram carreata com buzinaço. No dia seguinte saíram às ruas orgulhosos do incrível feito. A manchete do jornal Correio estampava “Tricolor voltou”.
Ontem o tricolor voltou ao normal e empatou com o Juventude, dentro de Pituaçu, depois de abrir dois a zero. A manchete do Correio foi “Tricolor dá mole”.
Um amigo meu torcedor do Vitória disse que ia dar um pacote de meia pro Bahia.
¬- Tenho vários pares lá em casa.
Ele disse que ouviu a resenha do jogo e que a reclamação chorosa era “o Bahia não tem meia, o Bahia não tem meia...”.
Já na praia, avistei um grupo jogando bola, fazendo salão. Um deles estava com a camisa do Vitória. Fui dar um mergulho e ao passar por ele, perguntei:
¬– E esse Vitória hoje?
– Vai brocar – respondeu.
Minha irmã nunca foi a um estádio e momentos antes de sair de casa, ela me ligou dizendo que iria também. “Vai dar sorte”, pensei, espantando pra longe a chance dela ser pé-frio.
Era um jogo importante onde o Vitória precisava vencer por dois motivos óbvios: era no Barradão e era a chance de voltar ao G4.
Quando o time empatou com o Atlético MG, os torcedores do Bahia começaram a dizer:
– Agora é ladeira abaixo.
– Depois perdeu pro Corinthians e eles disseram:
– Nunca mais vai voltar ao G4.
Interessante é que antes do campeonato começar, a urucubaca era de que o Vitória ia cair. Agora a urucubaca é de que o Vitória não fica entre os quatro. São uma espécie divertida esses torcedores do Bahia.
O jogo começou com os olhos em Roger. Na verdade, começou com os olhos em Gléguer, o goleiro reserva que substituía, de última hora, o milagroso Viáfara, pegando a torcida de surpresa.
Roger é o artilheiro do time, fez oito gols, mas perdeu 80. Nesses dois jogos citados acima, o Vitória só não somou quatro pontos por causa dele. O time tem criado, tem jogado bem, o coloca na cara do gol, mas ele perde.
– Essa disgraça não joga nada. Desde o início do campeonato que tô dizendo isso... – dizia um revoltado senhor do meu lado.
Uns defendiam o jogador com “o cara é bom, o cara é bom, não fez oito gols à toa...”.
– Oito gols de cagada, com a bola batendo nele e entrando – gritava o revoltado.
Itacaré é o nome mais falado nessas discussões. A torcida quer que ele entre logo, dizendo que ele está com fome de bola e que jamais perderia os gols que Roger vem perdendo.
Primeiro tempo acabou 0 x 0. Com Roger e o Vitória perdendo alguns gols feitos.
– Aí tem que ser jogada de baba, porra; tem que ser jogada de baba – disse o tal senhor, depois de um dos inúmeros gols perdidos. – Dá um-dois, dá um dois... – dizia ele, falando da famosa tabelinha rápida na entrada da área.
– Brincadeira uma porra dessa, viu? – disse outro.
Apesar do zero a zero e do fantasma de outro empate no Barradão, a torcida aplaudiu o time que saía de campo, reconhecendo o esforço em buscar o gol. O Vitória não está no G4 à toa.
O Vitória veio pro segundo tempo ainda melhor do que no final do primeiro, quando foi mais objetivo. Queria o gol. Bida, que acabara de entrar, quase fez o dele logo no início. O gol iria sair. Tinha de sair. O Barueri estava perdendo e um gol colocaria o Vitória na terceira colocação. E num passe magistral, sublime e poético de Bida, Leandro Domingues matou no peito e mostrou a Roger como é que faz. Chutaço, golaço, um a zero, minha porra.
Filmei o gol. Pelo menos foi o que achei na hora. Só em casa, editando, que percebi que não filmei. Dessa vez foi eu quem perdi o gol.
Por causa disso, inicialmente, achei que não valia a pena fazer o vídeo (clique aqui). Sem o gol não teria graça, mas depois mudei de idéia. Trabalhar com o que tem é o que deve ser feito. Carpegiani tá fazendo assim e tá no caminho certo.
Menção honrosa para minha irmã, que estreou com pé quente e para ótima atuação do goleiro Gléguer, que estreou da mesma maneira.
O lance agora é G3.
quarta-feira, 29 de julho de 2009
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Vitória X Atlético MG (o Galo e uma galinha)
O jogo seria difícil. Era contra o líder do campeonato e com o Vitória desfalcado dos seus três zagueiros titulares. Zagueiros estes que vêm fazendo um ótimo campeonato.
Como sempre, mesmo com chuva, muitas crianças no estádio.
Na parte de cima a torcida do Atlético MG era escoltada pela polícia até o local dos visitantes. Um princípio de confusão começa. Eu estava no terceiro degrau, bem em cima, e pude ver a confusão entre as pernas dos torcedores dos degraus acima. O clássico Coturnos X Chinelos começava. Um torcedor do Vitória passa por mim apressado, descendo os enormes degraus como se estivesse fugindo de algo. Algo de farda e cassetete na mão. Subiu só pra procurar confusão, fez sua bagunça e desceu correndo. A vontade que dá é de dar um empurrão pra ele descer capotando arquibancada abaixo... Mas é só uma vontade.
Também não filmo briga. Gasta a bateria da filmadora e a fita custa caro. Tem coisas mais interessantes pra filmar, como um torcedor do Bahia no meio da torcida do Atlético MG. Parecia uma galinha no meio dos galos. Toda saltitante. Como não tem time pra torcer tem que ir ciscar no Barradão.
– Ah, no jogo do Bahia com o Fast também tinha torcedor do Vitória que eu vi – disse um amigo meu tricolor.
– No do Bahia com o Amazonense também – disse outro.
– Tem vídeo disso? – perguntei.
– Não...
– O meu tem. (clique aqui)
O Vitória começou mal. Parecia que a zaga improvisada daria mole a qualquer hora. E até deu um, mas, assim como Jesus, Viáfara salva.
O Atlético MG permanecia no campo de ataque. O Vitória parecia desconfiado da zaga improvisada e não arriscava muito. Só com o passar dos minutos, ganhando mais confiança, que o time passou a dominar o meio de campo. Eu queria que o primeiro tempo terminasse logo, pois depois da conversa nos vestiários o Vitória só poderia melhorar. Carpegiani estava vendo os erros. Concertaria.
No finalzinho, um delírio frustrante com um gol anulado. Realmente estava impedido, mas se fosse, por exemplo, do Corinthians, desconfio de que não seria anulado.
Mesmo sem jogar bem o Vitória saiu aplaudido de campo.
A conversa nos vestiários funcionou e o time voltou outro pro segundo tempo. Ficou mais tempo no campo de ataque, buscou o gol, criou jogadas... Mas a porra da bola não entrou. Roger bateu um pênalti mais de perto que um pênalti; escolheu o canto, chutou, venceu o goleiro, mas a bola caprichosamente foi na trave.
– Se essa não entrou, não entra mais nenhuma hoje – disse um torcedor do meu lado, que também reclamou muito de Apodi, inclusive dizendo que a culpa dele tá jogando mal é da escova que ele fez no cabelo.
Apodi não voou tanto nesse jogo, mas seus cabelos...
Acredito que Apodi não jogou bem também por conta do problema da zaga. A zaga não comprometeu em nada, não cometeu erros fatais, porém deixou o time receoso.
O saldo positivo foi que em outra ocasião de desfalque o time vai estar mais confiante.
Apodi foi substituído e um início de vaia pra ele começou, mas foi logo engolido por aplausos e gritos de “uh, é Apodi” por parte dos torcedores mais sensatos.
O Vitória jogou bem. Merecia ter ganhado e um empate, mesmo em casa, da forma que foi, não é um resultado pra se lastimar.
– Ah, o Vitória se fudeu – disseram os torcedores do time de Paulo Carneiro no dia seguinte.
Como o Bahia só dá vexame, é uma alegria enorme pra eles o Vitória empatar em casa.
Como sempre, mesmo com chuva, muitas crianças no estádio.
Na parte de cima a torcida do Atlético MG era escoltada pela polícia até o local dos visitantes. Um princípio de confusão começa. Eu estava no terceiro degrau, bem em cima, e pude ver a confusão entre as pernas dos torcedores dos degraus acima. O clássico Coturnos X Chinelos começava. Um torcedor do Vitória passa por mim apressado, descendo os enormes degraus como se estivesse fugindo de algo. Algo de farda e cassetete na mão. Subiu só pra procurar confusão, fez sua bagunça e desceu correndo. A vontade que dá é de dar um empurrão pra ele descer capotando arquibancada abaixo... Mas é só uma vontade.
Também não filmo briga. Gasta a bateria da filmadora e a fita custa caro. Tem coisas mais interessantes pra filmar, como um torcedor do Bahia no meio da torcida do Atlético MG. Parecia uma galinha no meio dos galos. Toda saltitante. Como não tem time pra torcer tem que ir ciscar no Barradão.
– Ah, no jogo do Bahia com o Fast também tinha torcedor do Vitória que eu vi – disse um amigo meu tricolor.
– No do Bahia com o Amazonense também – disse outro.
– Tem vídeo disso? – perguntei.
– Não...
– O meu tem. (clique aqui)
O Vitória começou mal. Parecia que a zaga improvisada daria mole a qualquer hora. E até deu um, mas, assim como Jesus, Viáfara salva.
O Atlético MG permanecia no campo de ataque. O Vitória parecia desconfiado da zaga improvisada e não arriscava muito. Só com o passar dos minutos, ganhando mais confiança, que o time passou a dominar o meio de campo. Eu queria que o primeiro tempo terminasse logo, pois depois da conversa nos vestiários o Vitória só poderia melhorar. Carpegiani estava vendo os erros. Concertaria.
No finalzinho, um delírio frustrante com um gol anulado. Realmente estava impedido, mas se fosse, por exemplo, do Corinthians, desconfio de que não seria anulado.
Mesmo sem jogar bem o Vitória saiu aplaudido de campo.
A conversa nos vestiários funcionou e o time voltou outro pro segundo tempo. Ficou mais tempo no campo de ataque, buscou o gol, criou jogadas... Mas a porra da bola não entrou. Roger bateu um pênalti mais de perto que um pênalti; escolheu o canto, chutou, venceu o goleiro, mas a bola caprichosamente foi na trave.
– Se essa não entrou, não entra mais nenhuma hoje – disse um torcedor do meu lado, que também reclamou muito de Apodi, inclusive dizendo que a culpa dele tá jogando mal é da escova que ele fez no cabelo.
Apodi não voou tanto nesse jogo, mas seus cabelos...
Acredito que Apodi não jogou bem também por conta do problema da zaga. A zaga não comprometeu em nada, não cometeu erros fatais, porém deixou o time receoso.
O saldo positivo foi que em outra ocasião de desfalque o time vai estar mais confiante.
Apodi foi substituído e um início de vaia pra ele começou, mas foi logo engolido por aplausos e gritos de “uh, é Apodi” por parte dos torcedores mais sensatos.
O Vitória jogou bem. Merecia ter ganhado e um empate, mesmo em casa, da forma que foi, não é um resultado pra se lastimar.
– Ah, o Vitória se fudeu – disseram os torcedores do time de Paulo Carneiro no dia seguinte.
Como o Bahia só dá vexame, é uma alegria enorme pra eles o Vitória empatar em casa.
quarta-feira, 15 de julho de 2009
Vitória X Santos (peixe de chocolate)
Levei de novo meu sobrinho torcedor do Bahia. Como já disse, faço isso pelo menino, pra ele ver um jogo de primeira, com jogadores de primeira, com times de primeira... Além de tudo, ele foi pé quente contra o Grêmio.
Como já disse também, ele joga no infantil do Bahia e viu o time do Santos por lá no Fazendão, treinando pro confronto com o Vitória.
“Mancini fez um golaço”, disse ele, comentando sobre um coletivo em que o treinador (ex) do Santos participou.
Também levei Cezar, um amigo que não ia ao Barradão desde 2004.
– Você não é pé frio, não, né?
– Tá maluco... – respondeu ele.
Chegamos cedo e pela primeira vez na história dessa porra eu não peguei fila pra entrar pela portaria do “Sou mais Vitória”.
O jogo começou.
– O jogo vai ser duro – disse um senhor do meu lado – Mancini conhece o Vitória.É um a zero Vitória – completou.
E em três minutos esse um a zero apareceu. Vacilo clássico de goleiro X astúcia clássica de atacante. Foi dar um chutão, furou, atacante atento, gol.Um a zero. Torcida comemorando e meu sobrinho disse:
– O Santos vai virar.
– Quem vai virar é você, que vai virar Vitória – respondi.
Um gol dessa forma, no início do jogo, além de mexer com o emocional de um time, desmonta todo o seu esquema tático. E isso ficou evidente. O Peixe ficou sem ar, balançando pra lá e pra cá, até que aos 15 minutos Leandro Domingues fez um lançamento primoroso para Roger, o autor do primeiro gol, que chutou para uma boa defesa de Douglas, o goleiro do Santos, o redimindo da merda que fez no lance do primeiro gol. Porém, ele deu rebote e a bola voltou pra Roger, que se redimiu da merda que fez no primeiro chute. Dois a zero.
– Assim vai ser mole – disse o senhor do meu lado, que antes tinha dito que ia ser duro. O que ele não imaginava, nem ninguém ali, é que seria tão mole.
Aos 24 minutos, outro contra ataque fulminante e terceiro gol do Vitória. Três a zero. Aos 28, quatro a zero com um gol Victor Ramos, zagueiro da divisão de base.
– Acabou o jogo. Acho até que vou sair do estádio. Lá fora posso tomar uma cerveja e ver o resto do jogo pelo rádio – brincou Cezar.
O Santos tremia em campo. Tentou sem perigo por algumas vezes, mas nada acontecia. O Vitória, naturalmente, diminuiu o ritmo depois do chocolate que dava. O Santos continuou tentando e conseguiu um pênalti no último lance. Quatro a um. Logo depois da cobrança do pênalti o juiz apitou o fim do primeiro tempo. Os aplausos da torcida do Santos pro golzinho nem foram ouvidos, pois foram abafados pelos aplausos da torcida do Vitória, que aplaudia o time que saia de campo.
– O Santos vai virar – disse meu sobrinho.
Segundo tempo começou e como era de se esperar, o Santos veio pra cima. O gol no final do tempo anterior deu um ânimo extra aos jogadores, que numa falta cobrada ao 16 minutos, chegou ao segundo gol. Quatro a dois.
– O Santos vai virar – disse meu sobrinho.
A torcida do Vitória não se abalou muito, mas o time, um pouco, e num rápido contra ataque, a bola chegou na cabeça de Kleber Pereira. Graças a uma defesa milagrosa de Viáfara, o Santos não fez quatro a três. A torcida então sentiu o baque.
– O time relaxou – gritou um torcedor.
– O Santos vai virar – disse meu sobrinho.
O Vitória passou a errar passes no meio de campo e o Santos passou a gostar do jogo.
O clima ficou tenso. Um quatro a três seria emoção demais.
– Tomara que essa porra acabe logo – disse Cezar.
Mas o Vitória tem uma coisa que nenhum time tem. Apodi. Com Apodi, as chances do Vitória estar no campo de ataque são maiores. O time recuperou o fôlego, recuperou o meio campo e voltou a atacar. Criou boas chances e conseguiu um pênalti onde Leandro Domingues, que deu o passe para três dos quatro gols, converteu. Cinco a dois. Nem meu sobrinho falou mais nada. O chocolate já estava escancarado. Cinco minutos depois, Jackson, que acabara de entrar, fez o dele depois de quatro meses parado. Primeiro ele perdeu um gol de cara, chutando pra fora, mas logo depois, ele começou uma jogada tocando pra Roger e correndo pra receber em velocidade, cabeceando de forma fulminante. Seis a dois.
Veja aqui o vídeo do jogo. Não consegui filmar todos os gols (foram muitos), mas tem boas cenas.
Ironia do destino: Mancini pediu demissão do Vitória, mas no primeiro confronto depois disso, o Vitória foi lá e “demitiu” Mancini. Ele achou que conhecia o Vitória, mas na verdade era o Vitória que o conhecia.
Cezar disse:
– Rapaz, quando o juiz apitar, dê um zoom pra filmar Mancini de perto que você vai ver um cara se aproximando dele com a rescisão e uma caneta.
Depois disso o Santos ficou entregue e o Vitória perdeu gols sucessivos. Poderia ter sido nove ou dez a dois. Apodi infernizou o ataque do time que o desprezou no ano passado. Não tem como ele não correr, é só ele pegar na bola que vinte mil pessoas começam a gritar “vai, Apodi, vai, Apodi, vai, maluco, vai, Apodi...”. E ele vai.
Apodi é ídolo. Devia ter uma estátua dele no Barradão. Só assim pra ver ele parado.
Os torcedores do Bahia torcem contra Apodi, fazem piadas sobre ele, tentam denegrir, invejosamente, o nosso velocista... Mas a gente entende. Os caras estão acabados.
De vez em quando eu leio blogs alheios de torcedores do Bahia (assim como leio blogs de torcedores do Flamengo, do Corinthians, do Internacional...) e os textos dos torcedores do Bahia são o reflexo da nostalgia. Os temas são sempre “ah, como era bom aquele tempo, 30 anos atrás...”, ou de revolta por goleadas sofridas contra Américas da PQP, Ipatingas e Figueirenses.
E Paulo Carneiro vestindo a camisa do Bahia foi a coisa mais estapafúrdia do ano. O termo “vestir a camisa da empresa” pode se empregar em qualquer ocasião, menos em um time de futebol, onde a camisa é o que veste, sobretudo, o torcedor. Mudar de time quando criança, tudo bem, é normal, é aceitável, o indivíduo está começando a entender as coisas, vendo quem ganha, quem perde e assim passa a gostar de um time ou de outro. Conheço tricolores filhos de rubro-negros e vice-versa. Mas virar a folha depois de velho é lamentável. A torcida do Bahia ainda aceita esse tipo de coisa.
Quando ele foi anunciado, eles repudiaram:
– Um rubro-negro no meu Baêa?! Nem com a porra – diziam os tricolores.
Aí ele deu uma entrevista cheia de pompa, usando uma linguagem moderna de marketing, falando em números, falando do seu passado...
– O cara é um bom administrador, hoje o futebol moderno precisa disso... – mudaram o discurso.
Chega a ser decepcionante ver em como acreditam em tudo. É como lotar a Fonte Nova pra recepcionar Viola em 2005, com 37 anos de idade. Cinqüenta mil foram ver Kaká no Real Madri; mais que isso foi ver Viola. Muitos tricolores ainda se vangloriam desses números.
De qualquer forma, já que Paulo Carneiro fez isso de vestir a camisa, ou ele devia ter feito um regime ou ter pedido à empresa que confecciona aquele pano uma XXG.
Enquanto isso, muitas crianças no Barradão comemoravam, felizes, rindo contentes por causa do seu time. Deve ser por isso que meus amigos torcedores do Bahia andam tão nervosos. Os torcedores mirins do seu time estão sumindo. Sem crianças nos estádios não existe felicidade. Elas estão querendo ir ver o jogo do Vitória.
Como já disse também, ele joga no infantil do Bahia e viu o time do Santos por lá no Fazendão, treinando pro confronto com o Vitória.
“Mancini fez um golaço”, disse ele, comentando sobre um coletivo em que o treinador (ex) do Santos participou.
Também levei Cezar, um amigo que não ia ao Barradão desde 2004.
– Você não é pé frio, não, né?
– Tá maluco... – respondeu ele.
Chegamos cedo e pela primeira vez na história dessa porra eu não peguei fila pra entrar pela portaria do “Sou mais Vitória”.
O jogo começou.
– O jogo vai ser duro – disse um senhor do meu lado – Mancini conhece o Vitória.É um a zero Vitória – completou.
E em três minutos esse um a zero apareceu. Vacilo clássico de goleiro X astúcia clássica de atacante. Foi dar um chutão, furou, atacante atento, gol.Um a zero. Torcida comemorando e meu sobrinho disse:
– O Santos vai virar.
– Quem vai virar é você, que vai virar Vitória – respondi.
Um gol dessa forma, no início do jogo, além de mexer com o emocional de um time, desmonta todo o seu esquema tático. E isso ficou evidente. O Peixe ficou sem ar, balançando pra lá e pra cá, até que aos 15 minutos Leandro Domingues fez um lançamento primoroso para Roger, o autor do primeiro gol, que chutou para uma boa defesa de Douglas, o goleiro do Santos, o redimindo da merda que fez no lance do primeiro gol. Porém, ele deu rebote e a bola voltou pra Roger, que se redimiu da merda que fez no primeiro chute. Dois a zero.
– Assim vai ser mole – disse o senhor do meu lado, que antes tinha dito que ia ser duro. O que ele não imaginava, nem ninguém ali, é que seria tão mole.
Aos 24 minutos, outro contra ataque fulminante e terceiro gol do Vitória. Três a zero. Aos 28, quatro a zero com um gol Victor Ramos, zagueiro da divisão de base.
– Acabou o jogo. Acho até que vou sair do estádio. Lá fora posso tomar uma cerveja e ver o resto do jogo pelo rádio – brincou Cezar.
O Santos tremia em campo. Tentou sem perigo por algumas vezes, mas nada acontecia. O Vitória, naturalmente, diminuiu o ritmo depois do chocolate que dava. O Santos continuou tentando e conseguiu um pênalti no último lance. Quatro a um. Logo depois da cobrança do pênalti o juiz apitou o fim do primeiro tempo. Os aplausos da torcida do Santos pro golzinho nem foram ouvidos, pois foram abafados pelos aplausos da torcida do Vitória, que aplaudia o time que saia de campo.
– O Santos vai virar – disse meu sobrinho.
Segundo tempo começou e como era de se esperar, o Santos veio pra cima. O gol no final do tempo anterior deu um ânimo extra aos jogadores, que numa falta cobrada ao 16 minutos, chegou ao segundo gol. Quatro a dois.
– O Santos vai virar – disse meu sobrinho.
A torcida do Vitória não se abalou muito, mas o time, um pouco, e num rápido contra ataque, a bola chegou na cabeça de Kleber Pereira. Graças a uma defesa milagrosa de Viáfara, o Santos não fez quatro a três. A torcida então sentiu o baque.
– O time relaxou – gritou um torcedor.
– O Santos vai virar – disse meu sobrinho.
O Vitória passou a errar passes no meio de campo e o Santos passou a gostar do jogo.
O clima ficou tenso. Um quatro a três seria emoção demais.
– Tomara que essa porra acabe logo – disse Cezar.
Mas o Vitória tem uma coisa que nenhum time tem. Apodi. Com Apodi, as chances do Vitória estar no campo de ataque são maiores. O time recuperou o fôlego, recuperou o meio campo e voltou a atacar. Criou boas chances e conseguiu um pênalti onde Leandro Domingues, que deu o passe para três dos quatro gols, converteu. Cinco a dois. Nem meu sobrinho falou mais nada. O chocolate já estava escancarado. Cinco minutos depois, Jackson, que acabara de entrar, fez o dele depois de quatro meses parado. Primeiro ele perdeu um gol de cara, chutando pra fora, mas logo depois, ele começou uma jogada tocando pra Roger e correndo pra receber em velocidade, cabeceando de forma fulminante. Seis a dois.
Veja aqui o vídeo do jogo. Não consegui filmar todos os gols (foram muitos), mas tem boas cenas.
Ironia do destino: Mancini pediu demissão do Vitória, mas no primeiro confronto depois disso, o Vitória foi lá e “demitiu” Mancini. Ele achou que conhecia o Vitória, mas na verdade era o Vitória que o conhecia.
Cezar disse:
– Rapaz, quando o juiz apitar, dê um zoom pra filmar Mancini de perto que você vai ver um cara se aproximando dele com a rescisão e uma caneta.
Depois disso o Santos ficou entregue e o Vitória perdeu gols sucessivos. Poderia ter sido nove ou dez a dois. Apodi infernizou o ataque do time que o desprezou no ano passado. Não tem como ele não correr, é só ele pegar na bola que vinte mil pessoas começam a gritar “vai, Apodi, vai, Apodi, vai, maluco, vai, Apodi...”. E ele vai.
Apodi é ídolo. Devia ter uma estátua dele no Barradão. Só assim pra ver ele parado.
Os torcedores do Bahia torcem contra Apodi, fazem piadas sobre ele, tentam denegrir, invejosamente, o nosso velocista... Mas a gente entende. Os caras estão acabados.
De vez em quando eu leio blogs alheios de torcedores do Bahia (assim como leio blogs de torcedores do Flamengo, do Corinthians, do Internacional...) e os textos dos torcedores do Bahia são o reflexo da nostalgia. Os temas são sempre “ah, como era bom aquele tempo, 30 anos atrás...”, ou de revolta por goleadas sofridas contra Américas da PQP, Ipatingas e Figueirenses.
E Paulo Carneiro vestindo a camisa do Bahia foi a coisa mais estapafúrdia do ano. O termo “vestir a camisa da empresa” pode se empregar em qualquer ocasião, menos em um time de futebol, onde a camisa é o que veste, sobretudo, o torcedor. Mudar de time quando criança, tudo bem, é normal, é aceitável, o indivíduo está começando a entender as coisas, vendo quem ganha, quem perde e assim passa a gostar de um time ou de outro. Conheço tricolores filhos de rubro-negros e vice-versa. Mas virar a folha depois de velho é lamentável. A torcida do Bahia ainda aceita esse tipo de coisa.
Quando ele foi anunciado, eles repudiaram:
– Um rubro-negro no meu Baêa?! Nem com a porra – diziam os tricolores.
Aí ele deu uma entrevista cheia de pompa, usando uma linguagem moderna de marketing, falando em números, falando do seu passado...
– O cara é um bom administrador, hoje o futebol moderno precisa disso... – mudaram o discurso.
Chega a ser decepcionante ver em como acreditam em tudo. É como lotar a Fonte Nova pra recepcionar Viola em 2005, com 37 anos de idade. Cinqüenta mil foram ver Kaká no Real Madri; mais que isso foi ver Viola. Muitos tricolores ainda se vangloriam desses números.
De qualquer forma, já que Paulo Carneiro fez isso de vestir a camisa, ou ele devia ter feito um regime ou ter pedido à empresa que confecciona aquele pano uma XXG.
Enquanto isso, muitas crianças no Barradão comemoravam, felizes, rindo contentes por causa do seu time. Deve ser por isso que meus amigos torcedores do Bahia andam tão nervosos. Os torcedores mirins do seu time estão sumindo. Sem crianças nos estádios não existe felicidade. Elas estão querendo ir ver o jogo do Vitória.
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