Alguém anotou a placa do trator que passou levando tudo no Barradão?
Depois do líder, era a hora de pegar o vice líder, o Internacional, considerado pela grande maioria o melhor time do país. Pode até ser, mas, nesse jogo, o melhor time do país saiu de campo mais tonto que Maguila depois do nocaute que sofreu do Hollyfield original.
A torcida do Internacional estava um tanto pequenina e mesmo assim devia ter mais gente ali do que no estádio de Pituaçu, no jogo do dia anterior, com Bahia 1 X 2 Brasiliense.
Ainda bem que tem um time nessa porra pra honrar o Estado e o Nordeste.
Pra falar do Vitória nesse jogo, nada mais justo que começar do começo, falando do número um. Não tenho dúvidas de que Viáfara é o melhor goleiro em atividade no futebol brasileiro. A defesa que ele fez no chute de D’Alessandro, aos 40 do primeiro tempo, mudou o enredo do jogo e mais uma vez me faz ter de pedir desculpas a ele por não registrar os seus feitos nos vídeos que faço para este blog. Durante o jogo ele ainda fez outras defesas espetaculares, parando os chutes de Taison, Andrezinho e Alecsandro, porém, essa foi tão absurda que deixa as outras menores.
Do ídolo Apodi só tenho três coisas pra falar: deu vários chutes perigosos contra o gol colorado (sem falar na bicicleta), marcou feito gente grande e colocou Giñazu na roda pedindo pinico.
Na verdade, para escrever com justiça sobre esse jogo, sobretudo o segundo tempo, teria de esmiuçar todos os jogadores do Vitória, sem exceção, pois todos que entraram na partida foram fundamentais e jogaram com extrema excelência. Da defesa ao ataque, o time deu uma aula de futebol. O time e a torcida. Na hora do primeiro gol, antes da cobrança de escanteio magistral de Ramon, ela já cantava em uníssono, como que prevendo que o gol sairia naquela jogada. E na alta zaga gaúcha, Uéliton subiu com o canto que vinha das arquibancadas pra fazer um a zero Vitória. Veja vídeo aqui.
O Inter saiu desesperado. Fez a primeira substituição, não conseguiu segurar o Vitória e fez o segundo penalty do jogo (e o primeiro marcado pelo árbitro mineiro Alício Pena Junior). Ramon, el maestro, lançou, mais uma vez de forma magistral, na medida pra Roger, el artilheiro, que foi derrubado. O próprio Roger cobrou e dois a zero Vitória. Veja vídeo aqui.
O Inter em seguida fez a segunda substituição e dois minutos depois fez a terceira pra tentar alguma coisa, mas poderia ter feito a quarta, a quinta e a sexta que nada adiantaria. “Eu, eu, eu, caiu na Toca se f...”, avisava a torcida rubro-negra.
A bateria da filmadora acabou e não pude registrar os últimos cinco minutos, com a torcida fazendo ôla e gritando “olé”, enquanto o Vitória fazia o Inter de bobinho, por toda a extensão do gramado.
“Arerê, o gaúcho dá o c... e grita thcê, êê...”, cantava um torcedor do Vitória em direção a um grupo de colorados, na saída do estádio, dizendo a eles que o Vitória é Campeão Gaúcho, pois esse ano brocou o Grêmio, o Internacional e o Juventude.
Enquanto isso, do outro lado da cidade...
Liguei pra um amigo meu torcedor do Bahia, mas o celular dele estava na caixa.
Tem estado muito na caixa ultimamente.
domingo, 20 de setembro de 2009
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Vitória X Palmeiras (valeu, São Marcos)
No meio da semana eu já tinha ido ao jogo da seleção e durante a partida cheguei a conclusão de que um jogo do Vitória é bem mais emocionante. Algumas coisas são até semelhantes, pois em ambas tem torcedor do Bahia fazendo papel de otário.
No jogo contra o Chile, sentei colado com a torcida chilena e a torcida do Bahia, que por estar vestida com as mesmas cores do Chile, era motivo de piada por parte dos hermanos:
– Vocês são chilenos? – perguntava um.
Como ali era a única forma do tricolor baiano aparecer pro Brasil, eles tentaram durante o jogo um grito de “Bahia”, mas foram humilhantemente calados pelas vaias que ecoaram pelo estádio de Pituaçu.
No Barradão eles são mais covardes e foram de verde. Revoltados pela humilhação sofrida no dia anterior, quando tomaram de 4 x 1 da Portuguesa, os torcedores do Bahia foram torcer pro Palmeiras, acreditando que assim poderiam sentir um pouquinho do doce sabor da vitória. Tentaram de novo ecoar alguns gritos, porém, mais uma vez, foram abafados pela massa rubro-negra que enchia o estádio.
Jogo contra o líder do campeonato é sempre apreensivo, mas no banheiro, mijando antes do jogo, enquanto um torcedor do Palmeiras, ou melhor, do Bahia, mijava, um outro rubro-negro disse:
– Esse palmeirense tá aqui mijando, mas tem um palmeirense que sempre que joga contra o Vitória se caga todo...
– Quem é? – perguntou um outro anônimo.
– Marcos – respondeu, gerando risada de todos, menos do torcedor indefinido.
O fato do goleiro palmeirense se cagar contra o Vitória (lembrando o 7 x 2 e o rebaixamento anos atrás) geraria outras risadas aos 19 minutos do primeiro tempo. Ramon cruzou, ele foi tirar de forma estabanada, mirou na moleira de Uéliton e um a zero Vitória. Veja o vídeo exclusivo aqui.
O Vitória, que antes do gol já tinha metido uma bola na trave com Roger, continuou pressionando e aos 36 minutos, o nome do time nessa fase da competição perdeu o gol mais feito de todos os babas do fim de semana. Na jogada, Marcos cagou de novo, dessa vez numa simples saída de bola, e a dita cuja sobrou pra Berola que tentou limpa-lo, mas, talvez pelo goleiro já estar todo melado, não conseguiu.
– Que porra! Lá no meu baba, que eu PAGO pra jogar, se eu perder um gol desse eu sou tirado na hora. Esse cara GANHA pra isso e perde o gol?! Putaquepariu, vá tomar no c... – gritava um torcedor do meu lado, fortalecendo as palavras em caixa alta.
Pior que ter perdido esse gol foi tomar um logo depois, o que fez a torcida se irritar mais ainda desse gol perdido. Mais até do que com o gol sofrido:
– Se tivesse feito dois a zero o jogo era outro... Era pra chegar chutando. Porra! – reclamava o mesmo, que fez esse discurso durante todo o intervalo.
Um a um e fim do primeiro tempo.
O segundo tempo começou e o Palmeiras parecia querer ganhar. Voltou melhor, mas como o goleiro do Vitória não se caga diante deles, defendeu as duas jogadas dos paulistas. Depois disso, pra desespero dos tricolores, só deu Vitória e aos 25 minutos a bola sobrou pro cara que tinha perdido o gol feito e, dessa vez, ele não repetiu o erro. Neto Berola, dois a um Vitória.
Logo depois, como se só estivesse ali até concertar o erro, Berola saiu do jogo dando lugar a Derlei, que estreava. Aos 35 ele mandou perto, mas aos 39 mandou pra longe. Pra longe do alcance de Marcos, que até salvou o que seria um gol olímpico de Ramon, mas ficou ajoelhado dentro do gol, vendo o estreante fazer o terceiro rubro-negro.
“É, o Vitória é foda”, pensou o goleiro alviverde.
Depois o Palmeiras fez um golzinho sem graça, mas muitos tricolores já deixavam o estádio.
Vitória 3 X 2 Palmeiras.
Perder em casa, em um jogo da segunda divisão, é uma coisa.
Ser humilhado em casa com um chocolate, em um jogo da segunda divisão, com o quarto gol de cobertura, é outra coisa.
Ganhar em casa, em um jogo da primeira divisão é uma coisa.
Ganhar do líder, em um jogo da primeira divisão, no mesmo fim de semana que o outro é humilhado com um chocolate, com o quarto gol de cobertura, é outra coisa.
Moro do lado de um escola infantil e nessa segunda-feira, às sete da manhã, os gritos de “nêêêêêêgooooo, nêêêêêêgooooo” entoados pelas crianças soavam como uma divertida melodia. Fim de semana acachapante.
No jogo contra o Chile, sentei colado com a torcida chilena e a torcida do Bahia, que por estar vestida com as mesmas cores do Chile, era motivo de piada por parte dos hermanos:
– Vocês são chilenos? – perguntava um.
Como ali era a única forma do tricolor baiano aparecer pro Brasil, eles tentaram durante o jogo um grito de “Bahia”, mas foram humilhantemente calados pelas vaias que ecoaram pelo estádio de Pituaçu.
No Barradão eles são mais covardes e foram de verde. Revoltados pela humilhação sofrida no dia anterior, quando tomaram de 4 x 1 da Portuguesa, os torcedores do Bahia foram torcer pro Palmeiras, acreditando que assim poderiam sentir um pouquinho do doce sabor da vitória. Tentaram de novo ecoar alguns gritos, porém, mais uma vez, foram abafados pela massa rubro-negra que enchia o estádio.
Jogo contra o líder do campeonato é sempre apreensivo, mas no banheiro, mijando antes do jogo, enquanto um torcedor do Palmeiras, ou melhor, do Bahia, mijava, um outro rubro-negro disse:
– Esse palmeirense tá aqui mijando, mas tem um palmeirense que sempre que joga contra o Vitória se caga todo...
– Quem é? – perguntou um outro anônimo.
– Marcos – respondeu, gerando risada de todos, menos do torcedor indefinido.
O fato do goleiro palmeirense se cagar contra o Vitória (lembrando o 7 x 2 e o rebaixamento anos atrás) geraria outras risadas aos 19 minutos do primeiro tempo. Ramon cruzou, ele foi tirar de forma estabanada, mirou na moleira de Uéliton e um a zero Vitória. Veja o vídeo exclusivo aqui.
O Vitória, que antes do gol já tinha metido uma bola na trave com Roger, continuou pressionando e aos 36 minutos, o nome do time nessa fase da competição perdeu o gol mais feito de todos os babas do fim de semana. Na jogada, Marcos cagou de novo, dessa vez numa simples saída de bola, e a dita cuja sobrou pra Berola que tentou limpa-lo, mas, talvez pelo goleiro já estar todo melado, não conseguiu.
– Que porra! Lá no meu baba, que eu PAGO pra jogar, se eu perder um gol desse eu sou tirado na hora. Esse cara GANHA pra isso e perde o gol?! Putaquepariu, vá tomar no c... – gritava um torcedor do meu lado, fortalecendo as palavras em caixa alta.
Pior que ter perdido esse gol foi tomar um logo depois, o que fez a torcida se irritar mais ainda desse gol perdido. Mais até do que com o gol sofrido:
– Se tivesse feito dois a zero o jogo era outro... Era pra chegar chutando. Porra! – reclamava o mesmo, que fez esse discurso durante todo o intervalo.
Um a um e fim do primeiro tempo.
O segundo tempo começou e o Palmeiras parecia querer ganhar. Voltou melhor, mas como o goleiro do Vitória não se caga diante deles, defendeu as duas jogadas dos paulistas. Depois disso, pra desespero dos tricolores, só deu Vitória e aos 25 minutos a bola sobrou pro cara que tinha perdido o gol feito e, dessa vez, ele não repetiu o erro. Neto Berola, dois a um Vitória.
Logo depois, como se só estivesse ali até concertar o erro, Berola saiu do jogo dando lugar a Derlei, que estreava. Aos 35 ele mandou perto, mas aos 39 mandou pra longe. Pra longe do alcance de Marcos, que até salvou o que seria um gol olímpico de Ramon, mas ficou ajoelhado dentro do gol, vendo o estreante fazer o terceiro rubro-negro.
“É, o Vitória é foda”, pensou o goleiro alviverde.
Depois o Palmeiras fez um golzinho sem graça, mas muitos tricolores já deixavam o estádio.
Vitória 3 X 2 Palmeiras.
Perder em casa, em um jogo da segunda divisão, é uma coisa.
Ser humilhado em casa com um chocolate, em um jogo da segunda divisão, com o quarto gol de cobertura, é outra coisa.
Ganhar em casa, em um jogo da primeira divisão é uma coisa.
Ganhar do líder, em um jogo da primeira divisão, no mesmo fim de semana que o outro é humilhado com um chocolate, com o quarto gol de cobertura, é outra coisa.
Moro do lado de um escola infantil e nessa segunda-feira, às sete da manhã, os gritos de “nêêêêêêgooooo, nêêêêêêgooooo” entoados pelas crianças soavam como uma divertida melodia. Fim de semana acachapante.
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
Vitória X Cruzeiro (empate vitorioso)
Chuva da porra, horário de filha da puta, time sem emplacar, amigo desistindo de ir, mulher insistindo pra não ir... mas eu fui. Às 18 em ponto parei meu carro no estacionamento e fiquei esperando o temporal passar. Deu 18:15 e a chuva só aumentou. O rádio dizia que o campo estava encharcado. “Se a chuva não passar, vou voltar pra casa”, pensei. Deu 18:20, a chuva não passou e a rádio entrevistou um torcedor de dentro do estádio:
– E aí, muita chuva, né? – perguntou o repórter.
– Rapaz, muita chuva, mas eu queria pedir ao torcedor do Vitória que estiver me ouvindo agora, que ele venha pro jogo, que enfrente a chuva, porque saiba que o Vitória tá nessa situação porque ele joga na primeira divisão do campeonato brasileiro, então só tem jogo difícil e tem que ser assim, porque a coisa é na raça, pois pra tá aqui é pra jogar com os melhores, com Internacional, com Flamengo, com Cruzeiro, Palmeiras, Corinthians... então, torcedor, você que tá me ouvindo, venha... – o repórter ficou mudo e eu abri a porta do carro.
Coloquei a filmadora debaixo do meu eficiente casaco de chuva e fiquei na fila do nada eficiente Sou Mais Vitória. O estádio bem mais vazio que o habitual e ainda assim tinha fila.
Entrei no estádio e a chuva, suavemente, passou.
Mesmo entrando com o jogo já em andamento, fui ao banheiro. Não consigo ver o jogo com vontade de mijar. Mijei, sentei e gol do Cruzeiro. Três minutos de jogo. No lamaçal, jogadores escorregando, drible doido surtindo efeito, um maluco chutou, Viáfara fez seu milagre nosso de cada jogo, a defesa fez sua merda nossa de cada jogo, a bola sobrou pra outro maluco que, livre, quase não precisou chutar, pois a bola bateu nele e foi entrando. Um a zero Cruzeiro. A nação rubro-negra não se intimidou e deu apoio aos seus soldados:
– É primeira divisão, porra, é isso mesmo, vamo virar essa porra – gritou o cara do meu lado.
Quando ele se sentou, perguntei:
– E aí, man, beleza... Por acaso foi você quem deu uma entrevista no rádio agora a pouco?
– Não, porquê?
– Nada não...
E o Vitória partiu pra cima. Nino Paraíba teve a difícil missão de substituir um ídolo em um jogo difícil e se saiu muito bem. Rápido como Apodi, deu canseira na boa defesa do Cruzeiro. O Vitória foi com tudo: pelo meio, pelo lado esquerdo, pelo lado direito, de falta, de escanteio, de cabeça, de gol impedido, com Ramon, Leandro, Roger, Neto Berola (que acredito que vai ser o nome do Vitória nessa fase da competição), mas a bola não entrava.
– Esse Roger é uma merda. Que porra... Ele come quem nessa direção? Só pode comer alguém? – desabafou um abafado, impaciente com os constantes gols perdidos de Roger.
Fim do primeiro tempo. Um a zero pro Cruzeiro. Pensei como seria o dia seguinte, a segunda-feira, com meus amigos do trabalho felizes com o Bahia. Quando o Bahia perdeu o CampeoNeto Baiano (pela oitava vez seguida), eles fingiram desprezo; aí a merda ganha um joguinho na segunda divisão e eles fazem carreata. Imaginei como seria o dia seguinte se aquele placar de um a zero persistisse.
Começou o segundo tempo e o Vitória continuou melhor em campo. Mas foi o Cruzeiro quem fez o segundo gol. Pênalti, gol e dois a zero.
“Dá pra empatar”, pensei com fé e quando vi a bola cruzar na área, bem na minha frente (veja aqui no vídeo exclusivo), vi que ela ia pra cabeça de Roger. Lembrei do gol contra o Flamengo no Engenhão nesse ano e pensei “esse ele vai fazer” e fez. Dois a um, três minutos depois do dois a zero. Faltavam ainda 25 minutos de jogo. “Dá pra empatar”, pensei de novo. E até virar...
O Vitória continuou indo pra cima e o Cruzeiro só tentando os contra-ataques. O Cruzeiro chegou três vezes ao ataque e fez gol em todos. Aos 31, três a um. Foi um banho de água fria, principalmente pelo fato da chuva ter voltado com tudo logo depois desse gol.
Faltavam 14 minutos. Era o mesmo placar pelo qual o Bahia ganhara no dia anterior, também contra um time azul e branco. Pensei até em faltar o trabalho. Se o jogo fosse fora de casa, vá lá... Mas no Barradão é foda.
Aos 38 minutos, a chuva, que passou o jogo todo quieta, anunciava o final melancólico. Faltavam apenas sete minutos e dois gols para pelo menos manter a dignidade. Com a chuva que caía, eu não poderia mais filmar nada para não molhar a máquina e achei melhor ir embora. Desanimado, subi as escadas em direção à saída. Uns dez passos depois que saí do estádio, ouvi o “grande grito” vindo de dentro: GOOOLLLLLL. Primeira vez que eu ouvia um gol de fora do Barradão. Até foi emocionante, mas perguntei o tempo a um torcedor que ouvia pelo rádio, ele respondeu “41”. Um outro que nos ouvia, gritou, revoltado:
– E isso é hora de fazer gol? Perde vinte gols durante o jogo e só faz um gol agora? Que porra!
A chuva engrossou ainda mais, fui andando sozinho em direção ao meu carro, pulando as lamas, cruzando os carros engarrafados e meditando “bora, Vitória, faz mais um gol, só mais um, só mais um, só mais um...”.
Os gritos foram chegando aos poucos, em ondas, até que me dei conta de que só podia ter sido o terceiro gol do Vitória. E era. O buzinaço começou e um cara de uma camionete abriu o vidro só pra me dizer “gol de Roger, gol de Roger”, enquanto a chuva encharcava o interior de seu carro. Gol não: golaço. Desconfio seriamente que pedi tanto “só mais um” que foi por isso que o Vitória não virou o jogo. Se Roger faz aquele quarto gol...
Mas foi um três a três com gosto de vitória, com perdão do trocadilho.
Primeira divisão é assim. Jogo de gente grande. E time grande.
– E aí, muita chuva, né? – perguntou o repórter.
– Rapaz, muita chuva, mas eu queria pedir ao torcedor do Vitória que estiver me ouvindo agora, que ele venha pro jogo, que enfrente a chuva, porque saiba que o Vitória tá nessa situação porque ele joga na primeira divisão do campeonato brasileiro, então só tem jogo difícil e tem que ser assim, porque a coisa é na raça, pois pra tá aqui é pra jogar com os melhores, com Internacional, com Flamengo, com Cruzeiro, Palmeiras, Corinthians... então, torcedor, você que tá me ouvindo, venha... – o repórter ficou mudo e eu abri a porta do carro.
Coloquei a filmadora debaixo do meu eficiente casaco de chuva e fiquei na fila do nada eficiente Sou Mais Vitória. O estádio bem mais vazio que o habitual e ainda assim tinha fila.
Entrei no estádio e a chuva, suavemente, passou.
Mesmo entrando com o jogo já em andamento, fui ao banheiro. Não consigo ver o jogo com vontade de mijar. Mijei, sentei e gol do Cruzeiro. Três minutos de jogo. No lamaçal, jogadores escorregando, drible doido surtindo efeito, um maluco chutou, Viáfara fez seu milagre nosso de cada jogo, a defesa fez sua merda nossa de cada jogo, a bola sobrou pra outro maluco que, livre, quase não precisou chutar, pois a bola bateu nele e foi entrando. Um a zero Cruzeiro. A nação rubro-negra não se intimidou e deu apoio aos seus soldados:
– É primeira divisão, porra, é isso mesmo, vamo virar essa porra – gritou o cara do meu lado.
Quando ele se sentou, perguntei:
– E aí, man, beleza... Por acaso foi você quem deu uma entrevista no rádio agora a pouco?
– Não, porquê?
– Nada não...
E o Vitória partiu pra cima. Nino Paraíba teve a difícil missão de substituir um ídolo em um jogo difícil e se saiu muito bem. Rápido como Apodi, deu canseira na boa defesa do Cruzeiro. O Vitória foi com tudo: pelo meio, pelo lado esquerdo, pelo lado direito, de falta, de escanteio, de cabeça, de gol impedido, com Ramon, Leandro, Roger, Neto Berola (que acredito que vai ser o nome do Vitória nessa fase da competição), mas a bola não entrava.
– Esse Roger é uma merda. Que porra... Ele come quem nessa direção? Só pode comer alguém? – desabafou um abafado, impaciente com os constantes gols perdidos de Roger.
Fim do primeiro tempo. Um a zero pro Cruzeiro. Pensei como seria o dia seguinte, a segunda-feira, com meus amigos do trabalho felizes com o Bahia. Quando o Bahia perdeu o CampeoNeto Baiano (pela oitava vez seguida), eles fingiram desprezo; aí a merda ganha um joguinho na segunda divisão e eles fazem carreata. Imaginei como seria o dia seguinte se aquele placar de um a zero persistisse.
Começou o segundo tempo e o Vitória continuou melhor em campo. Mas foi o Cruzeiro quem fez o segundo gol. Pênalti, gol e dois a zero.
“Dá pra empatar”, pensei com fé e quando vi a bola cruzar na área, bem na minha frente (veja aqui no vídeo exclusivo), vi que ela ia pra cabeça de Roger. Lembrei do gol contra o Flamengo no Engenhão nesse ano e pensei “esse ele vai fazer” e fez. Dois a um, três minutos depois do dois a zero. Faltavam ainda 25 minutos de jogo. “Dá pra empatar”, pensei de novo. E até virar...
O Vitória continuou indo pra cima e o Cruzeiro só tentando os contra-ataques. O Cruzeiro chegou três vezes ao ataque e fez gol em todos. Aos 31, três a um. Foi um banho de água fria, principalmente pelo fato da chuva ter voltado com tudo logo depois desse gol.
Faltavam 14 minutos. Era o mesmo placar pelo qual o Bahia ganhara no dia anterior, também contra um time azul e branco. Pensei até em faltar o trabalho. Se o jogo fosse fora de casa, vá lá... Mas no Barradão é foda.
Aos 38 minutos, a chuva, que passou o jogo todo quieta, anunciava o final melancólico. Faltavam apenas sete minutos e dois gols para pelo menos manter a dignidade. Com a chuva que caía, eu não poderia mais filmar nada para não molhar a máquina e achei melhor ir embora. Desanimado, subi as escadas em direção à saída. Uns dez passos depois que saí do estádio, ouvi o “grande grito” vindo de dentro: GOOOLLLLLL. Primeira vez que eu ouvia um gol de fora do Barradão. Até foi emocionante, mas perguntei o tempo a um torcedor que ouvia pelo rádio, ele respondeu “41”. Um outro que nos ouvia, gritou, revoltado:
– E isso é hora de fazer gol? Perde vinte gols durante o jogo e só faz um gol agora? Que porra!
A chuva engrossou ainda mais, fui andando sozinho em direção ao meu carro, pulando as lamas, cruzando os carros engarrafados e meditando “bora, Vitória, faz mais um gol, só mais um, só mais um, só mais um...”.
Os gritos foram chegando aos poucos, em ondas, até que me dei conta de que só podia ter sido o terceiro gol do Vitória. E era. O buzinaço começou e um cara de uma camionete abriu o vidro só pra me dizer “gol de Roger, gol de Roger”, enquanto a chuva encharcava o interior de seu carro. Gol não: golaço. Desconfio seriamente que pedi tanto “só mais um” que foi por isso que o Vitória não virou o jogo. Se Roger faz aquele quarto gol...
Mas foi um três a três com gosto de vitória, com perdão do trocadilho.
Primeira divisão é assim. Jogo de gente grande. E time grande.
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