quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Vitória X Cruzeiro (empate vitorioso)

Chuva da porra, horário de filha da puta, time sem emplacar, amigo desistindo de ir, mulher insistindo pra não ir... mas eu fui. Às 18 em ponto parei meu carro no estacionamento e fiquei esperando o temporal passar. Deu 18:15 e a chuva só aumentou. O rádio dizia que o campo estava encharcado. “Se a chuva não passar, vou voltar pra casa”, pensei. Deu 18:20, a chuva não passou e a rádio entrevistou um torcedor de dentro do estádio:
– E aí, muita chuva, né? – perguntou o repórter.
– Rapaz, muita chuva, mas eu queria pedir ao torcedor do Vitória que estiver me ouvindo agora, que ele venha pro jogo, que enfrente a chuva, porque saiba que o Vitória tá nessa situação porque ele joga na primeira divisão do campeonato brasileiro, então só tem jogo difícil e tem que ser assim, porque a coisa é na raça, pois pra tá aqui é pra jogar com os melhores, com Internacional, com Flamengo, com Cruzeiro, Palmeiras, Corinthians... então, torcedor, você que tá me ouvindo, venha... – o repórter ficou mudo e eu abri a porta do carro.

Coloquei a filmadora debaixo do meu eficiente casaco de chuva e fiquei na fila do nada eficiente Sou Mais Vitória. O estádio bem mais vazio que o habitual e ainda assim tinha fila.
Entrei no estádio e a chuva, suavemente, passou.

Mesmo entrando com o jogo já em andamento, fui ao banheiro. Não consigo ver o jogo com vontade de mijar. Mijei, sentei e gol do Cruzeiro. Três minutos de jogo. No lamaçal, jogadores escorregando, drible doido surtindo efeito, um maluco chutou, Viáfara fez seu milagre nosso de cada jogo, a defesa fez sua merda nossa de cada jogo, a bola sobrou pra outro maluco que, livre, quase não precisou chutar, pois a bola bateu nele e foi entrando. Um a zero Cruzeiro. A nação rubro-negra não se intimidou e deu apoio aos seus soldados:
– É primeira divisão, porra, é isso mesmo, vamo virar essa porra – gritou o cara do meu lado.
Quando ele se sentou, perguntei:
– E aí, man, beleza... Por acaso foi você quem deu uma entrevista no rádio agora a pouco?
– Não, porquê?
– Nada não...

E o Vitória partiu pra cima. Nino Paraíba teve a difícil missão de substituir um ídolo em um jogo difícil e se saiu muito bem. Rápido como Apodi, deu canseira na boa defesa do Cruzeiro. O Vitória foi com tudo: pelo meio, pelo lado esquerdo, pelo lado direito, de falta, de escanteio, de cabeça, de gol impedido, com Ramon, Leandro, Roger, Neto Berola (que acredito que vai ser o nome do Vitória nessa fase da competição), mas a bola não entrava.
– Esse Roger é uma merda. Que porra... Ele come quem nessa direção? Só pode comer alguém? – desabafou um abafado, impaciente com os constantes gols perdidos de Roger.

Fim do primeiro tempo. Um a zero pro Cruzeiro. Pensei como seria o dia seguinte, a segunda-feira, com meus amigos do trabalho felizes com o Bahia. Quando o Bahia perdeu o CampeoNeto Baiano (pela oitava vez seguida), eles fingiram desprezo; aí a merda ganha um joguinho na segunda divisão e eles fazem carreata. Imaginei como seria o dia seguinte se aquele placar de um a zero persistisse.

Começou o segundo tempo e o Vitória continuou melhor em campo. Mas foi o Cruzeiro quem fez o segundo gol. Pênalti, gol e dois a zero.
“Dá pra empatar”, pensei com fé e quando vi a bola cruzar na área, bem na minha frente (veja aqui no vídeo exclusivo), vi que ela ia pra cabeça de Roger. Lembrei do gol contra o Flamengo no Engenhão nesse ano e pensei “esse ele vai fazer” e fez. Dois a um, três minutos depois do dois a zero. Faltavam ainda 25 minutos de jogo. “Dá pra empatar”, pensei de novo. E até virar...

O Vitória continuou indo pra cima e o Cruzeiro só tentando os contra-ataques. O Cruzeiro chegou três vezes ao ataque e fez gol em todos. Aos 31, três a um. Foi um banho de água fria, principalmente pelo fato da chuva ter voltado com tudo logo depois desse gol.

Faltavam 14 minutos. Era o mesmo placar pelo qual o Bahia ganhara no dia anterior, também contra um time azul e branco. Pensei até em faltar o trabalho. Se o jogo fosse fora de casa, vá lá... Mas no Barradão é foda.

Aos 38 minutos, a chuva, que passou o jogo todo quieta, anunciava o final melancólico. Faltavam apenas sete minutos e dois gols para pelo menos manter a dignidade. Com a chuva que caía, eu não poderia mais filmar nada para não molhar a máquina e achei melhor ir embora. Desanimado, subi as escadas em direção à saída. Uns dez passos depois que saí do estádio, ouvi o “grande grito” vindo de dentro: GOOOLLLLLL. Primeira vez que eu ouvia um gol de fora do Barradão. Até foi emocionante, mas perguntei o tempo a um torcedor que ouvia pelo rádio, ele respondeu “41”. Um outro que nos ouvia, gritou, revoltado:
– E isso é hora de fazer gol? Perde vinte gols durante o jogo e só faz um gol agora? Que porra!

A chuva engrossou ainda mais, fui andando sozinho em direção ao meu carro, pulando as lamas, cruzando os carros engarrafados e meditando “bora, Vitória, faz mais um gol, só mais um, só mais um, só mais um...”.

Os gritos foram chegando aos poucos, em ondas, até que me dei conta de que só podia ter sido o terceiro gol do Vitória. E era. O buzinaço começou e um cara de uma camionete abriu o vidro só pra me dizer “gol de Roger, gol de Roger”, enquanto a chuva encharcava o interior de seu carro. Gol não: golaço. Desconfio seriamente que pedi tanto “só mais um” que foi por isso que o Vitória não virou o jogo. Se Roger faz aquele quarto gol...
Mas foi um três a três com gosto de vitória, com perdão do trocadilho.
Primeira divisão é assim. Jogo de gente grande. E time grande.

3 comentários:

Anônimo disse...

Mas que é uma sacanagem com a torcida esse horários e a localização, ainda ser esculhambada pelos "radialistas" locais, isso é.

Juh disse...

Nesse dia,eu estava ouvindo pelo rádio,emoção pura esse jogo!

BORA MEU VITÓRIA \O/

essa bosta toda disse...

Porra man, aconteceu comigo a mesma coisa, a diferença foi que cheguei meia hora antes.
Bóra minha porra.