sábado, 31 de outubro de 2009

Vitória X Corinthians (tudo muito estranho)

Depois de ouvir as mais diferenciadas resenhas de jornalistas, blogueiros, apresentadores de TV, jogadores e torcedores, a única coisa que posso dizer desse jogo é que foi um jogo muito estranho. A vibe que emanava no Barradão estava estranha. O Corinthians e sua torcida têm uma energia estranha da porra. Sai pra lá.

Uma semana antes do jogo, perguntei ao meu sobrinho jogador do infantil do Bahia (e torcedor do mesmo) se ele queria ir ao Barradão.
– Eu não... – respondeu ele.
Estava traumatizado. Esse ano foi duas vezes ao Barradão e nas duas viu o Vitória ganhar. Uma a zero no Grêmio e seis a dois no Santos.
– É contra o Corinthians, Ronaldo vem – insisti. – Indo pra Pituaçu, quando você vai ver um jogo desse? – perguntei.
Ele não soube responder e disse que iria.

Dentro do estádio ele me disse que viu Ronaldo no Fazendão:
– O cara é gordão e ele treina com um uniforme diferente de todos os outros jogadores... – se impressionou.

Um torcedor do meu lado talvez também tenha culpa na vibe negativa. Uma hora antes da partida começar ele já tava dizendo que Leandrão era uma merda.
– E você queria quem? Roger? – perguntou o do seu lado.
– Claro, bem melhor que Leandrão. Leandrão é uma merda, você vai ver.

E foi o primeiro tempo mais xumbrega desse ano no Barradão. O Corinthians inteligentemente entrou respeitando o Vitória enquanto o Vitória, erroneamente, entrou respeitando o Corinthians. Nem nos jogos do Campeonato Baiano, onde o Vitória é obrigado a jogar com times pequenos como Camaçari, Juazeiro, Bahia e Itabuna, teve um primeiro tempo assim. Jogo estranho da porra. Ronaldo ainda saiu reclamando do gramado. Gordo feito um porco gordo, não percebeu que era ele quem fazia os buracos ao pastar pelo campo, apesar de sabermos que porcos não pastam, chafurdam. Zero a zero.

E o segundo tempo começou e a energia estranha permanecia. O baixo astral ia e voltava, da torcida pro gramado, do gramado pra torcida. Negócio estranho da porra. Apesar do Corinthians ter vindo pra empatar, o Vitória parecia zonzo em campo. Até Viáfara estava falhando. Tudo foi muito estranho. Aos 21 minutos a zaga do Vitória se estranhou e deixou o argentino entrar sozinho e fazer um a zero. Placar que permaneceu até o fim graças a Roger, que entrou no lugar de Leandrão e perdeu um gol imperdível aos 49 minutos.
– Se fosse Leandrão fazia – gritou um torcedor.

E graças também aos árbitros que anularam um gol legítimo e não marcaram
pênalti(s) legítimo(s) a favor do Vitória. Era a primeira partida do senhor Márcio Chagas da Silva (RS) na primeira divisão. Muito estranho.
Ele ainda é considerado pelo comentarista de árbitro da Globo o melhor árbitro do Campeonato gaúcho de 2009. Muito estranho. Ou não.

Como diz um amigo meu:
– Com o juiz do lado, até o Bahia ganha.
Se bem que nem sei...

Para ver o vídeo do jogo, clique aqui.

E finalmente, depois de oito meses de espera, recebi a camisa oficial do time que foi prometida junto com a compra do Sou Mais Vitória. Fui buscar no Barradão na quinta-feira, um dia depois do jogo estranho.
– É no departamento de marketing – me disse o segurança.
Bati na porta e entrei. A sala era bem pequena:
– Vim buscar a camisa...
– Posso ver sua carteirinha? – me perguntou o cara que estava atrás de um laptop.
Ele pegou e me mandou segui-lo. Entramos em outra salinha com uma série de camisas espalhadas.
– Escolha a que você quiser: manga longa, manga curta, a vermelha e preta, a branca, a comemorativa... – disse ele.
Olhei todas e perguntei:
– Tem alguma sem o patrocínio?
Ele pensou um pouco e disse que não.
Camisa feia da porra. Não entendo (e como torcedor não admito) como a merda da marca de um patrocinador tenha mais peso que o ESCUDO do time. Departamento de Marketing estranho da porra. Se a marca da Insinuante tem que aparecer junto com outras cinco, que se contrate então um design profissional pra balancear as coisas, principalmente as cores. Da forma que está, o uniforme não carrega nenhuma identidade consigo e isso, de uma forma ou de outra, interfere no gramado. Sem identidade, ninguém respeita. Se um estrangeiro ver o time do Vitória na televisão não vai saber o que é escudo e o que é patrocinador. Camisa feia da porra. Comentei isso com o cara do departamento de marketing mas acho que ele achou que eu tava falando mal do Vitória e ficou meio pirado, tentando defender com argumentos esdrúxulos o porquê daquele carnaval de cores e símbolos na camisa, dizendo que aquilo era o certo. As cores da Insinuante ainda são vermelho e verde, e verde todos sabem que é a junção do amarelo com azul, e quem tem azul no uniforme é o time da putaquepariu.
Vou comprar uma televisão nova e só por isso vou na Ricardo Elektro que ainda divide em 17 vezes.

– Tem a camisa de Viáfara? – perguntei.
Ele riu com prazer, ao dizer que não. Que foi a primeira a acabar.
– E a de Apodi?
Ele riu de novo:
– Foi a segunda a acabar.

Esse diálogo bateu certinho com a pesquisa do IPEM para saber quem era o ídolo do Vitória no ano de 2009. O resultado foi:
1º Viáfara.
2º Apodi.
3º Paulo Carneiro.

– Tem a de Ramon, a de Vanderson, a de Uélinton, Roger, Leandrinho? – perguntei uma por uma e ele foi se regozijando ao dizer que todas tinham acabado.
Departamento de marketing estranho da porra.

– Essas camisas estão sendo distribuídas desde o mês passado, você tem que acompanhar o site do Sou Mais Vitória... Se acompanhasse iria saber e iria encontrar todas essas que pediu.

Então me responda Departamento de Marketing:
POR QUE PORRA VOCÊS PEDEM NOSSO E-MAIL NA FICHA DE INSCRIÇÃO?

Imagino que seria pra mandar:
“Caro associado rubro-negro, a camisa que prometemos no início do Campeonato Baiano, que chegaria em sua casa pelo Correio e até hoje, oito meses depois, ainda não entregamos já está disponível. É só vir ao Barradão em horário comercial e retirar a sua”.

Mas não é assim que funciona. O associado do Sou Mais Otário tem que ficar ligando, perguntando, se humilhando, entrando no site, pra conseguir saber das coisas. DEPARTAMENTO DE MARKETING ESTRANHO DA PORRA.

A minha camisa oficial, que acho feia pra caralho, mais feia que o jogo Vitória X Corinthians, mais feia que os travecos que Ronaldo pegou, está à venda. Na loja oficial ela custa R$129. Dê seu preço e venha buscar. Tamanho G.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Vitória X Náutico (o de cima sobe, o de baixo desce)

O Náutico estava na zona de rebaixamento, o que o colocava como um adversário perigoso pro Vitória, já que nesse ano o time deu mole sempre com os de baixo: Sport, Fluminense, Santo André... O único de baixo que ele brocou esse ano foi o Bahia.

Apodi não jogaria. O que para muitos era um bom motivo. O ídolo anda sem moral. Os gols sofridos pelo seu lado irritaram os seus súditos.
– Vai ser bom pra ele, pra amadurecer – disse um torcedor de óculos escuros e bigodinho.
E Nino Paraíba, que entrou no seu lugar, já chegou amadurecido e acertou um cruzamento certeiro na cabeça de Ramon. Seria o primeiro gol se o goleiro do Náutico não tivesse defendido. Na jogada seguinte, em uma arrancada digna de Apodi de jogos atrás, Nino sofreu um pênalti:
– Quem vai bater? – perguntei.
– Roger – responderam dois ao mesmo tempo.
“Vai Roger, vai Roger, vai Roger...”, torcia os rubro negros enquanto ele ia pra bola. Mas quem foi na bola foi o goleiro do Náutico. Depois que a ficha do pênalti perdido caiu, os gritos subiram:
– POOOOORRA, quem tem que bater essa merda é Ramon, porra...
– Isso é por causa da artilharia, essa disgrama...
– Tomar no c... essa porra de artilharia...
Nisso o torcedor tá certo. Se o jogo tiver três a zero ou até mesmo dois a zero, tudo bem, pensa-se na artilharia, mas no zero a zero, não, tem de pensar nos três pontos. Pênalti tem de ser Ramon.

O Vitória continuou tentando e Nino Paraíba quase fez um, em um chute de fora da área. O grito pode mudar pra “Ei, Paraíba, faz um gol pra sua torcida”.
Zero a zero. Fim do primeiro tempo.
Um a zero pro Náutico, início do segundo tempo.
Mantendo sua cota de gols no início ou no fim das etapas, o Vitória sofreu um gol logo aos dois minutos.

– Agora que esse cara vai mudar? Por que não mudou nos vestiários, porra? – perguntou o de bigode a Mancini.
Logo após as alterações, Ramon foi protagonista de uma das melhores imagens da rodada. Sofreu uma falta dura, caiu cinematograficamente, sofreu no chão e quando viu que o que te atacou foi expulso, tirou o sofrimento da cara, levantou na hora e pediu pela bola, pois precisava jogar pra empatar o jogo. Incrível como ele não erra um passe. E aos 17, numa jogada que começou dos seus pés (como quase todas), a bola parou nos pés de Nino que outra vez cruzou na medida, dessa vez pra Leandrão, que acabara de entrar. De cabeça, um a um.
“Agora vai virar”, pensei. E aos 36, num cruzamento do “velhinho” Jackson, que também acabara de entrar, Leandrão desviou e fez o segundo gol dele no jogo, virando pra dois a um.
– Ele vai fazer três e vai pedir a música do Fantástico – gritou o de bigode.
Ele não fez o terceiro, mas o Vitória fez. Nos gols mais bonitos da rodada, nenhuma emissora colocou ele, o que foi um erro absurdo. Na lista estavam os gols de:
1) Pet, do Flamengo.
2) Perea, do Grêmio.
3) Arce, do Sport.
Os três realmente fizeram gols bonitos, mas o gol do Vitória foi bonito não pela jogada final, e sim pelo conjunto da obra, pela troca de passes que começou numa ingênua cobrança de lateral, foi passando de um pra outro em toques rápidos até chegar em Berola, que deu um nó desconcertante no marcador e tocou pro velhinho que se aproximava. Jackson, três a um Vitória. Veja vídeo aqui. E gol bonito (e gol olímpico no Palmeiras) Pet aprendeu todo mundo sabe aonde.

domingo, 11 de outubro de 2009

Vitória X Flamengo (empate xumbrega)

Na manhã da quarta-feira (dia do jogo), às seis e meia, passando pelo Farol da Barra vi um ônibus de turista com torcedores do Flamengo tirando fotos do ambiente. Imagino ser um grupo que acabara de chegar de qualquer cidade do interior do Nordeste e/ou adjacências. No Barradão, hoje o estádio mais temido do Brasileirão, os turistas do Flamengo, querendo comprovar que um dia pisaram naquele imponente santuário, também não paravam de tirar fotos. Se for procurar no Orkut, vai ter um monte de foto com legendas como “Ontem eu e meu primo Beto, no jogão do Flamengo contra o Vitória” ou “É, nóis no Barradão”.

Cheguei cedo e fui pro lugar que costumo ficar. Sentei e percebi que estava cercado de turistas do Flamengo. Pra não ouvir de perto aquela música constrangedora que eles cantam em cima de uma melodia do Mamonas Assassinas, deixei a superstição de lado e fui pro outro lado do estádio.

Do outro lado só tinha rubro-negro legítimo, que por todos os cantos enxotavam os turistas do Flamengo de lá, os mandando pro outro lado do estádio. Quer ir pro jogo com a camisa do time rival, tudo bem, mas que fique junto com os seus. Um amigo que foi comigo, quando voltou do banheiro disse que encontrou dois amigos dele, turistas do Flamengo, que compraram cadeira e foram expulsos de lá, pois estavam com a camisa do time. “Eu, eu, eu, caiu na Toca se f...”.

Estádio lotado. “Ei, Apodi, faz um gol aí pra mim”, gritavam em uníssono os torcedores do Vitória, que mais tarde o crucificariam por ter tentado, por duas vezes, fazer o gol, quando era pra ter cruzado. O Flamengo não tomava gol a seis jogos e aos 13 minutos do primeiro tempo fazia mais um; num contra-ataque, a bola sobrou pro maluco lá de cabelinho estranho: um a zero Flamengo. As caravanas deliraram.

– O Vitória tem que empatar logo – gritou um torcedor.
Ramon ouviu o que ele disse e logo em seguida bateu o escanteio na cabeça de Roger. Um a um.

Mas logo depois, falta pro Flamengo e Gléguer não botou fé em Pet e só colocou um ser humano na barreira. Como Pet aprendeu no Vitória, colocou a bola pelo único espaço aberto. Pareceu um frango, mas foi apenas ingenuidade.
– Esse Gléguer é uma merda, nunca confiei nele – gritou um do meu lado.
Dois a um e explosão eufórica no espaço reservado para os genéricos.
– O Vitória tem que empatar logo, de novo – disse aquele mesmo torcedor, de novo.

E Ramon, de novo, ouviu o que ele disse e pegou a bola pra bater uma falta na entrada da área. Bruno até botou fé e entupiu a barreira de gente, mas não adiantou. Golaço. Depois do gol Bruno ainda ficou parado por VINTE E OITO SEGUNDOS, tentando entender o que aconteceu. Veja CLICANDO AQUI. Dois a dois.

– Agora o Vitória tem que virar logo – disse aquele torcedor.
Ramon, comprovando a boa fase e a boa audição, num contra-ataque fulminante recebeu um passe com carinho e com afeto de Gláucio e fez três a dois Vitória.

Lembrei de um jogo no Barradão, em meados dos anos 90, um ano depois de Ramon nos deixar, quando um torcedor disse “ai, que saudade de Ramon”. Quase 15 anos depois, aos 37 anos, ele continua o mesmo atleta.

O Flamengo não tomava gols a seis jogos, mas bastou um primeiro tempo no Barradão pra tomar três. “Eu, eu, eu , caiu na Toca se f...”, gritavam os rubro-negros originais.

O segundo tempo foi mais morno, com o juiz e o Flamengo tentando e o Vitória contra-atacando. Numa cobrança de falta, Pet não levou fé em Gléguer e colocou a bola no cantinho, mas Gléguer dessa vez estava ligado e fez uma defesa espetacular. “Uh, é paredão, o goleiro do Leão”, gritava a torcida, inclusive o torcedor do meu lado que mais cedo o crucificou.

– Quanto tempo tem? – perguntou um.
– Quarenta – respondi.
– Bora, Vitória – disse ele.

Depois de um tempo, olhei pro relógio mais uma vez. Quarenta e quatro. “Bora, Vitória”, pensei. Mas aos quarenta e seis, as caravanas comemoraram. Num cruzamento a bola sobrou limpa pra Zé Roberto só empurrar.
– Se fosse Viáfara ele se antecipava – gritou o torcedor.

Se o empate em três a três com o Cruzeiro teve sabor de triunfo, o empate em três a três com o Flamengo foi o inverso. Os turistas do Flamengo foram à loucura, o que é até aceitável, pois empatar com o Vitória no Barradão deve ser motivo de alegria pra qualquer time.