Na quinta-série me candidatei a líder de sala. A função de um líder de sala é, sobretudo, a de ser um exemplo para o resto da classe. Se possível, um CDF. Só com o tempo, no meio do ano, a professora do SOE se deu conta no erro que foi minha eleição. Eu era do fundão. O ano é 1990 e antes dos caras-pintadas de 1992, eu sofri o primeiro impecheament da década. As CDFs da frente foram reclamar que eu não podia seguir como líder de nada. Filava aula, pescava nas provas, perdia as matérias, conversava o tempo todo...
– Quem concorda que ele deve ser deposto do cargo? – perguntou a professora do SOE.
Noventa por cento da sala levantou a mão.
– Vamos ter outra eleição pra líder – finalizou ela. – Quem se candidata?
Eu fui o primeiro a levantar a mão.
A professora riu. As CDFs protestaram. A professora disse:
– Vivemos em uma democracia. Ele pode se candidatar, sim, cabe a sala votar com consciência. A eleição é na próxima terça.
Passei a semana em campanha. Consegui alguns eleitores de volta e o resultado foi empate com uma CDF. Em terceiro lugar um outro estudioso. Pra desempatar, a professora perguntou a turma toda:
– Quem vocês preferem?
A CDF ganhou. Os eleitores do estudioso aderiram a ela.
Perdi o cargo, mas na quinta série, aos 10 anos de idade, aprendi o que é democracia. E que com ela tudo flui muito melhor.
Hoje, com mais de um século de vida, tá na hora do Vitória aprender isso também.
Daqui a um mês, no dia 09/12/10 teremos eleição no clube e o Vitória será o primeiro clube do Nordeste onde o sócio-torcedor poderá votar. Porém, a diretoria não tá muito a fim de divulgar esse direito, mas Franciel, um torcedor do fundão, fuçou as coisas e criou o movimento Somos Mais Vitória, onde os associados se cadastram para juntos reivindicar, como torcedores, o poder de decisão nas escolhas que o clube fará na gestão que vem aí. Acesse www.somosmaisvitoria.com.br e faça sua parte. É seu direito e também seu dever.
P.S: Muitos blogs de torcedores do Vitória aderiram a essa causa hoje. Segundo Franciel, é um blogaço. Alguns deles:
Se liga torcida! - Fábio Monteiro
Por Um Vitória Forte - Larisssa Dantas
É hora do torcedor fazer história - Franciel Cruz
Eleições no Vitória terá a participação da torcida - Dalmo Carrera
Por um Leão mais forte! - Rogério Silveira
terça-feira, 9 de novembro de 2010
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Vitória X Vasco (uma vez freguês, sempre freguês)
Minha mulher tá jogando pesado contra minhas idas ao Barradão nesse ano de 2010. Usa nosso filho de 10 meses como centro-avante.
– Se você for pro jogo, vai perder de ver ele dando risada no pula-pula... – diz ela.
– Mas nesse o jogo eu tenho de ir...
– Por quê?
– O time precisa de mim.
O time precisava que os torcedores fossem ao estádio no jogo contra o Vasco. O momento é delicado, a torcida tinha de ir. E, como sempre, fez sua parte e foi, mas os responsáveis pelo circo, como sempre, também fizeram a parte dele. VA TOMAR NO CU DO CARALHO DA DISGRAMA DA PUTA QUE PARIU DA CARNIÇA... POR QUE, MEU DEUS, QUE TODO JOGO PRA ENTRAR NO BARRADÃO É PRECISO SE FUDER?
A diretoria do clube está humilhando o seu torcedor com esse tratamento completamente amador e, sobretudo, irresponsável. Idosos e crianças, no sol de 15h, de um feriadão, presos, esmagados numa fila cercados por concreto, só pra poder torcer pelo time que ele gosta. Era pra ter um tapete vermelho pra recepcionar cada torcedor ao invés de poucos funcionários despreparados. Deviam dizer “entrem, meus queridos, sem vocês não somos nada, sejam bem vindos” e não espremê-los e barra-los porque eles erraram de portão graças a desorganização da diretoria.
Um amigo meu disse “o problema é que eles sabem que somos um povo pacífico, sabem que aqui a massa tem medo de se descontrolar...”. Ainda assim, filmo essas cenas sempre atento a uma possível explosão violenta. Do jeito sucessivo que o torcedor do Vitória tá sendo tratado no Barradão, infelizmente a qualquer momento algo grava vai acontecer.
Gil, um amigo meu vascaíno, foi comigo. Quando o Vasco ganha do Vitória, o que é muito raro, Gil fica todo serelepe, mandando e-mails irônicos, apenas menos humilhantes que a entrada do Barradão.
– Se seu Vitorinha perder ou até mesmo empatar esse jogo, pode desistir, já era... – dizia ele, irritante e ainda confiante.
Pegamos o engarrafamento habitual e já fora do carro, indo em direção ao estádio, um a zero Vitória. Adailton.
Gil, nervoso, se pôs a colocar o seu fone de ouvido. Parecia que precisava de uma comprovação da rádio para saber de fato que a humilhação já estava começando.
– Você vai entrar mesmo? – perguntou Marcelo, outro amigo meu (esse rubro-negro).
– Vou, Vasco é Vasco – disse Gil, confiante numa virada.
Entramos no estádio depois de 15 minutos. Gil foi pra sua torcida, eu e Marcelo fomos pra nossa e o Vitória, mesmo vencendo, foi pra cima do Vasco. Num corte simples e eficaz, Elkerson deixou um vascaíno no chão, ficou de frente pro gol, chutou, o goleiro do Vasco achou que dava pra deixar a mão mole, mas estava enganado. Dois a zero.
“Vasco é Vasco”, lembrei da frase de Gil.
A torcida do Vitória cantava. Trinta e quatro mil vozes colocando seu time pra frente. Queria mais, pois só ganhar o jogo não bastava. Era preciso ganhar a auto estima. A fase final no campeonato vai ser das mais difíceis.
Filmando a torcida vibrando, não vi nem pude registrar o terceiro gol do Vitória. Neto Coruja. Três a zero no primeiro tempo.
– Hoje vai ser cinco a um – dizia um torcedor do meu lado, com cinco bolas de soprar na mão.
De longe, com a câmera, procurei Gil na torcida do Vasco, mas não o encontrei.
Segundo tempo começou e o Vasco, sem mais nada a perder, foi pra cima. Perdeu duas chances de gols seguidas, com Viáfara fazendo seu milagre diário, mas na terceira tentativa, em menos de cinco minutos, o Vasco fez um golzinho. Cobrança de falta, jogada ensaiada, meio xumbrega, o cara veio de trás, cabeceou e gol. Procurei Gil de novo pra ver se o flagrava em um momento de felicidade, mas de novo não o encontrei. Após o gol, o Vasco ganhou fôlego e continuo indo pra cima.
– Se tomar o segundo, fudeu – dizia uma torcedora gordinha atrás de mim.
Mas goleada boa é assim. O time faz três a zero, o outro faz um, pensa que vai dar, mais aí toma o quarto. Junior. Passe peculiar de Elkerson e chute certeiro de Junior. Quatro a um.
No final, o Vasquinho fez um gol de falta, mas nem os jogadores, nem o técnico e nem o resto dos vascaínos arrombados que ainda estavam no estádio comemoraram. Gil também não comemorou, disse-me ele depois do jogo.
Para ver o vídeo de quase tudo que foi dito acima, clique aqui*.
Fim de semana que vem o jogo é contra o Cruzeiro. Após vencer o jogo contra minha esposa, estarei lá. Que a organização pra entrar no estádio também esteja.
___________________
*Vídeo em processo de upload.
– Se você for pro jogo, vai perder de ver ele dando risada no pula-pula... – diz ela.
– Mas nesse o jogo eu tenho de ir...
– Por quê?
– O time precisa de mim.
O time precisava que os torcedores fossem ao estádio no jogo contra o Vasco. O momento é delicado, a torcida tinha de ir. E, como sempre, fez sua parte e foi, mas os responsáveis pelo circo, como sempre, também fizeram a parte dele. VA TOMAR NO CU DO CARALHO DA DISGRAMA DA PUTA QUE PARIU DA CARNIÇA... POR QUE, MEU DEUS, QUE TODO JOGO PRA ENTRAR NO BARRADÃO É PRECISO SE FUDER?
A diretoria do clube está humilhando o seu torcedor com esse tratamento completamente amador e, sobretudo, irresponsável. Idosos e crianças, no sol de 15h, de um feriadão, presos, esmagados numa fila cercados por concreto, só pra poder torcer pelo time que ele gosta. Era pra ter um tapete vermelho pra recepcionar cada torcedor ao invés de poucos funcionários despreparados. Deviam dizer “entrem, meus queridos, sem vocês não somos nada, sejam bem vindos” e não espremê-los e barra-los porque eles erraram de portão graças a desorganização da diretoria.
Um amigo meu disse “o problema é que eles sabem que somos um povo pacífico, sabem que aqui a massa tem medo de se descontrolar...”. Ainda assim, filmo essas cenas sempre atento a uma possível explosão violenta. Do jeito sucessivo que o torcedor do Vitória tá sendo tratado no Barradão, infelizmente a qualquer momento algo grava vai acontecer.
Gil, um amigo meu vascaíno, foi comigo. Quando o Vasco ganha do Vitória, o que é muito raro, Gil fica todo serelepe, mandando e-mails irônicos, apenas menos humilhantes que a entrada do Barradão.
– Se seu Vitorinha perder ou até mesmo empatar esse jogo, pode desistir, já era... – dizia ele, irritante e ainda confiante.
Pegamos o engarrafamento habitual e já fora do carro, indo em direção ao estádio, um a zero Vitória. Adailton.
Gil, nervoso, se pôs a colocar o seu fone de ouvido. Parecia que precisava de uma comprovação da rádio para saber de fato que a humilhação já estava começando.
– Você vai entrar mesmo? – perguntou Marcelo, outro amigo meu (esse rubro-negro).
– Vou, Vasco é Vasco – disse Gil, confiante numa virada.
Entramos no estádio depois de 15 minutos. Gil foi pra sua torcida, eu e Marcelo fomos pra nossa e o Vitória, mesmo vencendo, foi pra cima do Vasco. Num corte simples e eficaz, Elkerson deixou um vascaíno no chão, ficou de frente pro gol, chutou, o goleiro do Vasco achou que dava pra deixar a mão mole, mas estava enganado. Dois a zero.
“Vasco é Vasco”, lembrei da frase de Gil.
A torcida do Vitória cantava. Trinta e quatro mil vozes colocando seu time pra frente. Queria mais, pois só ganhar o jogo não bastava. Era preciso ganhar a auto estima. A fase final no campeonato vai ser das mais difíceis.
Filmando a torcida vibrando, não vi nem pude registrar o terceiro gol do Vitória. Neto Coruja. Três a zero no primeiro tempo.
– Hoje vai ser cinco a um – dizia um torcedor do meu lado, com cinco bolas de soprar na mão.
De longe, com a câmera, procurei Gil na torcida do Vasco, mas não o encontrei.
Segundo tempo começou e o Vasco, sem mais nada a perder, foi pra cima. Perdeu duas chances de gols seguidas, com Viáfara fazendo seu milagre diário, mas na terceira tentativa, em menos de cinco minutos, o Vasco fez um golzinho. Cobrança de falta, jogada ensaiada, meio xumbrega, o cara veio de trás, cabeceou e gol. Procurei Gil de novo pra ver se o flagrava em um momento de felicidade, mas de novo não o encontrei. Após o gol, o Vasco ganhou fôlego e continuo indo pra cima.
– Se tomar o segundo, fudeu – dizia uma torcedora gordinha atrás de mim.
Mas goleada boa é assim. O time faz três a zero, o outro faz um, pensa que vai dar, mais aí toma o quarto. Junior. Passe peculiar de Elkerson e chute certeiro de Junior. Quatro a um.
No final, o Vasquinho fez um gol de falta, mas nem os jogadores, nem o técnico e nem o resto dos vascaínos arrombados que ainda estavam no estádio comemoraram. Gil também não comemorou, disse-me ele depois do jogo.
Para ver o vídeo de quase tudo que foi dito acima, clique aqui*.
Fim de semana que vem o jogo é contra o Cruzeiro. Após vencer o jogo contra minha esposa, estarei lá. Que a organização pra entrar no estádio também esteja.
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*Vídeo em processo de upload.
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Vitória X Avaí (que aqui virou Jaguaribe)
Desde antes do jogo contra o Santos, na final da Copa do Brasil, que não posto nem vídeo nem texto. Nem fiz crônica pra aquela final...
Tenho ido pouco ao Barradão. Fui nos empates xumbregas contra Guarani e Inter e na derrota bizarra contra o Fluminense. Nada disso merecia um vídeo ou um texto.
Sobre a final contra o Santos, um amigo meu disse que no prédio dele, quando o Santos fez o gol, que parecia que ia desabar, tamanho a comemoração e gritos por parte da torcida do Bahia. No fim do jogo e no dia seguinte, comemoravam como um título. Achei até que iriam colocar uma estrela no escudo por causa dessa conquista.
O Esporte Clube Bahia, que outrora já fora um time com uma torcida alegre e leve, hoje tem nela pessoas desesperadas, amarguradas e sem esperança. Vendo meus amigos tricolores, percebo uma desilusão em seus olhos. Leio os textos dos blogs deles e vejo apenas nostalgia. “Ah, como era bom naquele tempo, quando eu tinha cinco anos...”, dizem os textos. Ninguém os vence em melancolia.
Enquanto uns ficam na segunda colocação, outros ficam na segunda divisão.
Não iria ao jogo pois meu filho passou o dia anterior todo gripado. Às 21 horas, minha mulher disse:
- Ele ta melhor. Você ta aí todo ansioso... Vá logo pra esse jogo.
Sai de casa às 21:10 e cheguei ao Barradão às 21:35. Nenhum engarrafamento. Todo mundo já estava dentro do estádio. Chuva da porra! Por causa dele não pude filmar o Vitória indo pra cima do Santos com fome de leão. Devorou e ganhou o jogo. Não ganhou o título, mas não perdeu a honra.
Quanto ao jornal Correio, senhores, a grande verdade é que o único vice da Bahia é o próprio, pois, em toda a sua história, nunca chegou a superar o jornal A TARDE, ficando sempre em segundo lugar. O Vitória, pelo menos, nos últimos 20 anos, vem esmagando o seu rival sucessivamente.
Fui na última vitória do Vitória contra o Avaí. A entrada do Sou Mais Vitória continua a mesma merda de sempre. Inacreditável e lamentável como uma diretoria pode errar nesses pormenores.
Para ver o vídeo do jogo contra o Avaí e a bagunça do Sou Mais Otário, clique aqui.
Em tempo: Nesse meio tempo, Franciel - victoriaquaeseratamen.wordpress.com - criou o movimento Somos Mais Vitória. Acesse, se cadastre e participe. AGORA.
Tenho ido pouco ao Barradão. Fui nos empates xumbregas contra Guarani e Inter e na derrota bizarra contra o Fluminense. Nada disso merecia um vídeo ou um texto.
Sobre a final contra o Santos, um amigo meu disse que no prédio dele, quando o Santos fez o gol, que parecia que ia desabar, tamanho a comemoração e gritos por parte da torcida do Bahia. No fim do jogo e no dia seguinte, comemoravam como um título. Achei até que iriam colocar uma estrela no escudo por causa dessa conquista.
O Esporte Clube Bahia, que outrora já fora um time com uma torcida alegre e leve, hoje tem nela pessoas desesperadas, amarguradas e sem esperança. Vendo meus amigos tricolores, percebo uma desilusão em seus olhos. Leio os textos dos blogs deles e vejo apenas nostalgia. “Ah, como era bom naquele tempo, quando eu tinha cinco anos...”, dizem os textos. Ninguém os vence em melancolia.
Enquanto uns ficam na segunda colocação, outros ficam na segunda divisão.
Não iria ao jogo pois meu filho passou o dia anterior todo gripado. Às 21 horas, minha mulher disse:
- Ele ta melhor. Você ta aí todo ansioso... Vá logo pra esse jogo.
Sai de casa às 21:10 e cheguei ao Barradão às 21:35. Nenhum engarrafamento. Todo mundo já estava dentro do estádio. Chuva da porra! Por causa dele não pude filmar o Vitória indo pra cima do Santos com fome de leão. Devorou e ganhou o jogo. Não ganhou o título, mas não perdeu a honra.
Quanto ao jornal Correio, senhores, a grande verdade é que o único vice da Bahia é o próprio, pois, em toda a sua história, nunca chegou a superar o jornal A TARDE, ficando sempre em segundo lugar. O Vitória, pelo menos, nos últimos 20 anos, vem esmagando o seu rival sucessivamente.
Fui na última vitória do Vitória contra o Avaí. A entrada do Sou Mais Vitória continua a mesma merda de sempre. Inacreditável e lamentável como uma diretoria pode errar nesses pormenores.
Para ver o vídeo do jogo contra o Avaí e a bagunça do Sou Mais Otário, clique aqui.
Em tempo: Nesse meio tempo, Franciel - victoriaquaeseratamen.wordpress.com - criou o movimento Somos Mais Vitória. Acesse, se cadastre e participe. AGORA.
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Vitória x Botafogo (grandes merdas)
Eu nem iria pra esse jogo. Além de ser um domingo chuvoso, eu estava querendo guardar minhas forças e minha concentração para o jogo contra o Santos, na final da Copa do Brasil. Porém, fui convidado pela equipe que está fazendo uns mini documentários sobre as torcidas da Série A – www.brasileiraopetrobras.com.br - para dar depoimentos sobre o Vitória. Gravamos na sexta, no sábado e, pra fechar a coisa, pediram para que eu também fosse ao Barradão no domingo. Minha mulher ficou pirada...
O Vitória tomou um gol quando estava jogando bem, mas pelo menos empatou um minuto depois. O problema é que no minuto seguinte tomou outro gol... E no fim, mais um.
Fiquei mais pirado que minha mulher. Nem eu nem o time estávamos ali. Nem filmar muitos lances eu pude por causa da chuva intensa.
Para ver o vídeo da partida, sem direito aos gols, clique aqui.
O Vitória tomou um gol quando estava jogando bem, mas pelo menos empatou um minuto depois. O problema é que no minuto seguinte tomou outro gol... E no fim, mais um.
Fiquei mais pirado que minha mulher. Nem eu nem o time estávamos ali. Nem filmar muitos lances eu pude por causa da chuva intensa.
Para ver o vídeo da partida, sem direito aos gols, clique aqui.
sábado, 24 de julho de 2010
Vitória X Goiás (Leão x leoa)
Jogo quarta-feira, às 19:30, é de lascar. A Federação Baiana de Futebol deveria intervir. Chegar pra CBF e dizer que isso é inadmissível. Que jogos como esse prejudicam o torcedor, principal elemento do futebol e, consequentemente, o time. Dizer pra CBF que Salvador está crescendo, porém, para dentro. Aliás, não tá crescendo, ta inchando. Em breve ela irá implodir. Aumentou a quantidade de prédios e carros, mas as ruas continuam do mesmo tamanho. Saí do meu trabalho, na Barra, às 18:30 em ponto, achando, ingenuamente, que chegaria ao Barradão no início do primeiro tempo, por volta dos dez minutos de jogo. Mas peguei engarrafamento na Centenário, no Dique, na Bonocô, na Paralela... Sempre no modo Vitória-Bahia-Vitória-Bahia (primeira-segunda-primeira-segunda) Que porra! Sem falar nos buracos por todo o trajeto. Um amigo meu, Zeca, rubro-negro, uma vez indo ao jogo comentou:
– A NASA antes de mandar o próximo robô pra Marte vai mandar ele pra Salvador, para poder treinar obstáculos nas ruas daqui.
Sempre que estou na arquibancada do Barradão, ouço um “fuéééééééééénnnnn” vindo lá de cima durante os jogos. Ao entrar no estádio para o jogo contra o Goiás, pela primeira vez vi de onde o “fuéééén” vinha e quem era o responsável pela vuvuzela: duas buzinas duplas acionadas por dois cilindros de oxigênio. Mesmo atrasado, parei pra registrar. O barulho de perto é ensurdecedor, mas o dono da coisa (que age por conta própria) disse que não usa protetor de ouvido. Recomendei a ele que passasse em qualquer casa de material de construção e que comprasse um. Custa apenas dois reais e pode salvar a audição dele. Ele disse que ia pensar no caso.
O tempo já marcava 30 minutos do primeiro tempo e desci para as arquibancadas para ver o jogo. No meio da escada, gol do Goiás. Um a zero. Que porra! Terminei de descer, fui no banheiro, mijei e quando saí, encontrei meu pai, que me esperava. Gol do Goiás. Dois a zero. Que porra!
A torcida ficou impaciente. Qualquer toque errado era motivo pra xingar todas as gerações dos jogadores. Discordo dessa reação por parte da torcida do Vitória. Apesar de eu estar apreensivo com os dois gols, sabia que estávamos em casa, que ainda estava no primeiro tempo e que uma reação rubro-negra seria muito provável e até normal. A torcida nervosa e reclamando horrores por causa de um lateral mal cobrado não ajuda em nada.
Junior, coitado, era o mais cobrado. Fora de ritmo, errava passes e não acompanhava as jogadas. A torcida, que esquece facilmente de seus heróis, não queria saber. Pau nele. Mas Junior quase fez o gol de empate, num chutaço de fora da área que explodiu no travessão. Passaria de bandido a vilão em minutos e cairia nas graças da arquibancada. Mas ele não fez. Acredito que o erro foi ele ter começado jogando. Schwenck tá em ótima fase, era pra ser o titular, e Junior, pra pegar ritmo, era pra ter entrado no segundo tempo.
Mas Elkeson estava em campo e, aos 44, depois de receber a bola de Junior, fez um cruzamento caprichado, coisa de quem tem visão diferenciada, colocando a bola na cabeça de Ricardo Conceição. Primeiro gol do Vitória no jogo e primeiro gol dele no Vitória. Dois a um. Fim de primeiro tempo. Aplausos para o time. Uns otários ainda vaiaram.
O segundo tempo começou com o Vitória em cima. Queria o gol de empate. Quase veio com Fernando, numa cobrança de falta sensacional que o goleiro do Goiás defendeu.
Aos 15 minutos de jogo, mais vaias. Ricardo Silva tirou Elkeson do jogo, colocando Schwenck. Fernando também saiu entrando Soares em seu lugar. Agora eram três atacantes.
Aos 25, mais vaias. Dessa vez pro FDP do juiz. Nino sofreu uma falta violenta que o tirou de campo e, possivelmente, da primeira final da Copa do Brasil, mas o deficiente visual do Péricles Bassols Pegado Cortez mandou o jogo seguir.
Schwenck entrou bem no jogo, mas esbarrava no goleiro do Goiás e nos passes errados de Junior. O jogo estava chegando ao fim.
– O Goiás beliscar três pontos aqui é de lascar, viu? – comentei com meu pai.
Justamente nessa hora, Ramon marcou um golaço. Os dois meninos que estavam na minha frente pulavam de alegria. Não viram que o gol tinha sido anulado. Eu que dei a notícia.
– Não valeu, foi anulado – disse pra eles, que se viraram pro campo pra comprovar.
Enquanto os jogadores do Vitória protestavam, rebobinei a fita pra ver o lance. Soares estava impedido e atrapalhou o goleiro do Goiás. Que porra, Soares.
O Goiás continuou tentando nos contra ataques que não deram em nada, fazendo Viáfara recolocar a bola em jogo com extrema rapidez.
– Bora, Vitória, que ainda dá tempo – gritou um torcedor do meu lado.
– Falta quanto? – perguntei pra meu pai.
– Já está nos acrécimos.
E Viáfara pegou a bola e deu um chutão pra frente. O jogador do Goiás foi cabecear de volta, mas sem querer deu um belo passe pra Soares. Se redimiu legal do impedimento de três minutos atrás. Avançou com a bola, chegou na entrada da área e chutou. Dois a dois. Empate com gosto de vitória. Os dois meninos da frente comemoraram mais do que no gol anulado. Só fiquei filmando, pensando “podem comemorar, esse valeu”. Enquanto isso, lá do alto do estádio: FUÉÉÉÉÉÉÉNNNN...
E no final, como todos já viram, o Leão genérico, com raivinha por causa do show de garra do Leão original, quis também dar o seu show. Um paspalho que deve ser execrado do futebol. O Goiás, com certeza, tem crianças na sua torcida, e o técnico, naquela idade, fazer um papelão daqueles, chega a ser mais ridículo que o time do Bahia. Lamentável.
Para ver o vídeo da partida, assim como o show da leoa de Goiás, clique aqui.
– A NASA antes de mandar o próximo robô pra Marte vai mandar ele pra Salvador, para poder treinar obstáculos nas ruas daqui.
Sempre que estou na arquibancada do Barradão, ouço um “fuéééééééééénnnnn” vindo lá de cima durante os jogos. Ao entrar no estádio para o jogo contra o Goiás, pela primeira vez vi de onde o “fuéééén” vinha e quem era o responsável pela vuvuzela: duas buzinas duplas acionadas por dois cilindros de oxigênio. Mesmo atrasado, parei pra registrar. O barulho de perto é ensurdecedor, mas o dono da coisa (que age por conta própria) disse que não usa protetor de ouvido. Recomendei a ele que passasse em qualquer casa de material de construção e que comprasse um. Custa apenas dois reais e pode salvar a audição dele. Ele disse que ia pensar no caso.
O tempo já marcava 30 minutos do primeiro tempo e desci para as arquibancadas para ver o jogo. No meio da escada, gol do Goiás. Um a zero. Que porra! Terminei de descer, fui no banheiro, mijei e quando saí, encontrei meu pai, que me esperava. Gol do Goiás. Dois a zero. Que porra!
A torcida ficou impaciente. Qualquer toque errado era motivo pra xingar todas as gerações dos jogadores. Discordo dessa reação por parte da torcida do Vitória. Apesar de eu estar apreensivo com os dois gols, sabia que estávamos em casa, que ainda estava no primeiro tempo e que uma reação rubro-negra seria muito provável e até normal. A torcida nervosa e reclamando horrores por causa de um lateral mal cobrado não ajuda em nada.
Junior, coitado, era o mais cobrado. Fora de ritmo, errava passes e não acompanhava as jogadas. A torcida, que esquece facilmente de seus heróis, não queria saber. Pau nele. Mas Junior quase fez o gol de empate, num chutaço de fora da área que explodiu no travessão. Passaria de bandido a vilão em minutos e cairia nas graças da arquibancada. Mas ele não fez. Acredito que o erro foi ele ter começado jogando. Schwenck tá em ótima fase, era pra ser o titular, e Junior, pra pegar ritmo, era pra ter entrado no segundo tempo.
Mas Elkeson estava em campo e, aos 44, depois de receber a bola de Junior, fez um cruzamento caprichado, coisa de quem tem visão diferenciada, colocando a bola na cabeça de Ricardo Conceição. Primeiro gol do Vitória no jogo e primeiro gol dele no Vitória. Dois a um. Fim de primeiro tempo. Aplausos para o time. Uns otários ainda vaiaram.
O segundo tempo começou com o Vitória em cima. Queria o gol de empate. Quase veio com Fernando, numa cobrança de falta sensacional que o goleiro do Goiás defendeu.
Aos 15 minutos de jogo, mais vaias. Ricardo Silva tirou Elkeson do jogo, colocando Schwenck. Fernando também saiu entrando Soares em seu lugar. Agora eram três atacantes.
Aos 25, mais vaias. Dessa vez pro FDP do juiz. Nino sofreu uma falta violenta que o tirou de campo e, possivelmente, da primeira final da Copa do Brasil, mas o deficiente visual do Péricles Bassols Pegado Cortez mandou o jogo seguir.
Schwenck entrou bem no jogo, mas esbarrava no goleiro do Goiás e nos passes errados de Junior. O jogo estava chegando ao fim.
– O Goiás beliscar três pontos aqui é de lascar, viu? – comentei com meu pai.
Justamente nessa hora, Ramon marcou um golaço. Os dois meninos que estavam na minha frente pulavam de alegria. Não viram que o gol tinha sido anulado. Eu que dei a notícia.
– Não valeu, foi anulado – disse pra eles, que se viraram pro campo pra comprovar.
Enquanto os jogadores do Vitória protestavam, rebobinei a fita pra ver o lance. Soares estava impedido e atrapalhou o goleiro do Goiás. Que porra, Soares.
O Goiás continuou tentando nos contra ataques que não deram em nada, fazendo Viáfara recolocar a bola em jogo com extrema rapidez.
– Bora, Vitória, que ainda dá tempo – gritou um torcedor do meu lado.
– Falta quanto? – perguntei pra meu pai.
– Já está nos acrécimos.
E Viáfara pegou a bola e deu um chutão pra frente. O jogador do Goiás foi cabecear de volta, mas sem querer deu um belo passe pra Soares. Se redimiu legal do impedimento de três minutos atrás. Avançou com a bola, chegou na entrada da área e chutou. Dois a dois. Empate com gosto de vitória. Os dois meninos da frente comemoraram mais do que no gol anulado. Só fiquei filmando, pensando “podem comemorar, esse valeu”. Enquanto isso, lá do alto do estádio: FUÉÉÉÉÉÉÉNNNN...
E no final, como todos já viram, o Leão genérico, com raivinha por causa do show de garra do Leão original, quis também dar o seu show. Um paspalho que deve ser execrado do futebol. O Goiás, com certeza, tem crianças na sua torcida, e o técnico, naquela idade, fazer um papelão daqueles, chega a ser mais ridículo que o time do Bahia. Lamentável.
Para ver o vídeo da partida, assim como o show da leoa de Goiás, clique aqui.
segunda-feira, 19 de julho de 2010
Vitória X São Paulo (bye, bye, tabu)
Freqüento regularmente o Vale do Capão, na Chapada Diamantina e, desde que fui lá pela primeira vez, nos idos dos anos 90, fico hospedado no Sempre Viva, um camping-pousada de propriedade de Lili. Lili é nativo do Vale e, além da pousada, também é dono de um mercadinho, de um restaurante, de terrenos e diversos outros negócios. E, como a maioria dos moradores da região, assim como do interior de todo o estado da Bahia, ele não torce nem pro finado Bahia nem pro Vitória.
– Como a imagem que chega aqui vem da parabólica, só captamos o sinal do Rio e de São Paulo, daí nunca vemos os jogos da dupla baiana – justifica ele, que é são-paulino.
Em 2008, ano da volta do Vitória para a primeira divisão do Brasileirão, eu estava indo pra todos os jogos e o time não havia perdido nenhuma partida no Barradão. Até que chegou o jogo contra o São Paulo e eu não pude ir por motivo de força maior. Um cantor do Rio de Janeiro chamado Baia iria se apresentar em Salvador e, pra economizar os custos, viria sem banda, usando músicos locais. Fui escalado pra ser o baterista e um dos ensaios foi justamente no horário do jogo. O Vitória perdeu o jogo e a invencibilidade em casa.
Em 2009 eu estava indo pra todos os jogos e o time não havia perdido nenhuma partida no Barradão. Até que chegou o jogo contra o São Paulo e eu não pude ir por motivo de força maior. Trabalhava numa agencia de propaganda e a equipe de criação teve de trabalhar o fim de semana todo para finalizar uma campanha. Passei o domingo na agencia, ouvindo o jogo pela rádio, ao lado de diversos infelizes torcedores do Bahia. O Vitória perdeu o jogo e a invencibilidade em casa.
Em 2010 eu estava indo pra todos os jogos e o time não havia perdido nenhuma partida no Barradão. Até que chegaria o jogo contra o São Paulo e, mais uma vez, eu não poderia ir por motivo de força maior, pois no mesmo final de semana teria a travessia de Juazeiro, pelo circuito baiano de maratonas aquáticas, nadando pelo rio São Francisco. Há anos que essa travessia não entrava no calendário, mas também há nove anos que o Vitória não ganhava do São Paulo. O último triunfo, por ironia do destino, foi quando Ricardo Gomes, atual técnico do São Paulo, era o técnico do Vitória. O placar foi o acachapante cinco a um. Quando vi que a data da travessia se chocaria com a do jogo contra o São Paulo, optei pelo futebol.
Fui com alguns amigos e fora do estádio, outra ironia. O candidato a deputado federal Juliano Matos distribuía panfletos para os torcedores, fazendo a rua ficar imunda com sua cara sorridente pelo chão. Aí vem a chuva, esses panfletos vão entupir os bueiros, vai alagar tudo e vai ser aquela imundice e aquele caos... A ironia é que esse candidato é do PV (Partido Verde).
Entrei no estádio e percebi uma pequena confusão formada, graças à novidade do Barradão. O setor para a torcida adversária agora tem uma entrada separada e isolada, isso para evitar o confronto direto entre torcedores desordeiros e, principalmente, para que o Vitória possa cobrar preços diferenciados, o que acho coerente. O cara vem torcer contra e paga a mesma coisa? Nada. Não gostou? Não venha. Mas aconteceu que alguns são-paulinos compraram ingressos “normais”, entrando pelas catracas “normais” e, quando viram que não poderiam ir para a sua torcida, tiveram de ser fortemente protegidos pela policia.
– Rá, rá, rá, se descer vai apanhar – gritavam os rubro-negros para os são-paulinos, que olhavam assustados para baixo.
Levar mulher pra estádio é sempre complicado. Ali é um lugar que naturalmente os ânimos já estão exaltados. E levar mulher pra estádio que vai vestida de periguete é pedir pra ser escaldado. Um cara, sem camisa de time, levou a namorada que chegou com duas jabulanis querendo saltar pra fora do pequeno decote e com uma calça colada também com duas jabulanis traseiras querendo pular pra fora. Os rubro-negros esqueceram um pouco os de cima e passaram a gritar “gostosa, gostosa, gostosa”. O cara ficou naquela de “peraí, galera, tá comigo, que é isso?”. A jabulosa e o desavisado saíram de cena e o “rá, rá, rá, se descer vai apanhar”, voltou.
A polícia, evitando que algo violento acontecesse, finalmente deixou que eles entrassem no curral – apelido dado pela torcida do Vitória para a passarela por onde os torcedores adversários passam – mesmo pagando menos, o que irritou muitos rubro-negros.
– Se fosse lá em São Paulo ou a gente voltava pra casa sem ver o jogo ou ia ter de tirar a camisa e ver o jogo com a torcida local, ficando quieto, sem torcer – disse um torcedor puto da vida.
Enquanto os visitantes desfilavam pela passarela, ouviam o coro “au, au, au, vai passar pelo curral”.
Nos posicionamos colado com a torcida adversária. O jogo começou e o Vitória já começou dizendo quem é que mandava ali.
– Bora, Vitória, que dessa vez eu to aqui – moleculava eu, da arquibancada.
E o Vitória tentou com chute de fora da área, de dentro da área, até que num cruzamento primoroso de Egídio, Elkeson pensou mais rápido que o zagueiro paulista e fez um a zero pro Vitória, de cabeça. Rogério Ceni nem se mexeu.
O rubro-negro continuo com fome de gol, mas não marcou. Já o São Paulo, no único vacilo do Vitória, empatou o jogo. Hernanes tabelou com Jean que chutou no canto de Viáfara. Um a um. Os tricolores paulistas e baianos deliraram com o empate.
Mas mesmo com o gol sofrido, o Vitória continuou mandando no jogo e teve chances de ampliar o placar, mas o primeiro tempo terminou um a um.
Depois do intervalo, os dois times voltaram pro campo e Rogério Ceni dessa vez ficaria perto de sua torcida.
“Puta que pariu, é o melhor goleiro do Brasil”, gritavam eles, se esquecendo que o melhor goleiro do Brasil estava do outro lado do gramado.
O segundo tempo começou e o Vitória, de novo, começou mostrando quem é que mandava naquele santuário ali. Logo aos dois minutos de jogo, em outro cruzamento rpimoro de Egídio, Schwenck cabeceou e o goleiro mais chato do Brasil ficou retadinho com o gol sofrido. Dois a um Vitória.
Filmando a cabisbaixa torcida do São Paulo avistei um pobre torcedor do defunto, colado no alambrado. Não ter time pra torcer deve ser uma merda mesmo. Apontei minha filmadora pra ele e fui em sua direção. Ele não percebeu que eu me aproximava. Enquanto eu chegava perto, um torcedor do São Paulo mandou ele vestir uma camisa do São Paulo por cima.
“Com essa urucubaca de time de segunda divisão você vai dar azar”, deve ter pensado o são-paulino, com razão. Cheguei perto dele e quando ele me viu filmando, eu disse:
– O Bahia tá acabado.
A torcida do finado tá muito nervosinha. O cara enlouqueceu.
– Va se fuder, tomar no cu, sou bi...
Ui, ui, ele é bi. E como eu já disse aqui, não tenho preconceito, mas sou hétero.
Logo depois, aos 12 minutos, após uma triangulação mortal entre Schwenck, Elkeson e Ramon, a bola sobrou redondinha pra este último. Rogério Ceni pensou que ele ia mandar a bola pra cá, mas Ramon mandou pra lá... Três a um.
– Esse jogo vai ser cinco a um de novo, esse jogo vai ser cinco a um de novo – gritava um torcedor do meu lado.
O São Paulo veio pra cima e até conseguiu um golzinho muxoxo, mas nada que preocupasse.
Já no fim do jogo, com os tricolores em silencio e sem força, dentro e fora do campo, ouvi alguém gritando:
– Ô, rapaz.
Olhei pra torcida do São Paulo e percebi que era pra mim. Era Lili. Nunca o tinha visto fora do Vale. Queria ter dado um abraço nele, mas o alambrado e a policial colada nele não deixariam. Tinha uma parte rasgada e nos demos a mão.
– Cadê, você, nunca mais foi no Capão – disse ele.
– Porra, Lili, é verdade, é que meu filho nasceu e vou ter de esperar ele crescer um pouquinho pra ir...
Ficamos conversando amenidades e nos despedimos. Mas antes, eu perguntei:
– E você saiu de lá do Capão pra ver o São Paulo perder, hein?
– Porra, com esse juiz aí... – se desculpou ele, sem perceber que o Vitória ganhou porque, talvez, de repente, dessa vez eu fui, e porque, com certeza, Nino Paraíba (esse cara é foda), Elkeson (esse também), Ramon (esse também), Viáfara (o melhor goleiro do Brasil), Ricardo Conceição, Anderson Martins, Wallace, Egídio, Vanderson, Fernando, Schwenck, Neto Coruja, Renato e Renan Oliveira jogaram pra caralho.
Veja o vídeo da partida, com direito a faniquito do torcedor do Bahia, aqui.
– Como a imagem que chega aqui vem da parabólica, só captamos o sinal do Rio e de São Paulo, daí nunca vemos os jogos da dupla baiana – justifica ele, que é são-paulino.
Em 2008, ano da volta do Vitória para a primeira divisão do Brasileirão, eu estava indo pra todos os jogos e o time não havia perdido nenhuma partida no Barradão. Até que chegou o jogo contra o São Paulo e eu não pude ir por motivo de força maior. Um cantor do Rio de Janeiro chamado Baia iria se apresentar em Salvador e, pra economizar os custos, viria sem banda, usando músicos locais. Fui escalado pra ser o baterista e um dos ensaios foi justamente no horário do jogo. O Vitória perdeu o jogo e a invencibilidade em casa.
Em 2009 eu estava indo pra todos os jogos e o time não havia perdido nenhuma partida no Barradão. Até que chegou o jogo contra o São Paulo e eu não pude ir por motivo de força maior. Trabalhava numa agencia de propaganda e a equipe de criação teve de trabalhar o fim de semana todo para finalizar uma campanha. Passei o domingo na agencia, ouvindo o jogo pela rádio, ao lado de diversos infelizes torcedores do Bahia. O Vitória perdeu o jogo e a invencibilidade em casa.
Em 2010 eu estava indo pra todos os jogos e o time não havia perdido nenhuma partida no Barradão. Até que chegaria o jogo contra o São Paulo e, mais uma vez, eu não poderia ir por motivo de força maior, pois no mesmo final de semana teria a travessia de Juazeiro, pelo circuito baiano de maratonas aquáticas, nadando pelo rio São Francisco. Há anos que essa travessia não entrava no calendário, mas também há nove anos que o Vitória não ganhava do São Paulo. O último triunfo, por ironia do destino, foi quando Ricardo Gomes, atual técnico do São Paulo, era o técnico do Vitória. O placar foi o acachapante cinco a um. Quando vi que a data da travessia se chocaria com a do jogo contra o São Paulo, optei pelo futebol.
Fui com alguns amigos e fora do estádio, outra ironia. O candidato a deputado federal Juliano Matos distribuía panfletos para os torcedores, fazendo a rua ficar imunda com sua cara sorridente pelo chão. Aí vem a chuva, esses panfletos vão entupir os bueiros, vai alagar tudo e vai ser aquela imundice e aquele caos... A ironia é que esse candidato é do PV (Partido Verde).
Entrei no estádio e percebi uma pequena confusão formada, graças à novidade do Barradão. O setor para a torcida adversária agora tem uma entrada separada e isolada, isso para evitar o confronto direto entre torcedores desordeiros e, principalmente, para que o Vitória possa cobrar preços diferenciados, o que acho coerente. O cara vem torcer contra e paga a mesma coisa? Nada. Não gostou? Não venha. Mas aconteceu que alguns são-paulinos compraram ingressos “normais”, entrando pelas catracas “normais” e, quando viram que não poderiam ir para a sua torcida, tiveram de ser fortemente protegidos pela policia.
– Rá, rá, rá, se descer vai apanhar – gritavam os rubro-negros para os são-paulinos, que olhavam assustados para baixo.
Levar mulher pra estádio é sempre complicado. Ali é um lugar que naturalmente os ânimos já estão exaltados. E levar mulher pra estádio que vai vestida de periguete é pedir pra ser escaldado. Um cara, sem camisa de time, levou a namorada que chegou com duas jabulanis querendo saltar pra fora do pequeno decote e com uma calça colada também com duas jabulanis traseiras querendo pular pra fora. Os rubro-negros esqueceram um pouco os de cima e passaram a gritar “gostosa, gostosa, gostosa”. O cara ficou naquela de “peraí, galera, tá comigo, que é isso?”. A jabulosa e o desavisado saíram de cena e o “rá, rá, rá, se descer vai apanhar”, voltou.
A polícia, evitando que algo violento acontecesse, finalmente deixou que eles entrassem no curral – apelido dado pela torcida do Vitória para a passarela por onde os torcedores adversários passam – mesmo pagando menos, o que irritou muitos rubro-negros.
– Se fosse lá em São Paulo ou a gente voltava pra casa sem ver o jogo ou ia ter de tirar a camisa e ver o jogo com a torcida local, ficando quieto, sem torcer – disse um torcedor puto da vida.
Enquanto os visitantes desfilavam pela passarela, ouviam o coro “au, au, au, vai passar pelo curral”.
Nos posicionamos colado com a torcida adversária. O jogo começou e o Vitória já começou dizendo quem é que mandava ali.
– Bora, Vitória, que dessa vez eu to aqui – moleculava eu, da arquibancada.
E o Vitória tentou com chute de fora da área, de dentro da área, até que num cruzamento primoroso de Egídio, Elkeson pensou mais rápido que o zagueiro paulista e fez um a zero pro Vitória, de cabeça. Rogério Ceni nem se mexeu.
O rubro-negro continuo com fome de gol, mas não marcou. Já o São Paulo, no único vacilo do Vitória, empatou o jogo. Hernanes tabelou com Jean que chutou no canto de Viáfara. Um a um. Os tricolores paulistas e baianos deliraram com o empate.
Mas mesmo com o gol sofrido, o Vitória continuou mandando no jogo e teve chances de ampliar o placar, mas o primeiro tempo terminou um a um.
Depois do intervalo, os dois times voltaram pro campo e Rogério Ceni dessa vez ficaria perto de sua torcida.
“Puta que pariu, é o melhor goleiro do Brasil”, gritavam eles, se esquecendo que o melhor goleiro do Brasil estava do outro lado do gramado.
O segundo tempo começou e o Vitória, de novo, começou mostrando quem é que mandava naquele santuário ali. Logo aos dois minutos de jogo, em outro cruzamento rpimoro de Egídio, Schwenck cabeceou e o goleiro mais chato do Brasil ficou retadinho com o gol sofrido. Dois a um Vitória.
Filmando a cabisbaixa torcida do São Paulo avistei um pobre torcedor do defunto, colado no alambrado. Não ter time pra torcer deve ser uma merda mesmo. Apontei minha filmadora pra ele e fui em sua direção. Ele não percebeu que eu me aproximava. Enquanto eu chegava perto, um torcedor do São Paulo mandou ele vestir uma camisa do São Paulo por cima.
“Com essa urucubaca de time de segunda divisão você vai dar azar”, deve ter pensado o são-paulino, com razão. Cheguei perto dele e quando ele me viu filmando, eu disse:
– O Bahia tá acabado.
A torcida do finado tá muito nervosinha. O cara enlouqueceu.
– Va se fuder, tomar no cu, sou bi...
Ui, ui, ele é bi. E como eu já disse aqui, não tenho preconceito, mas sou hétero.
Logo depois, aos 12 minutos, após uma triangulação mortal entre Schwenck, Elkeson e Ramon, a bola sobrou redondinha pra este último. Rogério Ceni pensou que ele ia mandar a bola pra cá, mas Ramon mandou pra lá... Três a um.
– Esse jogo vai ser cinco a um de novo, esse jogo vai ser cinco a um de novo – gritava um torcedor do meu lado.
O São Paulo veio pra cima e até conseguiu um golzinho muxoxo, mas nada que preocupasse.
Já no fim do jogo, com os tricolores em silencio e sem força, dentro e fora do campo, ouvi alguém gritando:
– Ô, rapaz.
Olhei pra torcida do São Paulo e percebi que era pra mim. Era Lili. Nunca o tinha visto fora do Vale. Queria ter dado um abraço nele, mas o alambrado e a policial colada nele não deixariam. Tinha uma parte rasgada e nos demos a mão.
– Cadê, você, nunca mais foi no Capão – disse ele.
– Porra, Lili, é verdade, é que meu filho nasceu e vou ter de esperar ele crescer um pouquinho pra ir...
Ficamos conversando amenidades e nos despedimos. Mas antes, eu perguntei:
– E você saiu de lá do Capão pra ver o São Paulo perder, hein?
– Porra, com esse juiz aí... – se desculpou ele, sem perceber que o Vitória ganhou porque, talvez, de repente, dessa vez eu fui, e porque, com certeza, Nino Paraíba (esse cara é foda), Elkeson (esse também), Ramon (esse também), Viáfara (o melhor goleiro do Brasil), Ricardo Conceição, Anderson Martins, Wallace, Egídio, Vanderson, Fernando, Schwenck, Neto Coruja, Renato e Renan Oliveira jogaram pra caralho.
Veja o vídeo da partida, com direito a faniquito do torcedor do Bahia, aqui.
terça-feira, 8 de junho de 2010
Vitória X Atlético PR (filme novo de Xurec)
Saí tarde do trabalho, porém, já sabia que seria assim e por isso meu pai não quis ir comigo ao Barradão.
– Eu que não vou pra chegar lá no meio do primeiro tempo – disse ele.
Quem dera eu chegar no meio do primeiro tempo... Quando eu cheguei, os dois times já estavam dentro dos vestiários.
– Sorte sua, foi um dos piores “primeiro tempo” que eu já vi. O Vitória tá péssimo – me disse um torcedor.
O burburinho era sobre o meia Ramon, que estava mal, sem criar e sem marcar...
– Tá sem ritmo, parado há muito tempo – dizia um.
– Tá velho – dizia outro.
– Se tá sem ritmo ou se tá velho não importa, o que importa é que o Vitória tem de contratar jogador... E urgente – disse um terceiro.
Fui procurar um lugar pra ficar e filmar os lances quando me lembrei da senhora do jogo passado, contra o outro Atlético, o mineiro. A encontrei, porém, onde ela estava tinha muita gente e não conseguiria boas imagens. Desci mais e me posicionei na frente de um pai que estava com sua filha. Ele na faixa dos 45, ela na faixa dos 10.
– O Vitória tá horrível – disse ela, me dando as boas vindas.
Começou o segundo tempo. O Vitória horrível veio pra cima com vontade e quase marcou, mas num contra-ataque quase tomou um gol.
– Devia ter tomado, pra tomar vergonha e acordar – disse a torcedora mirim.
– Fale isso, não... Se fazer um gol tá difícil, imagine dois – disse eu pra ela.
Como estávamos perto do alambrado, ela descia, colava nele e voltava com informações, como se tivesse visto o jogo de um ângulo exclusivo.
– Ramon tá podre, tem que colocar Renan Oliveira e Schwenck. Será que ele não percebe que o ataque é Júnior e Schwenck?
Boa pergunta.
O tempo passava, o Vitória tentava, mas o jogo continuava empatado. Elkerson era o cara. Armava as jogadas, chutava, marcava, mas a bola não entrava. O empate seria um péssimo resultado em casa.
Do lado de lá, Viáfara fazia seus milagres de cada jogo, nos deixando pensar ás vezes que tinha coisas pior que um empate.
– Se fosse Vinícius era gol – disse o pai da menina.
Ricardo Silva resolveu mudar. Tirou Ramon e colocou Renan Oliveira. Na saída de campo, Ramon foi aplaudido, o que achei uma atitude inteligente da torcida, apesar de alguns (poucos) aloprados o vaiarem. O cara já salvou o time infinitas vezes, pode decidir qualquer jogo, mas ainda assim não é suficiente. Ele tá mal, sem ritmo, mas vaiar Ramon é, pra mim, lastimável.
Ricardo Silve resolveu mudar de novo e, finalmente, colocou Schwenck, autor de três dos quatro gols contra a galinha de Minas Gerais.
Resolvi também mudar e fui ficar atrás do gol do Atlético Paranaense, onde o goleiro Neto era xingado por todos pelas excessivas ceras que fazia. Pra bater um tiro de meta era uma lentidão da porra. E o sacana do juiz não fazia nada.
– Bate logo essa porra, seu filho de uma prostitua com um padre pedófilo – disse um.
Mas o Vitória teve uma falta a seu favor. A bola seria jogada na área. Elkerson bateu e no meio do empurra-empurra Schwenck subiu mais que o zagueiro baixinho que o marcava. Antes da bola entrar, um cara do meu lado disse “gol de Schwenck”. Profecia realizada. Vitória um a zero.
O goleiro atleticano chiou, brigou com a zaga, chutou a grama, a trave, ouviu foi coisa dos torcedores e passou a cobrar tiro de meta com uma velocidade inacreditável.
No final, o Atlético quase fez o gol de empate, o que seria um resultado deprimente, mas o melhor goleiro do Brasil estava em campo. É incrível o que esse cara consegue fazer. Antes de entrar em campo ainda deu uma entrevista de arrepiar:
– Viáfara, você que ficou de fora desses últimos jogos, quando você assiste as partidas você se envolve? – perguntou o repórter.
– Você tem que entender uma coisa: eu não sou só um atleta do Vitória; eu sou, sobretudo, um torcedor do Vitória – disse ele, com seu clássico sotaque.
Realmente é uma pena eu não filmar os feitos desse cara nos gramados.
Para ver o vídeo dessa partida clique aqui.
– Eu que não vou pra chegar lá no meio do primeiro tempo – disse ele.
Quem dera eu chegar no meio do primeiro tempo... Quando eu cheguei, os dois times já estavam dentro dos vestiários.
– Sorte sua, foi um dos piores “primeiro tempo” que eu já vi. O Vitória tá péssimo – me disse um torcedor.
O burburinho era sobre o meia Ramon, que estava mal, sem criar e sem marcar...
– Tá sem ritmo, parado há muito tempo – dizia um.
– Tá velho – dizia outro.
– Se tá sem ritmo ou se tá velho não importa, o que importa é que o Vitória tem de contratar jogador... E urgente – disse um terceiro.
Fui procurar um lugar pra ficar e filmar os lances quando me lembrei da senhora do jogo passado, contra o outro Atlético, o mineiro. A encontrei, porém, onde ela estava tinha muita gente e não conseguiria boas imagens. Desci mais e me posicionei na frente de um pai que estava com sua filha. Ele na faixa dos 45, ela na faixa dos 10.
– O Vitória tá horrível – disse ela, me dando as boas vindas.
Começou o segundo tempo. O Vitória horrível veio pra cima com vontade e quase marcou, mas num contra-ataque quase tomou um gol.
– Devia ter tomado, pra tomar vergonha e acordar – disse a torcedora mirim.
– Fale isso, não... Se fazer um gol tá difícil, imagine dois – disse eu pra ela.
Como estávamos perto do alambrado, ela descia, colava nele e voltava com informações, como se tivesse visto o jogo de um ângulo exclusivo.
– Ramon tá podre, tem que colocar Renan Oliveira e Schwenck. Será que ele não percebe que o ataque é Júnior e Schwenck?
Boa pergunta.
O tempo passava, o Vitória tentava, mas o jogo continuava empatado. Elkerson era o cara. Armava as jogadas, chutava, marcava, mas a bola não entrava. O empate seria um péssimo resultado em casa.
Do lado de lá, Viáfara fazia seus milagres de cada jogo, nos deixando pensar ás vezes que tinha coisas pior que um empate.
– Se fosse Vinícius era gol – disse o pai da menina.
Ricardo Silva resolveu mudar. Tirou Ramon e colocou Renan Oliveira. Na saída de campo, Ramon foi aplaudido, o que achei uma atitude inteligente da torcida, apesar de alguns (poucos) aloprados o vaiarem. O cara já salvou o time infinitas vezes, pode decidir qualquer jogo, mas ainda assim não é suficiente. Ele tá mal, sem ritmo, mas vaiar Ramon é, pra mim, lastimável.
Ricardo Silve resolveu mudar de novo e, finalmente, colocou Schwenck, autor de três dos quatro gols contra a galinha de Minas Gerais.
Resolvi também mudar e fui ficar atrás do gol do Atlético Paranaense, onde o goleiro Neto era xingado por todos pelas excessivas ceras que fazia. Pra bater um tiro de meta era uma lentidão da porra. E o sacana do juiz não fazia nada.
– Bate logo essa porra, seu filho de uma prostitua com um padre pedófilo – disse um.
Mas o Vitória teve uma falta a seu favor. A bola seria jogada na área. Elkerson bateu e no meio do empurra-empurra Schwenck subiu mais que o zagueiro baixinho que o marcava. Antes da bola entrar, um cara do meu lado disse “gol de Schwenck”. Profecia realizada. Vitória um a zero.
O goleiro atleticano chiou, brigou com a zaga, chutou a grama, a trave, ouviu foi coisa dos torcedores e passou a cobrar tiro de meta com uma velocidade inacreditável.
No final, o Atlético quase fez o gol de empate, o que seria um resultado deprimente, mas o melhor goleiro do Brasil estava em campo. É incrível o que esse cara consegue fazer. Antes de entrar em campo ainda deu uma entrevista de arrepiar:
– Viáfara, você que ficou de fora desses últimos jogos, quando você assiste as partidas você se envolve? – perguntou o repórter.
– Você tem que entender uma coisa: eu não sou só um atleta do Vitória; eu sou, sobretudo, um torcedor do Vitória – disse ele, com seu clássico sotaque.
Realmente é uma pena eu não filmar os feitos desse cara nos gramados.
Para ver o vídeo dessa partida clique aqui.
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