O segundo jogo que iria assistir no campeonato brasileiro de 2008. Meu pai pediu que eu não fosse.
– No último Vitória X Goiás que você foi, o Vitória estava dando 3 a 0 e no segundo tempo deixou virar pra 4 a 3 – advertiu ele, falando do jogo de 2003, quando eu entrei no Barradão exatamente no início do segundo tempo. Assumo a culpa.
– Mas dessa vez vou chegar cedo – respondi, confiante.
Comprei meu ingresso dois dias antes e, sem fila, entrei no estádio.
Pelo estádio, o comentário nas rodinhas de conversa era o tema “Bahia jogar no Barradão”. A maioria esmagadora era radicalmente contra. Mas acredito que o Vitória pode lucrar com isso, além do dinheiro do aluguel. Acredito que se houver melhorias significativas nos acessos ao estádio (e nos estacionamentos), feitas pela diretoria do Bahia, além de uma cláusula dizendo que “se bagunçar, não trago mais”, que a proposta pode ser conversada. Seria um investimento. O Bahia precisa de espaço pra que sua torcida vá, para que ele tenha lucro. Para ter lucro, precisa investir. E nós, torcedores do Vitória, poderemos lucrar com isso.
Para esse jogo, além do bom e velho papel e caneta, levei uma câmera para filmar alguns lances. Com medo de perder algum gol, filmei todos os escanteios, faltas e ataques do Vitória, que começou o jogo bastante sonolento.
– Ramon tá fora de forma – gritou um gordinho do meu lado.
Procurando um ângulo bom para filmar, me posicionei atrás do gol do Goiás.
Escanteio pro Vitória. Liguei a câmera. “Esse goleiro dá c..., viu?”, gritou um senhor do meu lado. Escanteio cobrado, a bola bateu em alguém, sobrou livre na pequena área pra Dinei e é Gol... GOOOOOOOO/ Não valeu. Não valeu. O árbitro invalidou o lance. Depois, na filmagem, o leitor poderá ver que o gol foi legal, pois a bola bateu no zagueiro do Goiás, sobrando livre pra Dinei.
O senhor do meu lado ficou puto e continuou a infernizar o goleiro do Goiás. Qualquer ataque do Vitória e ele dizia “é agora, viu, seu goleiro viado?”.
E aos 44 do primeiro tempo, Ramon cobrou a falta no cantinho. Na CAMÊRA EXCLUSIVA 1 o leitor poderá ver que a jogada foi ensaiada e executada com perfeição. Juntos da barreira do Goiás, o jogadores 7, 3 e 9 saíram da frente no momento exato pra bola passar, atrapalhando o goleiro, que teve de ouvir “eu lhe falei, eu lhe falei”.
1 X 0 pro Vitória.
Intervalo do primeiro tempo. Apesar do gol, a torcida continuou insatisfeita com Ramon. O gordinho citado acima, faixa dos 34, de bermuda e com uma camisa do Vitória bem apertada, gritava com muita raiva, para uma rodinha de cinco torcedores:
– Wagner Mancini que vá chupar uma p..., porra de experiência, Ramon tá acabado. Tá fora de forma...
Aí ele parava, respirava, e voltava a berrar:
– Caralho de buceta de porra de experiência é minha pica. O cara tá fudido, parece uma carniça.
Pensei “opa, vou filmar”. Apertei REC e pude comprovar o poder da câmera:
– O que você tava dizendo? – falei.
– Não, o que eu queria dizer é que o treinador tá um pouco equivocado escalando o meio campo com o atleta Ramon Menezes, pois, assistindo aos jogos, é nítido de que ele não se encontra em sua melhor forma física...
– Cadê a raiva, maluco? – perguntei.
A imagem ficou tão sem graça que nem postei.
Segundo tempo começou e o Vitória pareceu mais acordado, voltou ofensivo.
Fui pro outro lado do estádio para ficar sempre no lado do ataque rubro-negro e tentar assim o melhor ângulo de filmagem.
No primeiro minuto, Ramon quase faz o segundo e de novo de falta. Harlei defendeu.
O Goiás foi pra cima, mas, como foi dito no texto do jogo contra o Santos, a defesa do Vitória está bem montada. O Goiás até criou algumas jogadas, mas todas neutralizadas pelos zagueiros do Vitória, em especial, Anderson Martins, que passa o jogo todo concentrado.
Aos 10, Ramon cobrou outra falta perigosa e aos 15 minutos Pituca foi expulso, deixando o Goiás com 10 jogadores em campo.
Na moral, “Pituca” é foda.
Aos 23, Willians Santana, que já foi muito criticado pela torcida, saiu de campo muito aplaudido. Jackson entrou em seu lugar e o jogo ficou morno até os 30, quando Mancini tirou Ramon e colocou Ricardinho.
Marcelo, um amigo que vai sempre aos jogos comigo, comentou:
– Agora você vai ver o que é velocidade.
Aos 33, Ricardinho já puxou um contra-ataque rápido, mas o juiz marcou impedimento de Vanderson.
O Goiás passou a atacar mais e a torcida foi ficando nervosa. Ouvi um grito e reconheci a voz. Olhei e constatei que o gordinho-nervoso também mudou de lado no segundo tempo.
– Como é que tira Willians Santana? – gritou ele.
– Ele saiu machucado – respondeu um amigo dele.
– Machucado é minha p... – respondeu ele.
O jogo seguiu truncado até os 42, quando Ricardinho levou á sério a maior lei do futebol. A lei que é ensinada desde pequeno em qualquer escolinha de futebol, em qualquer baba de rua, a lei “abriu-chutou”.
Golaço. Veja aqui na CAMÊRA EXCLUSIVA 2.
Jogo acabando, dois a zero, e aos 45, o juiz disse que teria mais 4 minutos de jogo. Lembrei da virada do 4 X 3 e, ainda traumatizado, fiz uma promessa: “não filmo mais o jogo”. E assim perdi a chance de filmar o terceiro gol do Vitória, quando Dinei entrou sozinho, aos 46, exorcizando de vez o fantasma da virada do 4 a 3.
Na saída, o gordinho gritava:
– Tem que tirar Ramon, Marquinhos, Cordeiro, Renan...
Marcelo comentou comigo, num tom alto:
– Porra, o time dá 3 a 0 e o cara quer mudar o time todo.
O gordinho ouviu:
– 3 a 0 é minha p...
No dia seguinte, no passeio matinal de domingo, pela orla da Ondina, passei pelo Clube Espanhol e parei para ver o baba que acontecia. Um cara que ficava no ataque, reclamava de tudo e de todos. A bola nunca chegava nele. E quando chegava, ele fazia merda.
– Esses que reclamam no baba desse jeito são os que vão pro estádio ver um jogo e ficam reclamando dos jogadores... São uns merdas – disse um expectador, do meu lado.
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Um comentário:
Cra, muito bom texto. Nunca tinha visitado ente blog, mas como sou fanático pelo vitória e procuro ler tudo na internet que esteja ligado ao clube, acabei o encontrando.
Parabéns
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